terça-feira, 29 de janeiro de 2008

MULHERES PRIVILEGIADAS

Pesquisas recentes mostraram que no seculo XIX, no tempo em que a família real portuguesa veio para o Brasil, as mulheres da corte portuguesa eram belas os 18 anos, matronas aos 25, gordas e envelhecidas aos 30, idade em que já começavam a se achar feias e defasadas, vitimas da paralisia moral e espiritual. Os homens, estes não tinham muito cuidado com a aparência, a saúde e a higiene, de forma que a mesma farda que usavam para freqüentar os lugares de destaque da sociedade servia para ir à feira e á barbearia.
Hoje, a nossa sociedade é muito mais humanizada e desodorizada, de forma que dentro de pouco mais de um século conquistamos maravilhas em termos de saúde e qualidade de vida.
Com o combate às doenças e epidemias, aumentou a expectativa de vida e atualmente não só aquela balzaquiana de pouco mais de trinta anos é jovem e bela, mas igualmente mulheres bem mais velhas, isto porque todas estão aprendendo a cuidar da aparência e se valorizar como pessoas.
Mas o que agravava a situação das mulheres da corte era a sensação de inutilidade, a preguiça, o comodismo. Como não faziam nada, porque tinham muitas escravas à sua disposição, a falta de qualquer exercício físico as deixava fora de forma, preguiçosas, inúteis.
Assim, adoeciam e morriam cedo, mesmo porque era pouco o animo e nulos os objetivos, sabendo-se que s pessoas sem horizontes são presas fáceis da desesperança.
As mulheres de hoje são privilegiadas porque atuantes e dinâmicas, sabem que têm direito à felicidade e reconhecem a ação libertadora do trabalho, do estudo e do conhecimento. Vivem mais porque se cuidam mais, são mais felizes porque mais realizadas como pessoas que vêm logrando, a passos largos, posição de destaque na pauta das realizações sociais.
E desde que se encontrem também como seres espirituais, as representantes do sexo feminino podem evoluir e modificar pensamentos, idéias, planos para um mundo melhor, pois o atento e lúcido convívio com as realidades mais singulares as faz sensíveis par esse mister.

“Fátima Araújo”

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

POEMAS E POESIAS

Ponho e sobreponho
Os meus versos
Enigmas e segredos,revelo
Modifico e retifico minhas palavras
Apaixonadas
Secretas

Exprimo

Promovo
Os sentimento
Experimento
Simulo
Invento
Aprendo
São poemas e poesias... apenas

(Aglaure corrêa Martins)

NOSSA MISSÃO NA VIDA

Frequentemente, eu me pergunto: “O que cada um de nós está fazendo neste planeta? Se a vida for somente tentar aproveitar o máximo possível as horas e os minutos, esse filme é bobo. Tenho a certeza de que existe um sentido melhor em tudo o que vivemos. Para mim, a nossa vinda ao planeta Terra tem basicamente dois motivos: evoluir espiritualmente e aprender a amar melhor.”
Todos os nossos bens na verdade não são nossos. Somos apenas as nossas almas. E devemos aproveitar todas as oportunidades que a vida nos dá para nos aprimorarmos como pessoas.
Portanto, lembre sempre que os seus fracassos são sempre os melhores professores e é nos momentos difíceis que as pessoas precisam encontrar uma razão maior para continuar em frente. As nossas ações, especialmente quando temos de nos superar, fazem de nós pessoas melhores.
A nossa capacidade de resistência às tentações, aos desânimos para continuar o caminho é que nos tornam pessoas especiais. Ninguém veio a essa vida com a missão de juntar dinheiro e comer do bom e do melhor. Ganhar dinheiro e alimentar-se faz parte da vida, mas, não pode ser a razão da vida. Tenho a certeza de que pessoas como Martin Luther King, Mahatma Ghandi e tantas outras anônimas, que lutaram e lutam para melhorar a vida dos mais fracos e dos mais pobres, não estavam motivadas pela idéia de ganhar dinheiro. O que move essas pessoas generosas a trabalhar diariamente, a não desistir nunca? A resposta é uma só: a consciência da sua missão nesta vida. Quando você tem a consciência de que através do seu trabalho você está realizando a sua missão você desenvolve uma força extra, capaz de levá-lo ao cume da montanha mais alta do planeta. Infelizmente, muita gente se perde nesta viagem e distorce o sentido da sua existência pensando que acumular bens materiais é o objetivo da vida. E quando chega no final do caminho percebe que o caixão não tem gavetas e que ela só vai poder levar daqui o bem que fez às pessoas. Se você tem estado angustiado sem motivo aparente está aí, um aviso para parar e refletir sobre o seu estilo de vida. Escute a sua alma: ela tem a orientação sobre qual caminho seguir. Tudo na vida é um convite para o avanço e a conquista de valores, na harmonia e na glória do bem.

‘Roberto Shinyashiki’

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Vocês são só amigos?

Dizer que não existe amizade entre homem e mulher já virou um chavão. Quem assistiu o filme “Harry e Sally” deve lembrar que logo no começo, quando ele se encontra com ela, diz que não acredita na amizade entre homem e mulher: rolou, vai rolar ou existe a intenção.

Segundo a psicanálise, nossos encontros amorosos e eróticos, na verdade, são desencontros existenciais. A amizade é uma forma de amor. Segundo o sociólogo italiano Francesco Alberoni, uma forte característica da amizade é não deixar espaço para o ódio. Se odeio um amigo já não sou seu amigo, a amizade terminou.

Quando duas pessoas do sexo oposto se conhecem, é natural que aconteça a atração sexual. No entanto, quando já no início um deles ou ambos percebem que a pessoa não se enquadra no perfil desejado para um relacionamento, instantaneamente acontece um esfriamento. Outra situação comum é quando não existe atração física, mas descobrem mil afinidades. Em ambos os casos, é possível surgir uma amizade sem “outros” interesses, sim!

As características mais marcantes da amizade são a cumplicidade, o sentir-se bem junto ao outro, saber que pode contar com ele nos momentos difíceis, inclusive dividir questões de intimidade, palavras de carinho e apoio quando se está emocionalmente abalado.

Muitos dos nossos amigos íntimos vem do tempo da adolescência. Colegas de escola ou amigos dos irmãos com os quais mantemos uma relação próxima, mesmo quando ficamos algum tempo sem nos ver.

Se todos conhecemos casos de amizade verdadeira entre homens e mulheres porque é que continuamos a duvidar que isso seja possível?

Sabemos que a sociedade mudou. O universo feminino abriu a discussão na área familiar e reivindica um tratamento igualitário na sociedade, enquanto os homens lidam melhor com as suas questões emocionais. Mas, ainda existe uma certa pressão para que constituam um casal, principalmente, quando estão sempre juntos e se dão bem.

Ocorre que, às vezes, o entendimento é tão maravilhoso e a pressão é tão intensa que, ambos ficam confusos com relação aos seus sentimentos e sentem a necessidade de justificar para si e para os outros que existe uma relação fraterna.

A sociedade é engraçada: quando um homem e uma mulher são vistos juntos com uma certa frequência, a tendência é tentar empurrar um para os braços do outro. Piadinhas, indiretas e diretas: “Vocês se entendem tão bem, por que não tentam um relacionamento?” - “Vocês são só amigos?”
Quando um homem é visto com frequência com outro homem, logo surgem comentários de que podem ter um caso. O mesmo acontece no caso de duas amigas que não se largam.

A cada dia que passa mais homens e mulheres experimentam a amizade em preto e branco. Saem para jantar e bater papo até altas horas. Vão ao cinema sem precisar ficar se agarrando no meio do filme. Dançam juntos a noite toda, sem pintar um clima.

Será que vale a pena ficar se importando com o que outros pensam?

Marlene Heuser

Vila do Sossego

Oh, eu não sei se eram os antigos que diziam
Eu seus papiros Papillon já me dizia
Que nas torturas toda carne se trai
E normalmente, comumente, fatalmente, felizmente
Displicentemente o nervo se contrai
Ô, ô, ô, ô, com precisão!

Nos aviões que vomitavam pára-quedas
Nas casamatas, casas vivas caso morras
E nos delírios, meus grilos temer
O casamento, o rompimento, o sacramento, o documento
Como um passatempo quero mais te ver
Ô, ô, ô, ô, com aflição!

Meu treponema não é pálido nem viscoso
Os meus gametas se agrupam no meu som
E as querubinas meninas rever
Um compromisso submisso, rebuliço no cortiço
Chame o Padre Ciço para me benzer
Ô, ô, ô, ô, com devoção!

Zé Ramalho

Vencedor e Perdedor.

O vencedor é sempre parte da solução;
O perdedor é sempre parte do problema;

O vencedor sempre tem um plano;
O perdedor sempre tem uma desculpa;

O vencedor diz: "deixe-me ajudá-lo";
O perdedor diz: "este não é o meu trabalho";

O vencedor vê uma resposta para todo problema;
O perdedor vê um problema em toda resposta;

O vencedor vê sempre uma luz no meio da escuridão;
O perdedor vê sempre escuridão no meio de toda luz;

O vencedor diz: "é difícil mas é possível';
O perdedor diz: 'pode ser possível mas é muito difícil'.

POR TUDO ISSO, SEJA UM VENCEDOR!!!

Último pau-de-arara / Bomba de estrelas / Banquete de Signos

Nem toda nota é um tom
Nem toda luz é acesa
Nem todo belo é beleza
Nem toda pele é vison
Nem toda bala é bombom
Nem todo gato é do mato
Nem todo quieto é pacato
Nem todo mal é varrido

Nem toda estrada é caminho
Nem todo trilho é do trem
Nem todo longe é além
Nem toda ponta é espinho
Nem todo beijo é carinho
Nem todo talho é um corte
Nem toda estrela é do norte
Nem todo beijo é carinho

Nem todo rei é bondoso
Nem todo rico é feliz
Nem todo chão é país
Nem todo sangue é honroso
Nem todo grande é famoso
Nem todo sonho é visão
Nem todo pique é ação
Nem todo mundo é planeta
Nem todo sonho é visão
Nem todo mundo é planeta

Discutir o cangaço com liberdade
É saber da viola, da violência
Descobrir nos cabelos inocência
É saber da fatal fertilidade
Descobrir a cidade na natureza
Descobrir a beleza dessa mulher
Descobrir o que der boniteza
Na peleja do homem que vier... quando vier

Descobrir no bagaço dos engenhos
No melaço da cana mais um beijo
Descobrir os desejos que não têm cura
Saracura do brejo na novena
Descobrir a serena da natureza
Descobrir a beleza dessa mulher
Descobrir o que der boniteza
Na peleja do homem que vier... quando vier

Zé Ramalho, Corumbá, Venâncio, José Guimarães, Jorge Mautner

Tensão Pré-Menstrual

Existem mais de 200 sintomas relacionados com a TPM (Tensão Pré-Menstrual). As causas ainda não são totalmente conhecidas, mas as mulheres que sofrem com a tensão pré-menstrual (e, certamente, os homens que vivem com elas) esperam ansiosos para que a Medicina descubra uma solução para este sindroma.
Os médicos acreditam que a TPM resulte de uma interação entre dois hormônios femininos, o estrógeno e a progesterona, e um mensageiro químico cerebral, o neurotransmissor serotonina. Algumas mulheres são mais suscetíveis do que outras às mudanças hormonais que acontecem no período pré-mestrual. Novas pesquisas sugerem, ainda, que um outro neurotransmissor, o ácido gama-aminobutírico ou GABa, também pode estar envolvido no processo. Esse mensageiro químico tem um efeito calmante e a sua produção é estimulada pelos subprodutos da progesterona.
Quando os níveis desse hormônio começam a cair, no final do ciclo, algumas mulheres se sentem mis irritadas e ansiosas.
Há também indícios de que são mais propensas a sofrer com a tensão pré-menstrual as mulheres que tiveram depressão depois do parto ou em alguma época da vida, ou cujas mães e irmãs apresentem o problema.
O estresse piora significativamente o desconforto, que pode ser físico (inchaço, seios doloridos, intestino preso, sensação de peso nas pernas) e psicológico (tensão, irritação, cansaço e depressão). As orientações mais comuns são:
Pelo menos quinze dias antes da menstruação, deve-se evitar o consumo excessivo de sal. Como ele favorece a retenção de líquidos, aumenta a ocorrência de inchaço, uma das queixas mais comuns.
Não abusar de bebidas que contém cafeína, como chã preto, mate e café, um estimulante do sistema nervoso central que aumenta a excitação e a irritabilidade.
Ingerir doces e chocolates com moderação porque o açúcar desequilibra a libertação de serotonina, substancia relacionada ao em estar, e isso pode afetar o humor.
Fazer exercícios físicos, principalmente os aeróbicos, como natação e caminhada, que combatem o inchaço e estimulam a libertação de endorfina, substancia que age como analgésico natural.

Táxi-lunar

Ela me deu o seu amor / Eu tomei
No dia 16 de maio / Viajei
Espaçonave atropelado / Procurei
O meu amor aperriado

Apenas apanhei na beira-mar
Um táxi pra estação lunar

Bela linda criatura / Bonita
Nem menina nem mulher
Tem espelho no seu rosto / De neve
Nem menina nem mulher

Apenas apanhei na beira-mar
Um táxi pra estação lunar

Pela sua cabeleira / Vermelha
Pelos raios desse sol / Lilás
Pelo fogo do seu corpo / Centelha
Belos raios desse sol

Apenas apanhei na beira-mar
Um táxi pra estação lunar

Zé Ramalho, Alceu Valença, Geraldo Azevedo

Enciclopédia Maçônica

Estamos no ano de 2000, a sorte foi lançada, ainda estão aguardando a receptividade por parte dos maçons brasileiros. Era o número 1 da revista “Enciclopédia Maçônica”, uma revista igual ou semelhante às demais existentes no campo da cultura maçônica. Ela teria uma um finalidade: divulgar a maçonaria fora de seus domínios; isto é fora do mundo maçônico, que abrange um universo de 170 mil maçons. Por que? Depois de 30 anos de estudos e pesquisas, achamos que , ao sermos combatidos, xingados, odiados, excomungados por pessoas que nada entendem de maçonaria; que nada sabem de nossa História, de nossa Filosofia, de nossos princípios, precisávamos fazer alguma coisa, inusitado no campo da maçonaria, isto é, um órgão Maçônico ao alcance de todas a pessoas interessadas.
A Maçonaria só possui três segredos, que não são Satânicos e nem mortais, são apenas os segredos dos reconhecimentos maçônicos – sinais – toques e palavras, são apenas os segredos que hoje muitos estudiosos são expertos. Fora desses 3 segredos, não há nenhum segredo que não possa ser revelado.Para esclarecimento inicial, devemos dizer que a revista estará apresentando em suas páginas, além de trabalhos versando sobre história, filosofia, ética e simbologia maçônicas. A resista terá um fórum de debates, para tratar dos assuntos mais polêmicos, sendo os mesmos de inteira responsabilidade dos debatedores.
A idéia desta Enciclopédia Maçônica surgiu no primeiro encontro do Instituto Brasileiro de Pesquisas e Estudos Maçônicos “Fernando Salles Pascoal, realizado em Londrina-PR em 1999.
Sua diretoria: Antonio do Carmo Ferreira * Francisco de Assis Carvalho(Xico Trolha)* Hermes Elias de Moura * Arando Egidio Bianco * Anselmo Falcão de Arruda * José Carlos Pacheco *Octacílio Schüller Sobrinho. Foi dividido, o território brasileiro, em regiões com um representante. Redator Chefe: Xico Trolha (de saudosa memória). Nesse primeiro número foram os colaboradores, uma plêiade de irmãos escritores maçônicos e imortais acadêmicos, alguns no oriente eterno como o caso dos irmãos: Carlos Neves, Breno Trautwein Morivalde Calvet Fagundes, e os vivos fazem parte da lista de colaboradores o Astaphai (editor e escritor dessa coluna), Alci Bruno, Pe. Valério Alberton, Pe. Aloísio Guerra, Frederico Guilherme Costa, Joaquim da Silva Pires, Raimundo Rodrigues, Ricardo Mário Gonçalves entre outros.
Sumário dessa sonhada edição: editorial * cartas. Secções: Flores de Acácia e Maçonaria Mundial; Filatelia: filatelia maçônica; Artigos: Maçonaria e Religião * Maçons na Política * Mulher e Maçonaria* Ontem &hoje* Artes & artistas* Curiosidades Maçônicas* Informabim* Sombra da Acácia* Quatuor Coronati, e ultima página, Rei Edwardo VII.
Relação de trabalhos: Estudos Maçonólogos * Os 7 dias da semana, os 7 Planetas da Antiguidade e sua concepção Maçônica* Os Maçons e a Revolução Federalista de 1893-95* Maçomomismo * Foram os Maçons Inconfidentes?* a Maçonaria e a emancipação lenta e gradual do trabalho(uma tese aprovada)* O que é Maçonaria: seus princípios e mistérios sob o ponto de vista Moral- Tolerância* Comentários da Segunda Viagem* A Flauta Mágica e a Iniciação Maçônica* Maçonaria, sociedade secreta?* Estudos Bíblicos e Maçonaria.
Enciclopédia Maçônica, tudo que você sempre quis saber sobre maçonaria, sua história, atualidades e muito mais... somente circulou o único número, quando alguns foram premiados com essa relíquia maçônica, cujo preço nas bancas seria de 5,00. O que terá acontecido diante desse fato sinistro que motivou o cancelamento do projeto, muito bem debatido e organizado comum planejamento de experientes maçons brasileiro. Na verde a maçonaria brasileira , ainda não despertou para o terceiro milênio, nem pra o século atual. Algumas personalidades maçônicas com vergonha de o publico e os profanos (não maçons) descobrissem os segredos, da ordem, quando nas nações de primeiro mundo na Europa e EUA, é tido em certas universidades uma disciplina denominada de Estudos Maçônicos, mas a cultura anda em passos de tartaruga e o despertamento não consegue dar continuidade ao belíssimo sonho do amado e eterno Xico Trolha. O maçom Xico Trolha foi um grane idealizador, sonhador e grande imortal acadêmico, um dos maiores e influente escritor,talvez o único desse quilate e qualidade maçônica que já existiu no Brasil.
Como a cultura gera discordâncias e grupos de maçons tanto na via real como no conhecimento virtual se conflitam, por intolerâncias e pontos de vistas pouco recomendáveis, diante da cultura maçônica esta registrado nas grandes bibliotecas do mundo, visto que o Vaticano tem uma dessas grandes bibliotecas a cerca da maçonaria, mesmo assim ainda insiste em ex-comungar maçons ou considerar a maçonaria como uma sociedade de ateus, materialistas ou donos de alguma igreja. Portanto, agora os irmãos de ordem estão sendo informados da existência de um milagre da cultura maçônica em um estado que precisamos sempre nos colocar como eternos aprendizes e assim tanto nos conhecimentos real como no virtual, aproveitar todos os momentos que são apresentados gratuitamente
João Ribeiro Damasceno

São João Batista

Como a Maçonaria não é religião poder-se ia perguntar como se fala de santos e mais santos padroeiros e patronos. Como a Maçonaria nasceu 100% cristã, num ambiente onde predominava a igreja católica romana, na sua fase áurea de seu poderio espiritual e temporal, quando o mundo ocidental, ou pelo menos na Europa, se ajoelhavam contrita e escrava a seus pés. Uma época que os santos da igreja eram venerados e respeitados, mais que reis e rainhas. Na região da Grã Bretanha cada localidade tinha o seu Santo protetor. A Inglaterra – são Jorge; a Escócia – Santo André; a Irlanda – Santo albano, mas por um acaso, SÃO JOÃO- o evangelista passou a ser santo protetor dos maçons operativos, pelo simples motivo de que os Monges Beneditinos levaram para os trabalhos religiosos de uma oficina Maçônica de Pedreiros Operativos, um exemplar – Manuscrito – do evangelho segundo são João.
Em 24 de junho de 1717, por ma feliz coincidência, foi organizada a primeira Grande Loja de Londres – dia de são João Batista. A partir de então, SÃO JOÃO BATISTA, foi agregado também aos santos da maçonaria, tendo seus dias de festa na maçonaria – 24 de junho de S. João Batista e 27 de dezembro – dia de S. João evangelista. São João Batista, o precursor de Jesus Cristo, é o padroeiro da maçonaria.
Existe uma longa lista de São Joãos; S.João berchmans – S. João Brebeuf – S.. João Calibita _ - S.João de Chinon –S.s. João de sahagum - . joão, o Anão – S. João , o silencioso – S. João , o da cisterna – S. João Clímaco _ S. João I – S. João de Nápoles _ S. João Batista de Rossi – S. João Batista Maria Vianney - S. João Bosco _ S. João Câncio – S. João Capistrano – S. João Colombini – S. João Crisóstomo – S. João Cassiano – S. João da Cruz- S. João da Cruz II – SÃO JOÃO DAMASCENO – S. João de Ávila – S. João de Beverley – S. João de Deus - S. João Batista de La salle – S. João da Mata- S. João de Matera – S. João de Penna – S. João de Prado – S.. João de Réomé – S. João do Egito – S. João Esmoler _ S. João Eudes e s. João Nepumoceno etc. etc. Todos esses nomes de João estão canonizados pela igreja
A Maçonaria que cultiva com grande preocupação na construção do homem espiritual encontra em são João motivos de sobra como seu Patrono em 27 de dezembro, assim foi fundada em João Pessoa, a Loja de Pesquisas e Iniciática “Segredos da Pirâmide”, por nós e um bando de fervorosos cristãos no GOPB.
Registramos que existiu na Inglaterra outros nomes de Santos: S. Braz, S. Tomáz, S. Luiz, S. Gregório. S. Alpino, S.Marino, S.Martinho, S. Estevam, Santa Bárbara, os quatro Santos coroados ( Severo, Severiano, Cartóforo e Vitoriano) e S. Jorge. Isso vem provar o caráter esotérico dos maçons universais.
Para os romancistas da Ordem, interessados no assunto, há no mínimo, 45 São João competindo para ser o Patrono da Maçonaria. É evidente que o nosso irmão maçom Luiz Gonzaga da Rocha faz um relato cultural que despertará m todos nós, em busca de encontrar a relação dos mistérios que envolvem os São Joãos. O seu livro composto de quatro capítulos que revelam um testemunho verdadeiro digno de consideração da Arte Real, pode ser adquirido pela editora a trolha no seguinte endereço: www.atrolha.com.br
Nas suas conclusões cita: “ algumas verdades machucam, doem e provocam chagas e atritos, mas como todas verdade, é preciso que saia do receptáculo que a isola, par se propagar pelos recantos onde se fizer necessária, e todo esse trabalho de pesquisa foi usado um único livro denominado de Volume de Ciências Sagradas, que tem no Brasil maçônico como o Livro da Lei dos Maçons; A BÍBLIA”.
João Ribeiro Damasceno

A construção de um templo

TEMPLO, DO LATIM “templum”, isto é, local sagrado; estrutura arquitetônica dedicada aos serviços religiosos ou iniciáticos ou de adoração e laser. Todas as civilizações tiveram e construíram seus templos e essas construções eram revestidas de muitos segredos. Nominatas de vários TEMPLOS: T. HinduS, T . afro-brasileiros , T. budistas, T.gregos, T. romanos, T. indianos, T. chineses, T. japoneses, T. de Marduk ou Torre de Babel, T. de Osun, T. de Walhalla, T. de Jerusalém, T. de Salomão, T. de Herodes, T. de Zorobabel etc. etc. A construção do Templo de Salomão, é narrada e vivenciada pelo povo escolhido por Deus, os Hebreus, desde que realizaram o Êxodo, liderados pelo iluminado Moisés. Numa realidade bem diferente das nossas construções de hoje com o que se refere a Templos ou casas de oração e culto, temos uma visão bem diferente do que podemos entender uma casa para a morada de deus ou YAHVÉ. O templo de Salomão, é usado como protótipo dos primeiros templos inicáticos, onde no seu interior se desenvolvem liturgias de um alto grau de ocultismo e esoterismo. Aqui na Paraíba damos testemunho ocular da materialidade da construção de umTemplo para a organização do reino de Deus na avenida Epitácio Pessoa, um templo evangélico, mas ainda podemos tomar como exemplo a construção da igreja católica de Santa Julia, no bairro da Torre, templos modernos na arquitetura e nas suas linhas internas, maravilhas da inteligência humana dedicada as linhas da geometria sagrada, conhecida pelos maçons e iniciados. A CONSTRUÇÃO DE UM TEMPLO, especificamente o TEMPLO DE SALOMÃO, vamos encontrar as famosas colunas do templo, tão bem retratadas no Velho Testamento. No livro de Oséias 13:9, 14:1, consta que quando o povo de Israel abandonou a Deus e sua justiça, a nação desmoronou. As colunas eram a força e o poder da crença. JAQUIM & BOAZ significavam o valor e a adoração que nunca podiam ser derrotados, pois a manifestação divina sempre estaria presente para conferir significado e estabilidade. As colunas não são obras da engenharia humana, e sim da crença do homem na majestade de um Ser Superior. Tantas referências bíblicas sobre, o Templo de Salomão, fazem parte da fantasia humana. Ficaram na história, porém, as duas colunas de bronze, que ladeariam a entrada do Templo. E as demais particularidades do Templo dos maçons se reconhecem nas inúmeras lojas ou oficinas como a Loja maçônica BRANCA DIAS de uma arquitetura antiga. Assim em respeito ás crenças de cada um, no sentido de compreender o caráter sagrado dos Templos , atualmente se revestem de muitos conceitos, até a igreja católica , apostólica romana e seu templos de oração e adoração vem se modernizando, mas sempre vai haver o sentido sagrado das colunas dessa libertação do povo hebreu do Egito. Como a grandeza de um povo está na sua Fé, e nas suas obras em cumprir a Lei, assim aqueles que recebem uma missão de construir um Templo para Deus, seja que nome possa ter, será uma missão terrível de visões, de sofrimentos e muitos pesadelos, numa vitória resumimos numa palavra a oração que fez Salomão para responder ao pedido do Deus que governa a terra os céus. Por isso, aqueles que querem descobrir os mistérios da Fé e da crença devem pedir ao Deus dos seus corações a Luz, para o discernimento das coisas humanas e a dos homens. Não esqueçam as aparências podem enganar, mas o verdadeiro deus está em nossos corações e não em Templos suntuosos, creia em Deus e se livrará do diabo que é a ignorância e a superstição, o medo e a vingança, pois DEUS É AMOR, e por esse amor Deus nos enviou o seu amado filho JESUS, que desde a criação do mundo se estabelece na força da sabedoria. Os templos dos Maçons escondem todos os mistérios ocultos de uma sabedoria indescritível, que somente descobre os que entram na senda passando pelo cerimonial da iniciação aos augustos mistérios da antiga e universal maçonaria
João Ribeiro Damasceno

SOLIDÃO

Solidão não é a falta de gente para conversar, namorar, passear ou fazer sexo...isto é carência.

Solidão não é o sentimento que experimentamos pela ausência de entes queridos que não podem mais voltar...isto é saudade.

Solidão não é o retiro voluntário que a gente se impõe as vezes, para realinhar os pensamentos...isto é equilíbrio.

Tampouco é o claustro involuntário que o destino nos impõe compulsoriamente, para que revejamos a nossa vida...isto é um princípio da natureza.

Solidão não é o vazio de gente ao nosso lado nem tampouco a plenitude de gente a nossa volta...isto é circunstância.

Solidão é muito mais que isto.

Solidão é quando nos perdemos da nossa maior e melhor amiga, da nossa maior e mais forte aliada, da nossa maior e mais completa companhia...solidão é quando nos perdemos de nós mesmos e procuramos em vão, pela nossa Alma !!!

Fátima Irene Pinto

Sinônimos

Quanto tempo o coração leva pra saber
Que o sinônimo de amar é sofrer?
No aroma de amores pode haver espinhos
É como ter mulheres e milhões e ser sozinho
Na solidão de casa descansar
O sentido da vida encontrar
Quem pode dizer onde a felicidade está?

O amor é feito de paixões
E quando perde a razão
Não sabe quem vai machucar
Quem ama nunca sente medo
De contar o seu segredo
Sinônimo de amor é amar

Quem revelará o mistério
Que tem a fé
E quantos segredos traz
O coração de uma mulher?
Como é triste a tristeza
Mendigando um sorriso
Um cego procurando a luz
Na imensidão do paraíso

Quem tem amor na vida,
Tem sorte
Quem na fraqueza sabe
Ser bem mais forte
Ninguém sabe dizer onde a
Felicidade está

O amor é feito de paixões
E quando perde a razão
Não sabe quem vai machucar
Quem ama nunca sente medo
De contar o seu segredo
Sinônimo de amor é amar

César Augusto, Paulo Sérgio, Cláudio Noam

Sete poemas familiares

Carne de Pescoço
Zé Ramalho

POEMA UM

as pestanas do braço do violão
dormem sob as cordas em letargia
vindas do som das flêrpas macias
despertam sob os trastes / abandonados
vividos e pressionados em posição dúbia
reinventam armações
conhecem o tato do seu dono
dedos encerram tonantes medonhos
e o bojo do seu violão
estômago feito em madeira
e o desempenho das mãos
gemeram quando ecoaram
respondendo à fricção faiscante
do raio-aço inoxidável
primas / irmãs / bordões e mães d'água.

POEMA DOIS

escrever para a mãe
como quem escreve para o início
para a origem do primeiro sopro
para as carnes que me envolveram
em meu corpo pleno de plasma
escudo cama e o teto
quando tudo era de cristal
mulher de ferro / derretida em fogo
lava cuspida em dor e cor
estaticamente parada / de pé
escorrega e espera-me
que um vulto passe e lhe toque
sua epiderme metálica e macia
rígido olhar de procuras
mordidas de átomos
alquímicas e nuas
suas duras paixões
e os movimentos quebraram
dunas e arestas do estômago
que a mim tão bem me cabiam.

POEMA TRÊS

meus passos são meus amigos
meus passos são inimigos
do chão que não caminhar

moleques de rua
garotos de pele nua
molambos de se lavar

de fato são companheiros
foram oleiros
do barro que eu não pisei

quando anoitece
desentristece pelas pedras
e pelas as matas
o calcanhar impossível
e invulnerável do sertão
convidando-me a cavalgar
no teu dorso desmontado
como peças brilhantes
de automóveis acidentados

luminosos desastres
jogaram no meio da noite
o que jorrou da tua boca
inexplicavel segredo

os dentes da madrugada
trincaram teu desamor
morderam tua chegada
marcaram eu pecador

a lâmina quente do sol
cortou a sombra do dia
e um silêncio pousou
nas trevas secas do dia.

POEMA QUATRO

como será impossível
esconder no pensamento
quando pela medida linear do metro
eu estou racionalmente longe de você

quando pela medida estranha do insólido

eu estou perto e até dentro de você
sentindo as emoções que te movimentam
e que passeiam e dormem
dentro de mim / todos os dias

como cordinhas transparentes
como encontros revitalizantes
como comida / como alegria / como bebida

como no sono
faço parte da tua coluna vertebral
estás nos meus cabelos e pernas
encontro tua luz nas íntimas pedras
e com a impressão digital do espírito
como o despertar dessas coisas
de todas as coisas do início
do comêço do primeiro movimento
das sinfonias

do gen
do grão
e do grande.

POEMA CINCO

faz um ano que João respira
um resfolego como o do fole
remexendo / procurando / escutando
aprendendo tudo o que lhe provoca
ressonando em sonhos
pedaços de estrelinhas
que terminam em choros de amor

sua luz veio de um poço de cor
mais ensina que mais aprende
permanece nos brilhos do ser
que responde nas suas entranhas
a final carne filho da mãe
com desenhos do símbolo pai
representa um terço de todas as coisas
um terço rezado como se fosse novena

o resto é a soma do que tem que ser seu

desenvolver essas partes
conforme a sua história / conforme a memória
conforme a novena / e a graça alcançada

e o próximo passo
será dado na frente
daquilo que se entreolha
à reta que parte da íris
no sentido vasto / de qualquer direção.

POEMA SEIS

hildebrando / brando como mãe
calmo como um beijo de amor / não de paixão
amigo / pássaro sem hora
de voar quando quiser ir e voltar
gôndola de leme plácido
superficie de cisne / quase inundou
a fala pelo rio antigo / quase acertou
a verdadeira entidade desse pacificador

é o cacique
que leu a carta / que é teu amigo
és solitário / és caçador
admirável homem / és salvador

aquela história do primeiro homem
que por sua vez
aqui chegou e começou tudo
devem ter sido iguais
a tua doida bonança
de querer tanto bem ao próximo
coisa rara de ter hoje em dia
comungantes nessa profissão

POEMA SETE

na tarde antiga
a criança e o jovem
cuidavam das rugas
dos seres mortais

pois há nos anúncios
dos seus ancestrais
uma doença que corre
por frente e por trás

o homem que fica
na tábua oscilante
constrói o instante
esquece a altura

retém a vertigem
não morre de medo
do mestre de obras

por entre os morros
da guanabara espremem-se
as colméias de cimento

o recorte cinza da paisagem
nesses relevos de pedra e sonho
sufocam os beijos dos namorados
trocados em plena praça pública

os namorados existem
as abelhas existem
o mel adoça
o beijo é doce

a rainha é solitária
e o sol prossegue sua rotina diária
sem saber mais para onde ir

poderia seguir calmamente
sua pegada de fogo
mas minha cabeça
não cabe nesse pacote
nem a lua também
me mostraria seus pudores frios

então só me resta
olhar a densa neblina
desses olhos que bem poderiam ser
os olhos do próprio Deus.

SER TUGA É...

Ser Tuga é: Levar o arroz de frango para a praia.
Ser Tuga é: guardar aquelas cuecas velhas para polir o carro
Ser Tuga é: Criticar o governo local mas jamais se queixar oficialmente.
Ser Tuga é: noite das mulheres à quinta.
Ser Tuga é: Ter tido a última grande vitória militar em 1385.
Ser Tuga é: Enfeitar as estantes da sala com as prendas do casamento
Ser Tuga é: Guiar como um maníaco e ninguém se importar com isso.
Ser Tuga é: Viajar para qualquer país e encontrar outro Tuga no restaurante.
Ser Tuga é: Ter folclore estudantil anual por causa das propinas.
Ser Tuga é: Ninguém saber nada do nosso país excepto os Brasileiros e os Espanhóis que gozam dele
Ser Tuga é: Levar a vida mais relaxada da Europa, mesmo sendo os últimos de todas as listas
Ser Tuga é: Ter sempre marisco, tabaco e álcool a preços de saldo.
Ser Tuga é: Super-bock, tremoços, caracóis e marisco
Ser Tuga é: Receber visitas e ir logo mostrar a casa toda
Ser Tuga é: Dar os máximos para avisar os outros condutores da polícia adiante.
Ser Tuga é: Ter o resto do mundo a pensar que Portugal é uma província espanhola
Ser Tuga é: Exigir que lhe chamem “Doutor” mesmo sendo um Zé Ninguém
Ser Tuga é: Passar o domingo no ’shopping’.
Ser Tuga é: Tirar a cera dos ouvidos com a chave do carro ou a tampa da esferográfica (ou a unha comprida do dedo mindinho…)
Ser Tuga é: Axaxinar o Portuguex ao eskrever.
Ser Tuga é: Ir à aldeia todos os fins-de-semana visitar os pais ou avós.
Ser Tuga é: Gravar os “donos da bola”.
Ser Tuga é: Ter diariamente pelo menos 8 telenovelas brasileiras na tv.
Ser Tuga é: Já ter “ido à bruxa”.
Ser Tuga é: Filhos baptizados e de catecismo na mão mas nunca por os pés na igreja.
Ser Tuga é: Ir de carro para todo o lado, aconteça o que acontecer.
Ser Tuga é: Ter evacuado as Amoreiras no 11 de Setembro 2001.
Ser Tuga é: Não ser espanhol
Ser Tuga é: Lavar o carro na fonte ao domingo
Ser Tuga é: Lavar o carro ao domingo com a mangueira a gastar litros de água e no fim limpar as jantes de alumínio com cotonetes…
Ser Tuga é: Não ser racista mas abrir uma excepção com os ciganos.
Ser Tuga é: Levar com as piadas dos brasileiros, mas só saber fazer piadas dos alentejanos
Ser Tuga é: Ainda ter uma mãe ou avó que se veste de luto.
Ser Tuga é: Ir a Fátima com a família pelo menos uma vez por ano. (eu já lá fui este ano)
Ser Tuga é: Viver em casa dos pais até aos 30.
Ser Tuga é: Acender o cigarro a qualquer hora e em qualquer lugar sem quaisquer preocupações.
Ser Tuga é: Ter bigode e ser baixinho(a).
Ser Tuga é: Conduzir sempre pela faixa da esquerda
Ser Tuga é: Ter três telemóveis (já tenho dois)
Ser Tuga é: Jurar não comprar azeite Espanhol nem morto, apesar da maioria do azeite vendido em Portugal ser Espanhol.
Ser Tuga é: Deixar a telenovela a gravar.
Ser Tuga é: Organizar jogos de futebol de solteiros contra casados (já mudei de equipa)
Ser Tuga é: Ir à bola, comprar “prá geral” e saltar “prá central”
Ser Tuga é: Gastar uma fortuna no telemóvel mas pensar duas vezes antes de ir ao dentista.
Ser Tuga é: Cometer 3 infracções ao código da estrada em 5 segundos.
Ser Tuga é: Não ser brasileiro
Ser Tuga é: Algarve em Agosto.
Ser Tuga é: Ir passear de carro ao domingo para a avenida principal
Ser Tuga é: Ser adolescente e dizer “prontos” no fim de cada frase

MEUS SECRETOS AMIGOS

Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos.
Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles.
A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor, eis que permite que o objeto dela se divida em outros afetos; enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, que não admite a rivalidade.
Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos! Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos e o quanto minha vida depende de suas existências...

A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem. Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida.

Mas, porque não os procuro com assiduidade, não posso lhes dizer o quanto gosto deles. Eles não iriam acreditar!

Muitos deles estão lendo esta crônica e não sabem que estão incluídos na minha sagrada relação de migos.Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, embora não declare e não os procure.

E às vezes, quando os procuro, noto que eles não tem noção de como me são necessários, de como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital, porque eles fazem parte do mundo que eu, tremulamente, construí e se tornaram alicerces do meu encanto pela vida.
Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado. Se todos eles morrerem, eu desabo!

Por isso é que, sem que eles saibam, rezo pela vida deles. E me envergonho porque essa minha prece é, em síntese, dirigida ao meu bem estar. Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo.
Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns deles. Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos, cai-me alguma lágrima por não estarem junto de mim, compartilhando daquele prazer...

Se alguma coisa me consome e me envelhece é que a roda furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado, morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo, todos os meus amigos e, principalmente, os que só desconfiam ou talvez nunca vão saber que são meus verdadeiros amigos!
"A gente não faz amigos.... reconhece-os."

Garth Henrichs

Meu “nada consta”

Até que no silêncio da madrugada como agora é bom escrever sobre o assunto de hoje, ao som de “Soul rebel”, com Bob Marley. Admitindo que existe Cidade Negra, enquanto Belchior canta que quer “um gole de cerveja no seu colo”.
O assunto de hoje não é pessoal, mesmo sendo. Entenda-se: a partir do pessoal, envolve-se toda uma geração que lutou, e ainda luta, para que a geração que veio depois possa estar fazendo as coisas.
Em nossas rodas d’arte e d’imprensa, comenta-se muita coisa que chega a ouvidos universitários, políticos e adjacentes, mas não à opinião pública como um todo. Às vezes, por conveniência, outras, por covardia. Não somos tão transparentes quanto a pensam a nossa platéia, os nossos leitores. Os nossos bastidores ficaram parecidos com os dos políticos profissionais.
Poetas, roqueiros, namorados, correi: é chegada a primeira hora de cantar as nuncas derradeiras noites de luar.
Vou direto à história, à coisa, à questão, ao bicho (que vai pegar?). Quando coloquei “Sociedade dos poetas putos” num festival do Sesc, tinha plena consciência do que estava provocando, num momento em que as novas canções, do ponto de vista urbano e contemporâneo, estavam deixando de ser rebeldes, porque muitos compositores estavam querendo sabe somente de mercado (que, por não tão fina ironia, não eixstia). Na Paraíba, eu, Walter Galvão, Jamacy (vocalista do Sombras Dolentes), Sérgio Motta (vocalista do S.O.S., hoje no Se?), Gustavo Magno (então, na Banda Utopia, e hoje lançando “Divina virtude”), a galera do Poecodobar, Pedro Osmar, estávamos interessados em fazer (r)evoluções. Sempre experimentamos provocar o estabelecido para que algumas coisas mudassem. Nunca estivemos no tal do coro dos contentes
Nosso discurso sempre foi em busca do novo. Com todo o respeito à vida noturna de bares da orla (pois, afinal, os freqüentamos), o nosso trabalho nunca foi dirigido para aparecer por aparecer, em busca das lantejoulas e dos brilhos que morrer ao dobrar uma esquina, nem unicamente para fazer dançar (leia-se dançar em todos os sentidos, o que inclui Calcinha Preta e Aviões do Forró). O nosso trabalho nunca foi composto, articulado, apresentado ou gravado para comer meninas ou meninos. Prefiro comê-las, ou comê-los, sem ter de gastar tardes ou noites de ensaios.
”Sociedade dos poetas putos” incomodou ao estabelecido, da mesma maneira que incomoradaram “Conversas em torno do busto de Augusto” e “Nascido em 18 de março”. Lembro que no início (era 1990, já, perto do final de um século que se dizia moderno) os jornais locais publicavam o nome “Sociedade dos poetas p...” (com reticências, mesmo) em comentários e algumas notas. Depois é que se soltaram. As reticências para “putos” não aconteceram somente na imprensa local, mas também em Recife, em Aracaju.
Ou seja: mantive a coerência com a posição vanguardista que sempre tive no Nordeste desde os tempos do tropicalismo. Temos brabos, onde vivíamos “prestando satisfações” aos agentes diretos e indiretos da ditadura militar, dos nossos poemas, peças de teatro e canções
Hoje está tudo bem mais fácil. Basta um agradinho aqui, outro acolá, um corporativismo bacaninha pós-moderno, para resolver tudo. Tudo bem: quem faz assim, o faz de livre arbítrio. Mas, não precisa fazê-lo tentando atingir uma geração digna que preparou um terreno de liberdade para eles. Faço parte desta geração e a defenderei até os últimos instantes, que não serão últimos porque haverá continuidade da parte dos que são dignos, justos e decentes. Não é qualquer merdinha adorador do deus-dinheiro, em cotidiano exercício da mentira, que vai tirar da história a nossa geração.
Quanto a mim, continuo à maneira dos bons roqueiros que fazem o que foi batizado de emepebê. Sou um prolongamento assumido do tropicalismo. Continuo a cometer doces transgressões, sem me esconder atrás dos computadores e mesas oficiais. Não preciso do “nihil obstat” da canalhice. Meu “nada consta” é o dormir em paz, sem medo do que possa perder ou ganhar amanhã.
- “Carlos Aranha” -

Memórias sentimentais

Quem não conserva sua grande paixão? Ou suas grandes paixões? A paixão pelo cinema, pelo homem, pelos filhos, pelos pais, pela poesia, pela paisagem, pela mulher. Múltiplas paixões, pois o homem só as reduz, ou as anula, ou não as conhece, quando a fome, a miséria, a doença, são suas companheiras.
Revendo memórias sentimentais que nunca escrevi - a não ser em guardanapos de bar e papéis “malucos” -, confesso ser difícil o coexistir de ter o prato na mesa e de saber de muitos que nada têm. Briga-se, fala-se, discursa-se, analisa-se por tão pouco, por um tal, ou uns tais de poderes, que até memórias sentimentais ou novos sentimentos são postos no cesto de lixo mais próximo.
Muitos estão trocando a capacidade da paixão pela febre do poder (seja político, religioso, empresarial, sexual ou mero medir de força física). Mas, as memórias sentimentais continuam ao redor de todos nós, carregando a certeza de que nos derrubarão na melhor esquina. Quando alguém de pleno poder é derrubado, ótimo; nada melhor que uma queda quando se faz de um mero gabinete o mundo visto por Napoleão de cima de uma pirâmide.
Muitos sexos nos contemplam e as memórias sentimentais a todos tiram “de letra”. Quanto a mim, essas memórias podem atacar com Bernstein regendo a “Rhapsody in blue”, Joe Cocker cantando “With a little help from my friends” para a bela nação de Woodstock e, mais pra cá, Herbert Vianna na envolvente “Lanterna dos afogados”.
Sempre (novamente) as paixões
Nada como a música e a natureza como companhia das paixões. Alceu Valença cantando “o girassol dos teus cabelos”. Lennon e McCartney derramando “Yesterday”. Português ou inglês, tanto faz. Paixão não tem língua. Pode ser ouvida e entendida sem dicionário. E “se branco ele fôr, esse canto de amor”, como induz Geraldo Azevedo? E Fagner entre “Revelação” e “Deslizes”? E Caetano Veloso, cantando que “sobre toda a estrada paira a monstruosa sombra do ciúme”?
Não esqueço a exaltação de Gilberto Gil em “Super Homem - A canção”, pedindo que o herói venha “nos restituir a glória, mudando como um deus o curso da história por causa da mulher”. Ou Dorival Caymmi dizendo que Marina já é bonita “com o que Deus lhe deu”.
Por natureza, eu que sou um pisciano prematuramente apaixonado, não posso negar que, como indicou Alceu em “Anunciação”, “já conheço os seus sinais”.
A paixão tem sinais que as companhias de trânsito não localizam. Em seus maiores momentos, a paixão ultrapassa os sinais. Ela não vê verde, nem amarelo ou vermelho. Para a paixão existe a soma de todas as cores, ou cor nenhuma.
Lembro o flautista sagrado da mitologia hindú do “Gitá Govinda”. Todas as posições da paixão são para o flautista como figuras de dança. Por isso, grande balés - de Moscou a Nova Iorque - têm representado “Romeu e Julieta”. Por falar nisso, Shakespeare foi um dos autores que mais se dedicaram às paixões.
De todos os mitos da Índia, o mais belo sem dúvida é o de Krishna, que desce à floresta em meio às pastoras. O pastor celeste perde-se no bosque, encantando com o som de sua flauta animais, demônios e mulheres. As ternas pastoras circulam ao seu redor. O Deus que é onipresente satisfaz ao mesmo tempo suas mil amantes; cada uma o tem para si só e todas o têm inteiro. É um símbolo das núpcias da alma com Deus.
Voltando a Shakespeare, ele dizia que “não há nada de bom ou de mau, a não ser que o pensamento o torne assim”. Traduzindo: nenhuma paixão é boa ou má, a não ser que os amantes a tornem assim.
- “Carlos Aranha” -

Mais popular que sexo

Enquanto quase toda companhia de Internet está procurando maneiras de juntar um modelo de negócios rentável, portais como Yahoo, Lycos e outros estão vendo a música “on line” como seugrande ganha-pão.
No início do ano, o termo “MP3” ultrapassou “sexo” como o termo mais procurado na Web. Um recente relatório da Jupiter Communications prevê que em 2008, cerca de 40 milhões de usuários vão comprar música online, comparando com 10 milhões no ano 2000. De acordo com a Media Metrix, os programas de música “on line“ Winamp e RealPlayer atualmente têm mais de 5 milhões de usuários cada.
A música “on line” está crescendo em ritmo acelerado, e as companhias que se estabelecerem como um canal de música nos próximos anos poderão tornar-se dominantes. Uma vez que os portais controlam os mecanismos de pesquisa que as pessoas estão usando para encontrar música, não é de se espantar que estejam agora adquirindo outros tipos de programas e tecnologias para atender sua audiência ávida por música.
Poetas, buracos e ruas
Há poetas que querem uma solidão limpa, admitindo a volta ao aconchego de pais e irmãos.
Keats insinuou que tudo de beleza é alegria para sempre. Como beatles, “forever”. As palavras, mesmo não escritas, traduzem a raridade das portas da percepção, sem necessidade de baseado, ácido ou santodaime. E Sérgio de Castro Pinto não disse, em plena ditadura e sob censura, que as palavras que não escrevia, “sempre me olham”?...
Melhor não exigir demais do próprio temperamento, evitando radicalizar a solidão em horas noturnas e apenas aparentemente mágicas. Solidão radical leva a perplexidades nunca resolvidas. Perplexidades traduzidas, certo dia, numa verificação de Drummond: “Dos noventa e cinco poetas de cada geração, noventa desaparecem no decorrer de brevíssimo espaço de tempo”. Vale para os que têm certeza de que já são grandes poetas, neste amplo corredor urbano, sem sequer ter a experiência de ser médias pessoas entre tantas pessoas anônimas...
A ligação entre pretensos poetas e pessoas que passam pela Lagoa, e coisas que têm em suas casas, e sorrisos e raivas de seus parentes, é a mesma que há entre o dono da bola e o jogo acabando antes do tempo.
O mais, para esta quinta-feira de agosto, é ainda lembrar Drummond: “O progresso não recua. Já transformou esta rua em buraco. E o progresso continua. Vai abrir neste buraco outra rua. Afinal, da nova rua, o progresso vai compor outro buraco”.
Animadores culturais?
Para Rolland de Renéville, místicos e poetas, mesmo divergindo em suas rotas pessoais acerca de mil pontos, acabam num modo comum de conhecimento, que é a “consciência tenebrosa”, espécie de “luz sem sol”, em que se comprazem igualmente tão diferentes pessoas. Fernando Henrique já chegou ao estresse ideológico que, irresponsavelmente, o fez pedir que esquecessem o que tinha escrito. Esqueçamos o sociólogo. Importante é não pedir desculpas por ser poeta, escritor, jornalista, cantor.
Peça desculpas somente se você aceita a imbecil designação de “animador cultural”. Vocês já pensaram em animador econômico, animador político, animador filosófico?... É que os burocratas da vida complicam demais a cultura quando se metem nela com olhares de “yuppies” tropicais e poses de pós-modernidade vagamente industrial. São vampiros? Sugam o que? Talvez o próprio sangue. Pior é que raramente conseguem rir. Ironicamente intitulam-se (ou foram intitulados) “animadores culturais”.
- “Carlos Aranha” -

MAIS ou MENOS

"A gente pode morar numa casa mais ou menos,
numa rua mais ou menos,
numa cidade mais ou menos,
e até ter um governo mais ou menos.
A gente pode dormir numa cama mais ou menos,
comer um feijão mais ou menos,
ter um transporte mais ou menos,
e até ser obrigado a acreditar mais ou menos no futuro.
A gente pode olhar em volta e sentir que tudo está mais ou menos.
Tudo bem. O que a gente não pode mesmo, nunca, de jeito nenhum,
é amar mais ou menos,
é sonhar mais ou menos,
é ser amigo mais ou menos,
é namorar mais ou menos,
é ter fé mais ou menos,
e acreditar mais ou menos.
Senão a gente corre o risco de se tornar uma pessoa mais ou menos."
(Chico Xavier)

... LO HARIA!

Si pudiera olvidar todo
cuanto hay que olvidar
y vivir del pasado
Como mi unico presente..
... Lo haria!
Si pudiera de nuevo
mirar al mundo
con la inocencia
del que por primera vez lo mira...
... Lo haria!
Si pudiera reglar una
sonrisa por cada lágrima perdida...
Si pudiera, se que lo haria!...

LISBOA OU A BELA DORMECIDA

Desde a reconstrução pombalina de Lisboa, na sequência do mega-sismo de 1755, a nossa capital tem vindo a ser sucessivamente considerada uma das mais belas cidades do mundo. O seu assento em sete colinas tem sido apontado como um dos factores dessa beleza, tal como aconteceu com Roma ou Constantinopla, mas a sua situação à beira do Tejo, junto ao oceano, confere-lhe um toque peculiar, que mais se acentua por ser a única capital da Europa à beira do Atlântico.

Quem vive no Barreiro tem a diária oportunidade de ver Lisboa de frente, deitada na margem do rio, alongando-se por variados quilómetros, em fabuloso mosaico de formas e cores. Desta margem esquerda, a capital parece em repouso do esforço milenar dos seus filhos, enquanto aguarda que os séculos continuem a correr.

Infelizmente para os portugueses, neste ano da graça de 2007 a cidade não repousava. Tinha, simplesmente, entrado em estado de coma vigil, e receava-se muito pelo seu futuro. Qual bela adormecida, aguardava o beijo da ressurreição.

Mais uma vez, em menos de três anos, a Direita portuguesa, que detinha maiorias absolutas do PSD e do CDS-PP, na Assembleia Municipal e no Executivo lisboetas, entrou em auto-corrosão plena, rápida e efectiva, que tornou o Município totalmente ingovernável e à beira de ser engolido pelo maior buraco orçamental de que há memória em autarquias portuguesas.

Sabemos hoje como a parte de leão neste descalabro único foi da responsabilidade do PSD, mas o CDS não está isento; de um modo genérico, até as forças políticas da oposição interna acabaram por apanhar os seus salpicos de lama.

De qualquer modo, chegou a hora da verdade, no passado domingo, em que os lisboetas foram às urnas, em eleições intercalares.

Como previmos na passada semana, a abstenção foi mesmo um susto – 62,61%, para ser exacto, mas uma parte da abstenção é falsa, por falta de limpeza dos cadernos eleitorais.

Vários factores contribuíram para aquele número. Campanha eleitoral mortiça e incolor; quase sempre se debitaram lugares-comuns, em vez de mensagens políticas. O circo não prestou e o público deu por isso. Os candidatos verdadeiros foram meia-duzia; o resto foi folclore oportunista. O eleitorado tomou nota.

Os candidatos dos partidos eram relativamente fracos, com excepção de António Costa. Os lisboetas repararam. Os concorrentes anti-partidos viviam em comunhão de bens com os ditos partidos, até as eleições terem sido anunciadas. Os alfacinhas não se iludiram.

O PSD e o CDS-PP pretenderam apresentar-se com a virgindade politica subitamente restaurada. Os cidadãos nem sequer sorriram do atrevimento destas pseudo-noivas de Santo António. No fim de tudo, o dia da votação nem esteve bom de praia. Senão…

No balanço final, António Costa é o novo Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, eleito com 29,54% dos votos, cabendo-lhe 6 Vereadores. Vence em todas as 53 freguesias da cidade, o que parece feito inédito; o facto é que, quer o PSD, quer o PCP, perdem a anterior maioria que detinham em grande parte das freguesias. O mapa de Lisboa é agora totalmente cor-de-rosa. Quem o diria, há meses atrás? António Costa e José Sócrates estão de parabéns, pela visão larga dos problemas que demonstraram.

Carmona Rodrigues teve 16,7% dos votos (Lisboa com Carmona) – 3 Vereadores - e Helena Roseta 10,21% (Cidadãos por Lisboa) - 2 Vereadores - ; ambos tiveram bons resultados.

Fernando Negrão, apesar da sua simpatia, foi o grande derrotado, com a lista do PSD a receber apenas 15,74% dos votos e 3 Vereadores. O PCP de Ruben de Carvalho perde também eleitorado, com a lista a recolher 9,53%, mas a manter 2 Vereadores. O Bloco de Esquerda também desce e Sá Fernandes tem 6,81% e 1 Vereador.

Outro grande derrotado foi Telmo Correia, com um CDS que se ficou pelos 3,7% dos votos. Não foi eleito, o mesmo acontecendo aos restantes candidatos.

Pela primeira vez, em muitos anos, a Direita portuguesa foi vassourada da Câmara Municipal de Lisboa, onde passa ter apenas 3 Vereadores nominais, embora detenha ainda a maioria absoluta na Assembleia Municipal. No rescaldo inevitável, uma vasta convulsão sacode agora esses partidos.

O PSD apercebeu-se subitamente que não terá nenhuma hipótese, se chegar às Legislativas de 2009 com Marques Mendes a liderar; este antecipou-se à inevitável contestação interna, e pediu eleições directas do Presidente a curto prazo, apresentando a sua recandidatura. Os seus adversários habituais foram apanhados em contra-pé e ainda não decidiram o que fazer.

Paula Teixeira da Cruz demitiu-se da Presidência da Concelhia de Lisboa, e pretende ficar como Presidente da Assembleia Municipal de Lisboa, o que Helena Lopes da Costa lhe contesta, com os santanistas por detrás.

No CDS Telmo Correia sai da liderança da bancada parlamentar, e Paulo Portas vai de retiro, para meditação, pois a sua estratégia falhou em toda a linha, e o seu candidato nem eleito foi. Os regressos nem sempre são sucessos, que o diga Napoleão, que voltou do exílio na Córsega para o Governo dos 100 dias, antes da Batalha de Waterloo, que também perdeu, acabando os seus dias na ilha de Santa Helena.

Não acredito, à partida, que estas eleições sejam já o Waterloo de Marques Mendes e de Paulo Portas. Mas que a Direita necessita desesperadamente de renovação, isso é indiscutível. E não será decerto com eles que se irá renovar. E o país não esquece que, com eles, já viveu demasiados sonhos maus.

Entretanto, a Lisboa adormecida aguarda que a nova Câmara lhe insufle o beijo da vida.

-“Miguel de Sousa” – in Jornal do Barreiro – 20-07-2007

Lelouch, caligrafia, etc.

Conheci Claude Lelouch quando ele veio ao Rio de Janeiro pra lançar o bacana e incensado “Un homme et une femme”. A sessão especial foi no então teatro da Aliança Francesa, no centro carioca. Mas, isto é outra história e poderá ser outro registro. Afinal, o Super-Homem retornou e poderá dar novo(s) curso(s) à História.
De Lelouch, também é bacana “Vivre pour vivre”, com foco principal no ser, estar, pensar, agir e amar de um jornalista francês sempre pautado para matérias em zonas de guerra.
Não sou um jornalista correspondente de guerra entre países. Minha guerra é outra. É comigo mesmo. Por isso, às vezes admito viver por viver. Mas, escrever por escrever não é fácil, caros amigos. Seis dias por semana, o ofício de entregar uma coluna. Desde que a informática foi adotada pelos jornais, não é mais entregar. No caso d’Essas Coisas é editorar mesmo.
Foi naquele dia que dei um salto no escuro pra ser parceiro do futuro na reluzente galáxia, como em “2001”, de Gilberto Gil. Saltei da esferográfica pro teclado, com esc, control, insert, del, num lock, etc. e tal. Nada me abalou nesse salto. Não fraturei nenhum dos ossos. Não cansei. Enfim, o cérebro eletrônico não manda. O meu, sim.
Estações depois, visitei Belchior no seu ateliê, em São Paulo. O compositor, lá, com dezenas e dezenas de quadros nas paredes, livros e livros - a maioria, raros -, pacientemente com uma caneta, fazendo sua tradução pra “Divina Comédia”. Não era esferográfica, mas uma caneta, sim, com o tinteiro ao lado, sobre o birô. Perfeccionista, Belchior também vinha, e vem, fazendo as ilustrações de sua tradução, que deverá sair impressa em manuscrito, mesmo. Fantástico. Conservador? Não. Da mesma forma que “o preto-e-branco passa a ser revolucionário” (Gustavo Magno, em “Signos, sinais, signos”), a caligrafia assume a mesma rota. Sabe que, naquele instante, no ateliê, vi em Belchior um dos homens-livros de ‘Fahrenheit 451”?... Ele me disse que era preciso preservar a caligrafia, como extensão da impressão digital.
Quando voltei de São Paulo, cheguei com nova idéia pro meu cotidiano. Fui à prática. Numa manhã, Walter Galvão entrou numa das salas de redação e perguntou: “O que é isso?”. Chamou Nonato Bandeira pra conferir. Eu estava escrevendo a coluna num caderno escolar Jeans, que comprei pra isso. Respondi: “É pra não perder a caligrafia”.
De lá até este sétimo ano de admirável século novo, sempre que posso, quando o tal do “horário industrial” não nos empurra muito contra a parede do pensar, escrevo a coluna no caderno. Depois, faço sua editoração, diretamente neste espaço. Sempre que fico só em alguma mesa de quiosque, restaurante, bar ou coisa parecida, aproveito pra escrever em qualquer papel. Assim, venho mantendo a caligrafia. Não é mais aquela dos vinte anos de boy, mas conserva-se como extensão da impressão digital.
Também termina como uma maneira de misturar bem as aptidões de compositor e escritor e não criar nenhum conflito entre Victor Hugo, Marcel Proust e Graciliano Ramos, entre Klebnikhov e Allen Ginsberg, James Dean e Macaulay Culkin, Fred Astaire e Michael Jackson, o MPB-4 e o Rappa, Pixinguinha e Hermeto Paschoal, os velhos e os novos, brasileiros e americanos, ingleses e cubanos, pois nunca pretenderei estar em busca de algum tempo perdido. Minha mãe, que não está mais por aqui, sabe que há muito, há muito tempo, eu fui pra longe.
A fórmula será cumprida até o último dia da minha atual passagem pela Terra: viver somente por viver e não escrever somente por escrever. Escrever é preciso.
- “Carlos Aranha” -

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Humanos

Há poucos dias desembarquei em Buenos Aires e, após algumas luas entre os portenhos, rumei para San Carlos de Bariloche quando, depois de certo convívio com os patagônicos da Província de Rio Negro, cruzei os lagos andinos, embarcando em Puerto Pañuelo, no lado argentino, retomando a rota terrestre rumo a Santiago de Chile a partir de Puerto Varas, que fica na porta de entrada do país de Pablo Neruda.
Para quem chega das zonas tórridas é o frio obviamente o maior contraste que se pode verificar. Deslumbra, certamente. Mas longe de ser apenas um atrativo turístico, esse confronto de apostos adversos assume especial significado e passa a dizer muito acerca da condição humana.
O ser humano, sertanejo ou não, é antes de tudo um forte. O frio patagônico é cortante. O vento gélido que vem da Cordilheira dos Andes é uma lâmina inclemente e opressiva que trespassa agasalhos e golpeia o ânimo dos mortais comuns.
A neve — que alimenta nossa curiosidade tropical — é, para os nativos, antes preocupação que fonte de lazer, e a solitude da maioria dos rincões existentes às margens de lagos formados a partir de glaciais havidos em tempos imemoriais não deixa dúvida acerca da dura vida que seus habitantes levam no período de inverno.
Entretanto, a simples presença humana nesses lugares de rara beleza, mas de clima severo e de isolamento pungente, revela quão intensa foi e continua sendo a epopéia de nossa espécie, especialmente se considerada a existência de climas ainda mais lancinantes.
Nossos ancestrais desceram das árvores na savana africana e tomaram o planeta. Não apenas chegamos a lugares inóspitos, mas lá permanecemos em desafio à natureza que, muitas vezes, parece não nos ter imaginado inclusos em certas plagas.
Gostei do que vi e do que senti. De tudo, o mais valioso foi a advertência feita em Peulla — um lugarejo chileno de cento e trinta habitantes, oitos cachorros e uma população decrescente de cinco gatos que rotineiramente são jantados por pumas famintos —, por Judith, nossa guia chilena, no sentido de que apenas desafiando o frio numa cavalgada é que se poderia ter alguma noção de como vivem os trabalhadores na Patagônia.
Interessante saber da gente daquele lugar. Da forma silenciosa como trabalha e da altivez com que convivem com frio e a chuva incessantes. Prazeroso o convívio com pessoas como Christian, um jovem guia turístico que trocou engenharia de informática pelos campos e que escolhe o conjunto montador-montaria a partir de uma rápida conversa que, segundo ele, permite identificar as personalidades que mais se afinam.
Do pouco e do muito fica a certeza de que para a condição humana não há desafio que não possa ser vencido e o convencimento de que nossas diferenças são antes de tudo uma razão para aumentar a admiração e o espanto de nós para conosco.
Vladimir Azevedo de Mello

Hoje, a minha mãe faria anos

“Que parem os relógios, calem o telefone,
jogue-se ao cão um osso e que não ladre mais,
que emudeça o piano e que o tambor sancione
a vinda do caixão com seu cortejo atrás.

Que os aviões, gemendo acima em alvoroço,
escrevam contra o céu o anúncio: ele morreu.
Que as pombas guardem luto — um laço no pescoço —
e os guardas usem finas luvas cor-de-breu.

Era o meu Norte, Sul, meu Leste, Oeste, enquanto
viveu, meus dias úteis, meu Fim-de-Semana,
meu meio-dia, meia-noite, fala e canto;
quem julgue o amor eterno, como eu fiz, se engana.

É hora de apagar estrelas — são molestas —
guardar a lua, desmontar o sol brilhante,
de despejar o mar, jogar fora as florestas,
pois nada mais há de dar certo doravante.”
“Blues Fúnebres” de W.H.Auden

HISTOIRE DE LA PHOTOGRAPHIE

400 av. J.C. Aristote découvre que la lumière du jour qui pénètre par un trou dans une pièce obscure, projette une image inversée sur le mur faisant face à cet orifice.
1100 Hassan ibn Hassan (mathématicien arabe) décrit le principe de la chambre noire et précise que l’image sera d’autant plus nette que l’ouverture est petite.
1515 Léonard de Vinci décrit la “camera obscura” en tant que machine à dessiner.
En perçant un trou minuscule dans une chambre noire, on peut obtenir l’image renversée d’un objet sur un écran (ou sur une pellicule) situé en aval de la chambre.
1540 Jérôme Cardan remplace le sténopé par une lentille.
1553 Giovanni Battista della Porta décrit la “camera obscura” en détails : sa construction ainsi que les usages qu’on peut en faire.
1568 Daniel Barbaro ajoute un diaphragme à l’appareil.
1650 La chambre noire devient portable et compte des lentilles de différentes distances focales; à cette époque, elle servait principalement aux dessinateurs.
1727 Johann Heinrich Schulze découvre que la lumière noircit certains composés d’argent.
Vers la fin du XVIIIe siècle, Thomas Wedgwood et Humphry Davy ont commencé leurs expériences sur l’enregistrement des images photographiques. Restitution d’images de tableaux, de profils de personnes, sans réussir à les fixer contre les effets de la lumière.
Au début du XIXe siècle, Niepce et Daguerre utilisèrent ces chambres noires comme prototypes, elles étaient munies de lentilles permettant différentes longueurs focales.
Au XIXe siècle, Nicéphore Niepce réalisa les premières véritables “héliographies”. Il reproduisit d’anciennes gravures grâce à ce procédé.
En 1827, Nicéphore Niepce photographia le paysage à partir de sa fenêtre.
En 1831, Jacques Daguerre, réalisa ses premières images sur des plaques de cuivre recouvertes d’une couche photosensible d’iodure d’argent (daguerreotype). Soumises à des vapeurs de mercure, une image positive était ensuite fixée grâce à du sel marin.
En 1833, Nicéphore Niepce meurt à l’âge de 68 ans.
En 1835, William Henry Fox Talbot réalisa le premier négatif de l’histoire.En 1839, Talbot mit au point un procédé photographique passant par un support négatif permettant d’obtenir un nombre illimité de tirages, cette nouvelle méthode prit le nom de “calotype”.
En 1841, le calotype est breveté et sera utilisé une dizaine d’années, laissant place à des méthodes sur verre à “l’albumine” et au “collodion” humide.
En 1847, Claude-Félix Abel Niepce de Saint-Victor (neveu de Nicéphore Niepce) communiqua à l’Académie des sciences un procédé de photographie sur verre.
En 1851, Frederick Scott Archer introduisit le procédé au collodion humide sur plaque de verre.
En 1871, Richard Leach Maddox remplaça la gélatine par du collodion ce qui permis d’accroître la sensibilité des plaques.
Vers 1883, George Eastman fabriqua une pellicule faite de d’une longue bande de papier recouverte d’une émulsion sensible.
En 1889, ce même Eastman produisit le premier support de pellicule souple et transparent, sous la forme d’un ruban de nitrate de cellulose.
A La fin du XIXe siècle, la première période de la photographie s’achève et laisse place à l’accroissement des photographes amateurs grâce à l’invention du rouleau de pellicule.
Le début du XXe siècle marque le développement de la photographie commerciale ainsi qu’une plus grande maîtrise des procédés de plus en plus complexes de la photographie noir et blanc.
En 1907, les frères Auguste et Louis Lumière mirent au point un procédé appelé Autochromes Lumière.
Dans les années 1920, les progrès des procédés photomécaniques utilisés dans l’imprimerie permirent l’augmentation de l’illustration des journaux et des magazines ce qui entraîna une naissance du point de vue commerciale de la photographie de réclame et de publicité.
En 1925, l’appareil de format 35 mm fut commercialisé en Allemagne et séduisit aussi bien les amateurs que les photographes professionnels.
1935, marque l’apparition de la pellicule couleur Kodachrome et 1936, celle de la pellicule Agfacolor. Toutes deux permettant d’obtenir des diapositives, elles ont marqué le début de la grande renommée des pellicules couleurs.
En 1942, la commercialisation des négatifs couleurs Kodacolor contribuèrent à rendre la photographie couleur encore plus populaire.
En 1947, Edwin H. Land réussi à mettre au point l’appareil Polaroid Land, permettait d’obtenir en quelques secondes une épreuve positive sur papier.
Depuis les années 50, la crise du reportage photographique, provoquée par l’apparition de la télévision, a favorisé de nouvelles approches, comme l’introspection et l’abstraction photographique des travaux de Minor White et d’Aaron Siskind ou bien tels que Robert Frank et Garry Winogrand.
1960, production du premier hologramme.
Dans les années 1960, des artistes tels que Robert Rauschenberg ou Andy Warhol se sont mis à considérer l’image photographique comme un simple matériau que l’on peut s’approprier, découper, coller, dénaturer, mettre à mal. En revanche, d’autres artistes comme Lucas Samaras ou Jerry Uelsmann se sont intéressés à la photographie mise en scène ou manipulée.
1963
Eclosion du premier “Polaroid” couleur.
Apparition de l’appareil ” Instamatic 50 ” de Kodak.
1968
Fabrication des premiers appareils reflex à contrôle automatique.
Prise de la première photo de la Terre, vue de la Lune (Appolo 8).
1978 Invention du premier appareil auto-focus (Konica).
1984 Création de la première caméra électronique compacte.
1990 Naissance du premier appareil numérique sans film.

Hiperfraseando

A Internet abriu um caminho novo para diversas vertentes culturais, políticas, econômicas, etc., etc. Com as criativas possibilidades oferecidas por “home pages” e seus “links” e com a velocidade das mensagens virtuais, apesar da existência do “spam”, a Internet redesenhou a luta pela cidadania.
Quando Cauby Peixoto sai dos bastidores e entra no palco ao som de “Conceição”, vestindo jaqueta vermelha com apliques dourados, corpo ereto, esbanjando vitalidade,, traz com sua voz toda a história do que podemos chamar de música popular brasileira - aquela que deixa espaço para versões de bolerões e faz com que nosso maior intérprete vivo possa cantar, em inglês, “New York, New York”.
Não há nada mais imbecil do que uma orla marítima paraibana falando o dialeto d’Ipanema, Barra & adjacências. E há coisa mais chata do que as telefonistas de Natal, Recife, João Pessoa, Fortaleza, Maceió, etc., puxando o sotaque para lados cariocas? Idem no som ambiente dos aeroportos e rodoviárias nordestinos.
Por que não admitir que Carolina, Amélia, Januária, Luciana, Sandra, Chiquita Bacana e Ana de Amsterdam continuam todas andando nas ruas, multiplicadas, louras, negras, brancas, morenas, pobres, ricas, descrentes, amargas, cristãs, dedicadas, sifilíticas, maternais, dengosas, putíssimas, religiosas, velhas e até novinhas de pudor?
Os que conhecem o ocultismo em sua essência sabem que os verdadeiros iniciados passaram por uma longa e sofrida estrada até o momento em que puderam ao próximo ajudar. É preciso muita cautela, tentar separar o joio do trigo. Não devemos colocar nossos corpos e mentes à disposição de qualquer “guru” que esteja na próxima esquina.
A exacerbação sexual pode destruir o prazer, mantendo apenas o gozo. O prazer, que inclui a sedução, está acima do gozo. O orgasmo por mero orgasmo é animalesco, diminui a condição humana.
Caetano Veloso e Linduarte Noronha têm algo em comum: não gostam de estar acordados pela manhã.
Um poema é como a noção de um possível Deus: é pai e mãe. Um poema desconstrói nossos tensos orgulhos e prepotências. No próprio caos, há poesia.
Shakespeare dizia que “não há nada de bom ou de mau, a não ser que o pensamento o torne assim”. Traduzindo: nenhuma paixão é boa ou má, a não ser que os amantes a tornem assim.
O melhor partido ainda está num poema.
João Cabral foi premiado com algo mais do que um Nobel de Literatura: “Morte e vida Severina” já foi encenado com trabalhadores do campo, sem os refletores dos palcos que confirmam o êxito na mídia. Quando um autor consegue estar tanto junto ao povo - assim como foi Maiakovski na Rússia -, não precisa do Nobel.
Quando alguém de pleno poder é derrubado, ótimo; nada melhor que uma queda quando se faz de um mero gabinete o mundo visto por Napoleão de cima de uma pirâmide.
O “mistério”, assim como o exercício de formar alguma elite de ocultismo, é mais uma criação ocidental para transformar o misticismo em passividade
Carlos Aranha

GOSTO DE GENTE ASSIM...

Gosto de Gente assim... com a cabeça no lugar, de conteúdo interno, idealismo nos olhos e dois pés no chão da realidade.

Gosto de gente que ri, chora, se emociona com um telefonema, uma canção suave, um bom filme, um bom livro, um gesto de carinho, um abraço, um afago.

Gente que ama e curte saudade, gosta de amigos, cultiva flores, ama os animais. Admira paisagens, poeira e chuva.

Gente que tem tempo para sorrir bondade, semear perdão, repartir ternuras, compartilhar vivências e dar espaço para as emoções dentro de si, emoções que fluem naturalmente de dentro de seu ser!

Gente que gosta de fazer as coisas que gosta, sem fugir de compromissos difíceis e inadiáveis, por mais desgastantes que sejam.

Gente que colhe, orienta, se entende, aconselha, busca a verdade e quer sempre aprender, mesmo que seja de uma criança, de um pobre, de um analfabeto.

Gente de coração desarmado, sem ódio e preconceitos baratos. Com muito amor dentro de si.

Gente que erra e reconhece, cai e se levanta, apanha e assimila os golpes, tirando lições dos erros e fazendo redentoras suas lágrimas e sofrimentos.

Gosto muito de gente assim... como VOCÊ! E desconfio que é deste tipo de gente que todo o mundo também gosta!


(Artur da Távola)

Geração Clique

Pela Internet, recebo o comunicado de que, se eu quiser, poderei dispor de uma namorada virtual na minha tela toda programada para grandes sessões de carinho, com direito a outras reações do tipo ciúme obsessivo, amuos intermitentes e curruxiados de todo o gênero.
Atrasada como chega, para mim, a oferta não tem nenhuma serventia. Mas sei de outros que são capazes de pegar na palavra.
Só podia ser invenção de japonês.
Gentinha carente essa dos olhos apertados.
Já começa a me preocupar esse novo sistema de comandos eletrônicos que passaram a governar as nossas vidas.
Quando a gente entra no carro, de manhã cedo, um aviso luminoso já nos determina apertar o cinto de segurança, outro adverte que a porta ficou aberta e um terceiro recomenda uma parada no posto de gasolina, pois o combustível está no fim.
No banco, todas as operações podem ser efetuadas pela simpática maquininha que fica no saguão conversando com os clientes sobre saldos, extratos e aplicações diversas, alimentando-se de envelopes recheados de contas a pagar, de cheques e de cédulas que elas ruminam em suas vísceras, para depois triturar em nossas contas...
Uma desvantajosa troca, pois a máquina jamais substituirá a moça do balcão que ficava conferindo os nossos saldos na conta dos afetos remunerados com o seu sorriso.
Iníqua maquineta essa, que só fala o que o sistema financeiro lhe ensina. Cadê o encanto daquele diálogo do gerente com o correntista inadimplente?:
- Doutor Júlio, a sua letra venceu ontem.
- Não diga! E eu que pensava que ela nem chegasse a empatar...
Duvido que tenha neurônios para isso. O seu senso de humor não dá para tanto. Vai logo ameaçando com o pessoal do departamento jurídico juntamente com outros procedimentos que tais.
Decididamente, já não governamos as nossas vidas com os chamados sinais vitais. São os chips, os bips e os transistores que nos controlam. É o apito do microondas, o sinal do fax, o clique do computador, o zumbido do celular, o pisca-pisca do semáforo, a janelinha do Word.
Os mais conservadores que se cuidem. Adotem logo suas providências. Principalmente nessa área do amor.
Amantes de todo o mundo, informatizai-vos.
Dentro em breve estaremos fazendo amor digital, pois o analógico está com os dias contados...
- “Luiz Augusto Crispim” -

Fugir ou enfrentar a dor?

Quando a vida nos obriga a enfrentar situações difíceis - como uma perda pessoal, por exemplo - é preciso entender que a eternidade está dando mais um passo.
Jorge Luis Borges (foto) escreveu algo muito bonito a respeito: “Tu és nuvem, és mar, esquecimento/és também o que perdestes em um momento/ Somos todos os que partiram. /O reflexo de nosso rosto no espelho muda a cada instante /e cada dia tem o seu próprio labirinto/A nuvem que se desfaz no poente é nossa imagem; /incessantemente, uma rosa se converte em outra rosa”.
Particularmente, eu detesto o caminho da perda, mas às vezes não há solução, e é preciso encará-lo. A seguir, algumas histórias a respeito.
O sacrifício e a benção
Um homem fez a promessa de carregar uma cruz até o alto de um monte, se tivesse certo desejo atendido.
Deus concedeu o que pedia.
Ele mandou fazer a cruz, e começou a caminhada. Depois de vários dias, achou que a cruz pesava mais do que supunha - e, com um serrote emprestado, cortou boa parte da madeira. Ao chegar no alto do monte, notou que - separada por uma fenda na terra - havia outra montanha.
Nela, tudo era paz e tranqüilidade; mas precisava de uma ponte para chegar até lá.
Tentou usar a cruz - mas era curta para isto.
E então reparou: o pedaço que havia cortado era exatamente o que estava faltando para que pudesse cruzar aquele abismo.
Outra história sobre a cruz
Num certo vilarejo de Úmbria (Itália), havia um homem que se lamentava de sua sorte. Era cristão, e achava o peso de sua cruz muito difícil de ser carregado.
Certa noite, antes de dormir, rezou para que Deus permitisse trocar seu fardo.
Nesta noite teve um sonho; o Senhor lhe conduzia para um depósi¬to. “Pode trocar”, dizia. O homem viu cruzes de todos os tamanhos e pesos, com nomes dos seus donos. Escolheu uma cruz média - mas, vendo o nome de um amigo gravado, deixou-a de lado.
Finalmente, como Deus havia permitido, escolheu a menor cruz que encontrou.
Para sua surpresa, viu gravado nela o seu próprio nome.
O guru de Mesure
Existia em Mesure, na Índia, um famoso guru. Conseguiu reunir um bom número de seguidores, e espalhou com generosidade sua sabedoria.
Na meia-idade, contraiu malária. Mas continuava a cumprir religiosamente seu ritual: banhar-se de manhã, dar aulas ao meio-dia, e orar durante à tarde, no templo.
Quando a febre e os tremores o impediam de concentrar-se, ele tirava a parte de cima de sua roupa e a atirava num canto. Seu poder era tão grande que a roupa continuava tremendo - en¬quanto o homem, livre das contrações, podia fazer suas preces com calma.
No final, voltava a vestir a roupa, e os sintomas retornavam.
“Por que você não abandona de vez esta roupa, e se livra da doença?”, perguntou um jornalista, ao ver o milagre.
“Já é uma benção poder fazer com tranqüilidade aquilo que devo fazer”, respondeu o homem. “O resto faz parte da vida; seria uma covardia não aceitar”.

Paulo Coelho

FOTOGRAFIAS NUM RELATIVO ESPAÇO-TEMPO

Passos apressados, Jackson atravessou a rua, deu um sorriso de canto de boca para uma menina na esquina e continuou eu destino. Iria cantar aquela musica no palco principal da festa da cidade, depois sairia pelo mundo construindo sua história num sonoro sonho redondo como seu pandeiro. Polegar ligeiro que marca a um-si-ca-li-da-de. Silabas n palma da mão, divisão de tempos, união de versos, multiplicação dos sentidos. Jazz do lado nordestino de um Brasil de pandeiros e sons.
O mundo torna-se um clipe quando Einstein traduz os signos do tempo e nos revela fotografias marcadas no espaço (não seria ao contrario). No começo da semana, há 25 anos atrás, Jackson do Pandeiro deixava este planeta, numa fotografia marcada no espaço-tempo. E, hoje, dia daquela Francesa Revolução que nos ensinou a cantar um hino baseado em liberdade, igualdade e fraternidade, decido falar um pouco sobre os jazzísticos sons jacksonianos, pois, vejo este mundo, redondo e plano como um pandeiro que gira em torno de si mesmo. Mundo repleto de novas e inesperadas saídas criativas que renovam o que parece ser um velho livro já lido, deixando sempre segredos, nunca completamente desvendados. É o que parece ser mistério.
O sonho começa quando, comemos morangos silvestres, lembro de Bergman que, hoje, 14 de Julho, faria aniversario. Bergman e suas cenas lentamente saboreads como se olhos fossem pinceis, cinema feito conforme o compasso do director, seguindo o ritmo desacelerado da perfeição com a qual soa elaboradas as grandes obras de arte.
Assim, fico observando a janela, neste sábado, pensando nas tantas coisas que aconteceram e que estão marcadas num álbum de fotografias formadas por energias sutis. Memória, maquina do tempo que nos conduz ao labirinto dos elementos que nos compõem, à origem de nossas certezas, ao abismo de nossos conflitos. Consciência que bate como bate o pandeiro, repetindo, repetindo, repetindo o ciclo. Deixando a certeza que em nossa liberdade de escolha está a chave de uma fraternidade que torna o caminho de todos os habitantes deste pedaço de terra flutuante, um pouco, parecido. Todo o resto, como o tempo, é relativo...

- “Gustavo Magno” -

Felicidade não tem fim

Quer saber de uma coisa? A tristeza é uma enorme chatice. O poetinha Vinicius que me desculpe, mas não concordo com aqueles seus versos famosos: Tristeza não tem fim, felicidade, sim...
Isso é coisa de poeta, que adora sofrer em praça pública, nos palcos, nos dramas lacrimosos da televisão, nos versos íntimos que ele manda imprimir para servir de libreto de sua tragédia em apoteóticas flagelações.
A infelicidade e a dor são invenções do homem. De Deus é que não pode ser. Se fosse, os céus estariam infestados de anjos se lamuriando pelos cantos, de querubins inconsoláveis refugiados nas cavernas celestiais e serafins se descabelando pelas campinas do Paraíso.
Desconfio muito de isso tudo ser obra de poetas mal-amados como de um certo Shakespeare apaixonado, que, eternamente rejeitado, resolve escolher as mulheres para fazê-las sofrer no palco: uma se suicida por sugestão do próprio namorado, a outra nem chega a trair o marido, mas morre pela desconfiança dele, uma terceira ama o pai de verdade e, por isso, é deserdada por ele, tudo para que o Autor faça pose de angustiado.
Nem precisa me olhar assim, minha senhora. Eu mesmo tenho cá os meus defeitos. Qual o poeta que não usou desse artifício? Mas, reparando bem, confesso que é muito chato fazer pose de tristeza!
Felicidade é que não devia ter fim. Tristeza, sim. É a gente que escolhe ser infeliz. Uns para fazer o gênero shakespeareano e impressionar incautas Julietas e Desdêmonas debulhadas em lágrimas que ainda se deixam iludir por essa lábia. Outros por incompetência mesmo.
Nasci feliz porque desconhecia a tristeza. Aliás, ninguém me avisou mesmo de que eu iria precisar dela...
Logo, felicidade é bagagem que eu já trouxe comigo, vindo que sou de lugares que não usam desses maus costumes.
Foram os outros que me disseram que, em certas ocasiões, era para eu ser infeliz. Tragicamente infeliz, para alegria de todos. Provavelmente quando não me deixaram tomar o meu primeiro banho de biqueira, quando me disseram que era pecado beijar na boca da minha primeira namorada e até quando ela própria, a namorada que eu não beijei, me sugeriu que morrêssemos juntos, infelizes para sempre, bebendo cicuta do mesmo frasco de veneno.
Como não levei a sério nada disso, acabei descobrindo que posso eternizar a minha felicidade sem precisar da autorização de mais ninguém. Combinei com a minha Julieta que a gente nunca mais morreria em público. E agora, já posso beijá-la diante de todo mundo, sem precisar morrer tragicamente.
E, de vez em quando, lá no Karawa-Tã, tomo banho de biqueira sem ninguém me molestar. Na pior das hipóteses, pego um resfriado e fico três de cama lendo Shakespeare e ouvindo Vinicius de Morais.
- “Luiz Augusto Crispim” -

FAZER SUA PARTE

Zizhang procurou Confúcio por toda a China e encontrou o mestre junto de uma figueira meditando. Aflito contou-lhe que o seu País vivia um momento de grande convulsão social, e ele temia derramamento de sangue:
- Mestre, precisamos urgente de sua presença no governo. Estamos à beira do caus.
Confúcio nada falou e continuou meditando, então ele continuou:
- Mestre, ensinaste que não podemos omitir. Disseste que somos responsáveis pelo mundo.
Calmamente Confúcio respondeu:
- Estou rezando pelo País. Depois irei ajudar um homem na esquina.
E calmamente continuou:
- Fazendo o que está ao nosso alcance, beneficiamos todos. Tentando apenas ter idéias para salvar o mundo, não ajudamos nem a nós mesmos. Existem mil maneiras de se fazer política; não é preciso ser parte do governo.
Reflexão: Será que não deixamos muitas vezes de fazer o que tem que ser feito e que está ao nosso alcance porque pensamos assim: "Isto é obrigação dos governantes", "Isto é obrigação dos pais", "Isto é responsabilidade do vizinho" e assim por diante?
Procuremos fazer mais a noss parte e até mesmo a do outro, porque no final estamos a fazer por nós mesmos. Já pensou nisso?

Eu e meus Amigos

Eu contente eu diferente eu triste
mas sempre sorridente Eu, uma menina assim
com amigos especiais amigos de horas
amigos de anos Amigos que estão longe
mas estão do meu lado todos diferentes
mas do seu jeito Jeito largado
jeito meigo jeito diferente
mas todos amigos Amigo é quem anima
quem ajuda... que está ao meu lado,
mas amigo de verdade
ai, ai, amigo faz chorar faz sofrer faz brigar
Quem são meus amigos?
Todos são amigos uns falam a verdade
outros a mentira mas sempre têm algo a dizer
Na verdade amigo e aquele que
está ao meu lado é sincero
e sempre tem um jeito de me alegrar.

de Bruna Gomes Xavier

EU E A PEDRA

O cronista é uma espécie de apenado. Como qualquer Sísifo que se preze, vive condendo a rolar de montnha acima, diáriamente, o seu rochedo, para vê-lo despencar no fim do dia, enquanto se prepara, resignadmente para começar tudo outra vez na manhã seguinte.
Não, meu caro leitor, não é uma queixa. É uma confissão. A crônica diária é uma expiação pública do pecado da originalidade.
Isso mesmo. Antes de ser um Sísifo, todo o cronista é um Adão seduzido pela serpente da vaidade, deixando-se envolver pela paixão da originalidade, o mais original de todos os pecados capitais.
Finda o personagem mitológico levando uma enorme vantagem nessa história: ao menos em sua alegoria conhece a pedra que empurra de encosta acima pelos tempos sem fim. Já essa infindável procura do assunto para a crônica é suplicio que nos faz arrastar todo o dia um mistério singular.
Às vezes, na tentativa de atalhar esta ou aquela subida mais ingreme do meu outeiro, doce purgatório que já dura à mais de trinta anos, recorro a antigas purgações.
Velhas crônicas de carne e osso, que o crônista inventou, fazendo jorrar sangue na sua pedra.
É sempre um adjuntório na subida do penhasco.
Ainda agora, deparei com um texto que escrevi há mais de quinze anos e que invoca a chamada "condição humana" no mais puro sentido adoptado por André Malraux.
Pensei que estava com a crônica feita.
Mas a humana condição impressa nas páginas da vida já não é a mesma que leva a assinatura de Malraux. Decorridos todos esses anos, entre o céu e a terra, entre o pecado e a expiração, nem eu mesmo reconheço a minha assinatura.
O que terá mudado nesse meu viver? Mudei eu ou a minha caligrafia de vida?
As pessoas, essas bem sei que mudam. O caminho já não é o mesmo. As pedras que serviam de sentinelas do mundo, guardando as escarpas da vida, até mesmo estas mudaram de figura. Só os desfiladeiros continuam vertendo sonhos de morte aos pés dos suicidas.
Já não é a mesma a condição humana que carrego dentro de mim. Ano após ano, foi ficando cada vez mais dificil reconhecer o meu rochedo. Quem sabe, não será a pedra mais humana do que eu? Ou melhor, não serei eu a pedra no caminho?
No dizer do poeta, no meio do caminho havia uma pedra. Havia uma pedra no meio do caminho. Mas como vou saber que a pedra não era eu?
- “Luiz Augusto Crispim” –

Eternas Ondas

Quanto tempo temos antes de voltarem
Aquelas ondas
Que vieram como gotas em silêncio
Tão furioso
Derrubando homens entre outros animais
Devastando a sede desses matagais
Derrubando homens entre outros animais
Devastando a sede desses matagais

Devorando árvores, pensamentos
Seguindo a linha
Do que foi escrito pelo mesmo lábio
Tão furioso
E se teu amigo vento não te procurar
É porque multidões ele foi arrastar
E se teu amigo vento não te procurar
É porque multidões ele foi arrastar

Zé Ramalho

Há um brilho de faca

Uma vez Renato Russo disse com uma sabedoria ímpar: "Digam o que disserem, o mal do século é a solidão" (já citei essa frase em uma crônica antiga, mas ela sempre volta)!
Pretensiosamente digo que assino embaixo sem dúvida alguma. Parem pra notar, os sinais estão batendo em nossa cara todos os dias. Baladas recheadas de garotas lindas, com roupas cada vez mais micros e transparentes, danças e poses em closes ginecológicos, chegam sozinhas e saem sozinhas.
Empresários, advogados, engenheiros que estudaram, trabalharam, alcançaram sucesso profissional e, sozinhos.
Tem mulher contratando homem para dançar com elas em bailes, os novíssimos "personal dance", incrível.
E não é só sexo não, se fosse, era resolvido fácil, alguém duvida? Estamos é com carência de passear de mãos dadas, dar e receber carinho sem necessariamente ter que depois mostrar performances sexuais dignas de um atleta olímpico, fazer um jantar pra quem você gosta e depois saber que vão "apenas" dormirem abraçados, sabe essas coisas simples que perdemos nessa marcha de uma evolução cega. Pode fazer tudo, desde que não interrompa a carreira, a produção.
Tornamos-nos máquinas e agora estamos desesperados por não saber como voltar a "sentir", só isso, algo tão simples que a cada dia fica tão distante de nós. Quem duvida do que estou dizendo, dá uma olhada no site de relacionamentos ORKUT, o número que comunidades como: "Quero um amor pra vida toda!" "Eu sou pra casar!" até a desesperançada "Nasci pra ser sozinho!" Unindo milhares ou melhor milhões de solitários em meio a uma multidão de rostos cada vez mais estranhos, plásticos, quase etéreos e inacessíveis.
Vivemos cada vez mais tempo, retardamos o envelhecimento e estamos a cada dia mais belos e mais sozinhos. Sei que estou parecendo o solteirão infeliz, mas pelo contrário, pra chegar a escrever essas bobagens (mais que verdadeiras) é preciso encarar os fantasmas de frente e aceitar essa verdade de cara limpa.
Todo mundo quer ter alguém ao seu lado, mas hoje em dia é feio, démodé, brega. Alô gente! Felicidade, amor, todas essas emoções nos fazem parecer ridículos, abobalhados, e daí? Seja ridículo, não seja frustrado, "pague mico", saia gritando e falando bobagens, você vai descobrir mais cedo ou mais tarde que o tempo pra ser feliz é curto, e cada instante que vai embora não volta mais (estou muito brega!), aquela pessoa que passou hoje por você na rua, talvez nunca mais
volte a vê-la, quem sabe ali estivesse a oportunidade de um sorriso à dois. Quem disse que ser adulto é ser ranzinza, um ditado tibetano diz que se um problema é grande demais, não pense nele e se ele é pequeno demais, pra quê pensar nele.Dá pra ser um homem de negócios e tomar iogurte com o dedo ou uma advogada de sucesso que adora rir de si mesma por ser estabanada; o que realmente não dá é continuarmos achando que viver é out, que o vento não pode desmanchar o nosso cabelo ou que eu não posso me aventurar a dizer pra alguém:
Vamos ter bons e maus momentos e uma hora ou outra, um dos dois ou quem sabe os dois vão querer pular fora, mas se eu não pedir que fique comigo tenho certeza de que vou me arrepender pelo resto da vida.
Antes idiota que infeliz!

Arnaldo Jabor

Entre a serpente e a estrela (Amarillo by morning)

Há um brilho de faca
Onde o amor vier
E ninguém tem o mapa
Da alma da mulher
Ninguém sai com o coração sem sangrar
Ao tentar revê-la
Um ser maravilhoso
Entre a serpente e a estrela

Um grande amor do passado
Se transforma em aversão
E os dois lado a lado
Corroem o coração
Não existe saudade mais cortante
Que a de um grande amor ausente
Pura feito diamante
Corta a ilusão da gente

Toco a vida pra frente
Fingindo não sofrer
Mas o peito dormente
Espera o bem querer
E sei que não será surpresa
Se o futuro me trouxer
O passado de volta
Num semblante de mulher
Toco a vida pra frente
Fingindo não sofre
Mas o peito dormente
Espera o bem querer
E sei que não será surpresa
Se o futuro me trouxer
O passado de volta
Num semblante de mulher

- “Zé Ramalho” -

Entre a mente e o corpo

Acho bacana um conselho de Renato Mezan, autor de “A trama dos conceitos”:
“Tenham muita curiosidade e não acreditem demais no que lêem”
Ou seja:
Quando a cabeça está para dar um tilt, assim como quando jogávamos nos primeiros filiperamas, a solução é parar de olhar o cardápio e experimentar a refeição de nome mais complicado, não dispensando pimenta, sal, alho, e um ovo cru.
A mente é para dar forma ao corpo. Impossível é que o corpo dê forma â mente. Quanto mais literatura se produz com a questão, menos o “nó do mundo” será desatado.
Fundamental é amar e evitar ter uma “lua de mel” com uma droga mal transada ou “ficar” com o terapeuta.

Carlos Aranha

Em companhia das estrelas

Entre as estrelas habito
Viajo por galáxias desconhecidas
Tento direcionar o meu rumo
Mas o sonho de amar
Impele-me às ruas incertas.

A cada nova estrada encontrada
Perco-me na desilusão
Não há amor que resista
Ao brilho opaco de um outro coração.

Retorno junto as estrelas
Desenho novos sonhos
Peço ajuda à lua
E flutuando nas nuvens
Espero por um novo amor.

(OlhosDe£in¢e)

É Proibido

É proibido chorar sem aprender,
Levantar-se um dia sem saber o que fazer
Ter medo de suas lembranças.
É proibido não rir dos problemas
Não lutar pelo que se quer,
Abandonar tudo por medo,
Não transformar sonhos em realidade.
É proibido não demonstrar amor
Fazer com que alguém pague por tuas dúvidas e mau-humor.
É proibido deixar os amigos
Não tentar compreender o que viveram juntos
Chamá-los somente quando necessita deles.
É proibido não ser você mesmo diante das pessoas,
Fingir que elas não te importam,
Ser gentil só para que se lembrem de você,
Esquecer aqueles que gostam de você.
É proibido não fazer as coisas por si mesmo,
Não crer em Deus e fazer seu destino,
Ter medo da vida e de seus compromissos,
Não viver cada dia como se fosse um último suspiro.

– Pablo Neruda –

É PRECISO IR ALÉM DA OBRIGAÇÃO

Um homem foi chamado à praia para pintar um barco. Trouxe tinta e pincéis e começou a pintar o barco de um vermelho brilhante, como fora contratado para fazer.

Enquanto pintava, notou que a tinta passava pelo fundo do barco.

Procurou e descobriu que a causa do vazamento era um buraco e consertou-o. Quando terminou a pintura, recebeu o seu dinheiro e foi embora.

No dia seguinte, o proprietário do barco procurou o pintor e entregou-lhe um cheque de grande valor.

O pintor ficou admirado e disse: - O senhor já me pagou pela pintura do barco.

- Mas isto não é pelo trabalho de pintura - disse o homem - é por ter consertado o vazamento do barco.

- Foi um serviço tão pequeno que não quis cobrar.

- acrescentou o pintor - Certamente o senhor não está a pagar-me uma quantia tão alta por algo tão insignificante!

- Meu caro amigo, não compreendeu.

- disse o proprietário do barco - Deixe-me contar o que aconteceu. Quando lhe pedi que pintasse o barco, esqueci de mencionar o vazamento.
Quando o barco secou, os meus filhos saíram para uma pescaria.

Eu não estava em casa naquele momento.

Quando voltei e notei que haviam saído com o barco, fiquei desesperado, pois lembrei que o barco tinha um furo.

Rezei, chorei, estava arrasado!

Grande foi o meu alívio e alegria quando os vi voltarem, sãos e salvos. Então, examinei o barco e constatei que tinha sido consertado. Percebe, agora, o que fez?

Salvou a vida dos meus filhos!

Não tenho dinheiro suficiente para pagar pela sua "pequena" grande ação...

Se na nossa ação diária fizermos como aquele pintor, certamente o mundo pode ser diferente.

Muitas vezes limitamos as nossas ações apenas à obrigação.

Fazer o que nos compete, com disposição e zelo, é apenas cumprir um dever.

Analise sempre muito bem uma situação e veja se é preciso que faça algo além

do seu dever, um "algo mais", sem que ninguém peça.

Perfeição é conseguida, não quando não há mais nada a acrescentar, mas sim quando não há mais nada a retirar .

(Antoine de Saint Exupery)

Não Se Perdeu Nenhuma Coisa Em Mim. Continuam As Noites e Os Poentes.

Depoimento de Zé Ramalho

Vim de Brejo do Cruz. Tem uma montanha de pedra nessa cidade onde nasci. Fica mais ou menos a 400 km de João Pessoa. Morei em Campina Grande, depois fui para João Pessoa, onde tive oportunidade de ouvir rádio. Daí surgiu a vontade de tocar violão ouvindo Vital Farias, compositor que tocava guitarra no conjunto Os Quatro Loucos, em João Pessoa. Uma vez tive uma visão incrível: Os Quatro Loucos tocando na praça e Vital Farias tocava uma guitarra vermelha. Achei aquilo tão bonito. Naquele momento me deu vontade de tocar instrumento semelhante. Procurei aprender violão olhando as pessoas tocarem. Essas músicas de conjunto de baile foram muito importantes para mim. Durante cinco ou seis anos pratiquei exaustivamente músicas de todo o tipo, tocávamos quase quatro horas para as pessoas dançarem. Isso foi em 65, 66, durante a explosão da Beatlemania no mundo e da Jovem Guarda aqui no Brasil. Eu sabia quase todos os sucessos da Jovem Guarda. Toquei também no Os Demônios, The Gentlemen, Eles. Era como um time de futebol. O cara saía de um conjunto e passava para outro. Dessa fase eu não tenho vergonha nenhuma. Vital Farias tem um pouco de vergonha. Ele acha que compromete a imagem dele. Eu tenho o maior carinho por esse início. Foi o que me deu um embalo danado. É uma coisa popular. Com 15 anos de idade somos puros, não temos tanto intelectualismo na nossa cabeça. Tenho boas recordações dessa fase. Fazíamos as coisas pela intuição, pela animação, íamos na onda. Foi muito bom tudo isso. Tenho carinho e gratidão até hoje pelo pessoal da Jovem Guarda, principalmente pelo Renato Barros (Renato e seus Blue Caps). É um praça. De vez em quando me encontro com ele nos aeroportos, um cara que me trouxe muita alegria. A música dele, a minha, tanta gente.... Foi assim que aprendi. A gente ensaiava, era tudo profissional, tínhamos equipamento e ganhávamos nas apresentações.

Eu tinha um violão, mas vendi para comprar uma guitarra nacional, Giannini. Era a marca que tinha na época. Passei a ser guitarrista solo. Passei a tirar, copiar solos de muitos grupos, a ter uma certa habilidade com o instrumento. Quando larguei a guitarra, descobri as violas do sertão. Fiz imediatamente uma mistura, de forma a fazer aqueles solos com aquelas cordas dobradas. Foi uma mudança radical. Quando passei a tocar violão descobri o universo do sertão, do Nordeste. Passei a me interessar pelos cantadores, violeiros, o que foi fundamental para mim. Descobri a forma como eles escrevem os folhetos de cordel. Estudei ao lado deles. Otacílio Batista era urn dos maiores violeiros ainda vivos. Ficava atrás deles. Onde tinha cantorias de viola, onde tinha os desafios, na casa de fulano ou de sicrano, eu ia com interesse de absorver aquelas rimas, aquelas métricas. Passei a ler tudo que era livro de cordel. Eu estava a fim de mergulhar nesse universo, pois sabia que era minto importante para mim. Logo depois que comecei a absorver aquela escrita, comecei a fazer as minhas primeiras letras. Eu fazia versões para os conjuntos de baile. Eram versões infantis dos Beatles, de algumas músicas da época. Foram os meus primeiros exercícios, uma vontade danada de escrever. Paralelo aos conjuntos de baile, também já estava entrando na Universidade. Fiz até o segundo ano da faculdade de medicina de João Pessoa. Nessa época eu passei a ler muito, nunca li tanto em toda a minha, vida. Tinha vinte e poucos anos. Lia muitos livros esotéricos, poesia, Carlos Castañeda, discos voadores, eram os que mais me interessavam. E livros de alquimia. Absorvi muita coisa disso tudo no meu trabalho. Eu produzo uma certa química nas pessoas que prestam atenção no meu trabalho. Uma sensação de viagem. Comunguei também no início dos anos 70 com o psicodelismo, o LSD, aqueles chás de cogumelo, essas coisas todas foram importantes para mim. Misturei tudo isso e saiu a primeira leva de músicas: Avôhai, Vila do Sossego e Chão de Giz. Essas músicas foram feitas na época dessas experiências. Era 73. Essas experiências me deram intuição, vontade de projetar essas luzes para me apresentar como autor. Minha proposta desde o início era fazer uma coisa diferente, no sentido de idéias, criar situações, criar imagens com as letras e com o máximo de alucinação possível. Avôhai, por exemplo, tem a descrição de viagem na própria letra da música.

Zé Limeira era uma espécie de Salvador Dalí da literatura de cordel. Era o samba do crioulo doido. Não tinham racionalidade nenhuma as imagens que ele criava. Ficou conhecido exatamente por isso. Mergulhei muito na, obra dele. Ele dizia: Jogue tudo no ar, junte tudinho, instale-se mais completamente, o resto são imagens que fecham assim". Você começa a misturar essas coisas todas e atrai um lado engraçado, pitoresco, essa visão apocalíptica nos versos dele e pode ser visto como urna coisa seríssima. Essa época foi a de minha maior produção pela descoberta dessas emoções, de participar dos acontecimentos do mundo, dos festivais de rock, etc..

Eu curto muito essa renovação no meu trabalho. Teve tempo em que pensei que minha carreira tinha encerrado. A mídia junto com as gravadoras, fazem uma grande roleta girando. As coisas às vezes se configuram certas ou totalmente erradas. Já passei por tudo que você possa imaginar. Ascensões e quedas. Duas ou três vezes já fiquei no topo e tive a mesma sensação de queda e de vazio, ou seja, se não der certo as gravadoras não te querem mais. Tudo isso eu já passei e acho sempre que só se colhe o que se merece. Se isso está acontecendo com você, tem que saber a hora de sair, tirar seu time e preparar outro melhor. Se for assim, ainda dá tempo de ganhar o campeonato no segundo turno. Isso aconteceu mais ou menos com o disco Antologia. Com Chão de Giz, que fiz nos anos 70, eu falei em camisa-de-vênus. Elba regravou esta música no ano passado, no disco Leão do Norte e essa música voltou às paradas de sucesso 20 anos depois, já com a AIDS pairando. Na época quando falei em camisa-de-vênus, eu estava falando no corte do prazer, você se privar do prazer carnal e total. Jamais imaginei que iria acontecer a AIDS nas nossas vidas. Ela regravou a intensidade da camisa-de-vênus que na época entrou como urna casualidade, ela projeta isso novamente, e a torna contemporânea. Essa música foi feita para um amor platônico que tive por urna mulher casada. Eu era garotão, ela era uma mulher de um industrial e muito rica. Ela me dava uns flertes, e isso me inspirou essa música. Eu tinha mais ou menos vinte anos. Inocente, burro e besta como dizia Raul.

Admirável Gado Novo tem mais ou menos a mesma situação. Ela veio a fazer sucesso muitos anos depois, agora na novela Rei do Gado, corn o problema dos sem-terra, e ganhou projeção corn esse problema social que tem o Brasil. Foi uma grande surpresa. Ela primeiramente saiu em 1973. Eu investi muito nessas canções pelo fato de você sempre apresentar, quando você está gravando, material novo. No tempo em que a gente está vivendo, é como atirar pérolas aos porcos. Não dá tempo de absorver tudo. Eu passei quatro anos sem gravar. Eu investi nessas canções, fiquei tocando em todos os meus shows. Eu tenho uma agenda anual de shows pelo Brasil que faço há mais de 15 anos. Duas vezes por ano eu rodo o Brasil todinho, sempre tocando essas mesmas músicas. Houve rima espécie de renovação de público. Os filhos dos amigos que me acompanhavam no início da minha carreira, hoje freqüentam os meus shows. Trabalho também junto com esses componentes e muita coisa aconteceu de uma vez só. O show O Grande Encontro, com Elba Ramalho, Alceu Valença e Geraldo Azevedo, também demonstrou uma unidade. Uma espécie de alinhamento do trabalho com essa época que estamos vivendo. O Grande Encontro foi de total liberdade para cada um.

Eu aprendi muita coisa da cultura estrangeira, muita coisa de rock, música indiana, absorvi tudo isso, às vezes a gente pode errar quando mistura muitas coisas. É assim que é o trabalho de um alquimista, o mundo é assim, vai-se errando, acertando... Alguns discos que fiz não foram bons. Eu exagerei. Fui muito criticado por estar me tornando um artista pop: às vezes a gente anda por carminhos que só a gente vai entendendo. Isso é pra dizer que eu absorvi muito das coisas e muitas vezes eu extrapolava. De qualquer forma isso serve para quê? Para demonstrar um conhecimento que você adquiriu e que às vezes entra em processo de explodir. Você tem que explodir de qualquer forma. Isso tudo me trouxe várias culturas lá do Nordeste. Quando quero me encher de idéias, eu mergulho na obra do Nordeste, isto é, passo a ler os cantadores, a ouvir Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, João do Valle, ler João Gabral, e principalmente os poetas populares que me dão a sensação de estar mergulhando profundamente naquele universo. Me reabasteço de energias. Não sou pastor de religião nenhuma, porém eu propago uma forma das pessoas olharem mais para o alto e de se sentirem mais amigas umas das outras. Tento passar isso nas minhas mensagens. Música é para botar as pessoas para viajar. Com palavras, principalmente, é mais difícil ainda.

Em 75 vim com Alceu Valença para o Rio no show "Vou Danado pra Catende", que fazíamos no Teatro Teresa Raquel. Tocava violão de 12 cordas, viola de 10 e ukulelê, instrumento havaiano de 4 cordas. Esse trabalho me deu uma projeção pois também fazia direção musical do show. Foi uma projeção boa. Dei muito do meu trabalho, da minha árvore para o trabalho de Alceu. Eu arrasava no meu trabalho, porém ninguém me conhecia ainda. Eu já compunha. Quase um ano depois, aqui no Rio de Janeiro, eu já estava ralando, já tinha saído da banda do Alceu e estava definitivamente aqui naqueles longos corredores das gravadoras. NaqueIe tempo era difícil gravar. Minha música não era considerad viável. Àquela época eu era zero do zero. Foi Carlos Alberto Sion quem conseguiu uma demo para mim no estúdio da Polygram. Eu gravei essa demo. Sion estava produzindo Fagner e outros artistas. Eu fui bater na mão dele. Esse cabra foi quem produziu o meu primeiro disco. Quando fiz minha demo ele me deu um rolo de fita e mandou eu ficar apresentado às gravadoras. Foi com essa fita que eu rodei todas as gravadoras do Rio de Janeiro. Isso exaustivamente, o ruim era você se manter asseado todo dia quando acordava. "Eu vim para ca com minha viola, uma sacola e parei na rodoviária", como diz a música do Belchior. A época era muito dura. Eu dormia em banco de praça, em frente ao Copacabana Palace nas areias, na Praça Saens Peña, na Tijuca, e em carros de amigos que me deixavam dormir no banco de trás. Vim para cá sabendo que ia encarar essa barra pesada. Porém com a idade que eu tinha e com o que tinha vivido, com a loucura que estava na minha cabeça na época de hippielândia, não tinha problema nenhum para mim. O ruim era você se manter limpo e asseado todo o dia porque também recusei ajuda da família lá de João Pessoa, senão ficava muito fácil. Eu queria saber se eu era tão espertinho assim.

As pessoas escuitavam e não entendiam e realmente devia ser muito difícil para elas entenderem. Achava que aquilo não iria vender. Jogavam os papeis sobre as mesas. Fui de gravadora em gravadora, até que um dia fui na CBS, onde os nordestinos estavam começando a entrar e o Jairo Pires escutou Avôhai na minha frente. Ele era um cara espiritualizado e bateu no paladar dele. Eu vi a cara dele quando ele escutou. Arregalou os olhos e disse: "Vamos gravar". Era a última gravadora. Já linha percorrido todas. Puxa vida! Tava aquele inferno de nordestino cercando a CBS. O disco do Fagner estava indo muito bem. Era o disco de estréia dele, 30.000 discos naquela época era um escândalo. Só quem vendia era Roberto Carlos. Aí os nordestinos começaram a vender e eles ficaram de olho. Se esse cara vende, vamos ver se esse tal de pau-de-arara... O cara deu essa brecha, botou meu disco aí, foi gravado em novembro, saiu em janeiro e fevereiro alucinadamente. As rádios descobriram Avôhai em 78 e Avôhai concorria com Vila do Sossego. Tenho documentos da época. Nem eu sabia corno controlar isso. Sem saber o que era direito autoral, editora, etc., não sabia nada direito. Perdi muito dinheiro naquele momento, porém essas músicas me dão aIegria e prazer até hoje.

É muito difícil você manter o talento num país como o Brasil, não por falta de condições, pois hoje a tecnologia aproxima mais. E pela selvageria da mídia. É implacável, a menos que você queira fazer aventuras, não se importando em fazer jogadas com os cartolas das grava doras. Eu queria fazer dinheiro, ficar famoso, e não me importar muito com críticos. Meu trabalho se encaixa quando estão acontecendo os discos, as músicas. Sou um cara solicitado para aparecer nos programas dominicais de grande audiência, assim como dezenas de artistas. Contudo a manutenção de um artista no Brasil, você tem que ter muita disposição. Num país grande como esse, você tem que gostar de viajar e ter paciência de ir de Roraima a Porto Alegre de norte a sul, de leste a oeste toda hora, e é assim que você mantém um trabalho. Você tem que estar sempre ligando as pessoas à você, ao seu trabalho. Há sempre uma avaliação da gravadora, de produtores de programas de auditório, enfim você tem que corresponder a essa expectativa. O cara que está começando não está preparado para essas coisas, tem que apanhar um pouco, se você quer prolongar sua carreira, você tem que estar muito atento. No futuro, poucas pessoas vão fazer 10, 20, 30 anos de carreira. Tudo vai ser muito rápido. Vão aparecer artistas que venderão milhões de discos e desaparecerão rapidamente. E isso vai ser uma coisa normal. No final dos anos 60, as pessoas eram muito amigas e tinha-se mais persistência. Os valores humanos eram tidos mais em conta. Vivia-se em comunidades, trocavam-se idéias. Você chegava sem medo para as pessoas. Falo com muito carinho dessa época. Eu aprendi muitas coisas. Tudo naquela época eram acontecimentos políticos: a música, as artes, o comportamento, a chegada da era de Aquário, a revolução sexual, o Oriente no Ocidente. Muita coisa foi plantada nessa época, e tudo muito natural, muito ligado à terra. Já morava no Rio, mas também vivia períodos no Nordeste. A manutenção dos sonhos dos hippies era uma coisa de irmandade: dividia-se a comida, o sexo, etc... Hoje, final de milênio, parece final dos tempos mesmo, com clones, cyborgs, andróides, etc...

Sou de uma geração privilegiada, madura de vivências múltiplas. Vou viver a passagem do milênio. Sou fascinado por avanço, acho isso tudo muito inspirador: imaginar espaços, outros mundos, outras criaturas, a amplidão. Isso tudo me inspira muito. Mando sempre mensagens espirituais através das mídias, como disco, CD, vídeo, etc... E um modo de me comunicar com as pessoas. Acho que todas as artes se interrelacionam. Várias músicas que fiz saíram depois de ver alguns quadros de Salvador Dalí. É alucinante: quadros enormes, criaturas esquisitas, etc. Fico sempre ligado na sensibilidade e procuro passar isso para as pessoas. Cada pessoa é uma antena. Você mostra uma coisa e a pessoa capta.

O meu livro Carne de Pescoço é de 1982. Reuni vários escritos feitos em quartos de hotéis pelo Brasil afora, numa solidão danada. Sentia uma compulsão incrível, então não parava de escrever. E uma espécie de música total. Vários parceiros (Fagner, Jorge Mautner, Robertinho do Recife e eu mesmo) apareceram através dos versos desse livro. O livro não se encontra nas livrarias. Foi parte do acerto de renovação de contrato com a CBS.

Todo dia acordo cedo, leio, ouço música, toco. A cabeça está fresquinha. E bom para pensar, pensar, pensar. Tudo que imagino chega mais fácil numa rede. Sou extremamente caseiro. Tenho uma coleção de fitas de video alucinante. Passo horas vendo cinema. Bastante coisa de ficção científica, filmes B, gosto de me divertir vendo cinema. Adoro viajar, tenho uma equipe que já trabalha comigo há bastante tempo. Gero emprego para muita gente. Tenho um gravadorzinho que vive ao meu lado. Quando acordo no meio da noite, às vezes tenho umas idéias de música, umas frases. Pulo da cama, pego o violão e gravo. Um, dois dias, uma semana depois, volto a reouvir. Fico matutando na cabeça. Não deixo passar não, senão a gente esquece. Temos que valorizar esse momento. Se deixamos passar, vamos pensando em outras coisas. Todos os meus livros são pensamentos musicais.

Eu procuro muito a energia do povo. Aquele monte de gente olhando pra você no palco, você passa a ser o centro de atenção. Você está canalizando um vetor de uma série de intenções e pensamentos que são dirigidos pra você. Procuro trabalhar muito com isso. Não me considero entendedor de nada não, mas sinto as energias das pessoas. Às vezes pessoas atiram latas no palco, é uma barra. Você tem que aprender a lidar com essas diferenças louquíssimas. Há um grande prazer nisso tudo. Sem prazer não daria pra fazer nada mais.

Já passei por tanto inferno com as drogas. Consegui sair disso sem tratamento, sem psicanalista, numa espécie de autociência. A Roberta Ramalho, minha esposa, me ajudou muito nessa época. Eu ficava muito nervoso, mas procurei sair. Simplesmente você tem que achar a mesma porta por onde entrou e sair, já que você esquece onde ela está. Depois de tanto inferno que vivi, isso me afastou muito da avaliação das gravadoras. Passei a ser muito repudiado, tido como muito louco, intoxicado, difícil de trabalhar. Precisei apagar essa imagem também, e consegui. Saí disso tudo. E muito difícil, eu entrei e fui fundo demais nas coisas, mas tenho uma saúde muito forte. Esse momento que estou vivendo é o que me interessa. Essa felicidade familiar que estou vivendo com Roberta e todos os meus filhos. Você tem que saber o que é bom e o que é ruim para você. Tudo que aconteceu foi a forma, a estrada de chegar até aqui. Batalhei muito e eu estava perdendo o controle do meu trabalho em função da interferência da minha vida particular. Tudo é necessário no momento dessa vivência.

Quando convidei Zé do Caixão para posar para capa do meu disco A Peleja do Diabo com o Dono do Céu (1979), a gravadora achou um absurdo. É uma capa performática: estão lá Helio Oiticica, Xuxa Lopes e Zé do Caixão. Pensei: se a capa está causando tanta indignação, é curiosa e original. Foi uma confusão danada.

Desde cedo trabalho com Geraldo Azevedo. Elba Ramalho e eu fazíamos teatro juntos em João Pessoa. Tomávamos cachaça e ficávamos juntos de madrugada na praça conversando sobre tudo: música, arte, sobre o sul maravilha. Tomávamos cachaça e tocávamos violão. Várias vezes fazíamos isso.

A Vila do Sossego era uma casa de praia. Depois da temporada com Alceu no Rio voltei para recuperar as forças no Nordeste, e uma tia minha tinha essa casa. Aí eu coloquei uma placa. Vila do Sossego. Em 73 essa casa tornou-se um ponto de encontro de artistas de João Pessoa que se reuniam para fumar um baseado, tomar umas, conversar sobre arte e outros rumos. Provocou um grande tititi na cidade. O que aparece na música são citações desses encontros. Tudo era muito louco e muito novo nas nossas vidas. A gente era chamado de viado e outros termos da época. Era muito difícil, estávamos em plena ditadura. Tomamos muitas porradas e hoje triunfamos.

Nós, Raul Seixas e eu, dentro do contexto de música brasileira, desenvolvemos uma linha de música muito próxima. Só que Raul é o antecessor. Quando ele começou, me envolvi muito com o trabalho dele, que muito me inspirou. A mistura de Raul e Bob Dylan era muito instigante pra mim. O trabalho de Raul tinha aquela coisa de Nordeste e também de mexer com a filosofia popular que existe no Brasil. Depois que ele morreu, eu fiquei mais ou menos órfão. Esta linha de que estou falando é dentro da avaliação que se faz de autores de música brasileira. Pouquíssimas pessoas trabalham com essas letras malucas, estranhas, cheias de símbolos e que atraem certo tipo de gente. Ele deixou milhares de fãs. Depois que ele morreu, essas pessoas me procuram muito, vão aos meus shows e ao mesmo tempo comecei a cantar algumas músicas de Raul. Estou corn um plano de fazer um disco corn músicas dele. Kika Seixas, a viúva de Raul, me procurou recentemente e me passou alguns originais para musicar. Quero fazer esse disco na virada do milênio. Esse projeto vai ser quente. Minhas coisas têm uma programação.

Tenho fascinação por Bob Dylan desde a Paraíba. Eu era um cara muito curioso. Na rádio Borborema de João Pessoa tinha um acervo de discos que nunca tocava na programação, o discotecário era meu amigo e deixava que eu mexesse em tudo. Achava coisas que pensava que nunca ouviria em minha vida. Eu gravava isso tudo em fita e ficava cru casa horas e horas ouvindo. Tive acesso a Dylan através desse processo. Letras longas como as de Dylan me fascinavam. Um puta poeta! Eu não sabia inglês direito na época, então eu pedia ajuda a professores. Eles traduziam para mim e eu ficava horas e escutando. Um grande mensageiro! Um grande profeta! Aí pensava: você pode fazer uma música com uma estória longa sem se preocupar com o tempo, que vão tocar na rádio, fora dos padrões. Me iluminou muito. Tudo que a gente ouve, a gente absorve. Você vai misturando com o seu potencial próprio, seu talento. Agente tem que perceber essas passagens de informações. Somar isso. Se você não acerta logo, paciência, acerta na próxima.

Estou com planos de gravar um disco novo. Ele está prontinho na minha cabeça. Devo começar a gravar depois da Copa, em julho. O nome do disco será Eu Sou Todos Nós, que é uma mensagem de uma das músicas do disco: "Eu não sou eu / eu sou você / eu sou todos nós / hoje eu mais nada faço / eu somente falo pela tua voz / hoje durante um segundo fiquei a sós / S.O.S. com o mundo / hoje encontrei no fundo do poço meu rosto / e agora posso saber que eu sou eu / eu sou você / eu sou todos nós". Depois do disco Antologia. vou apresentar um disco com pacoles de músicas inéditas. Vou fazer este disco. O segundo sera Nação Nordestina, um CD duplo. Tenho que fazer este apanhado para gerações futuras. Vou fazer 20 gravações dos maiores artistas do Nordeste de todos os tempos: Jackson do Pandeiro, Luiz Gonzaga João do Valle, Dominguinhos, Anastácia, e mais um monte de gente de quem nunca se ouviu falar. Vou fazer regravações ramalheadas, ou seja, uma leitura desse universo ao meu modo, ao meu estilo. Tenho que fazer isso. A capa, será alguma coisa tipo colagem, Sargent Pepper’s dos Beatles com todo mundo. Um disco que seja viável comercialmente e um documento forte. Um projeto romântico e ideológico. O seguinte será o do Raul para a entrada no novo milênio.

Depoimento dado a Jorge Salomão no dia 17 de fevereiro de1998 na Jerimum Produções, Rio de Janeiro.