O grande desafio do homem actual é não perder a esperança no próprio homem.
Gostaria de nunca haver perdido meus 20 anos. Aquela capacidade inesgotável de acreditar sempre, de mesmo diante de desilusões, acalmar-me com a desculpa de que alguns podem ser maus,mas há tantos bons, há tantos sonhos, tantos sons...
A chamada maturidade nos traz uma calma, uma capacidade de analise que desliza na alma como um éter frio adormecendo a ilusão, lendo o sentido das coisas, descobrindo o que se encontra por trás da palavra que engana, da farsa que emana à frente do sentido verdadeiro de cada ato.
Decerto a maturidade também traz essa burrice para entender as atitudes dos que nos governam, das ditas autoridades que prometem nos fazer felizes. Mesmo que tentemos ser irremediavelmente crentes, os que vivem no poder, digo, do poder, conseguem essa aquaplanagem de descrença, de ofensa, de descaso comigo e com esse pacto povo brasileiro.
No momento em que duzentos homens, crianças e mulheres fumegavam nas chamas de mais um desastre aéreo, desapareciam as autoridades, ocupadas que estavam num Comitê de Crises. Erraram duas vezes os marqueteiros: viram “crise” onde havia corpos carbonizados; procuraram uma resposta política quando a nação aguardava uma resposta humanitária, o acalento ao sôfrego coração de familiares e amigos dos mortos.
Boba quimera! O que se viu foi o top... top das mãos de um assessor presidencial comemorando um possivel defeito da aeronave que poderia isentar de culpas o governo a quem com suas barbas ranças, serve.
Gesto caduco de desrespeito aos idosos e aposentados que também foram destruídos na bestial tragédia. Gesto de insulto aos cidadãos brasileiros. Gesto de tradução explicita de que para ele(s), nós não existimos. Somos cidadãos escarnecidos.
As pessoas e seus sofrimentos não existem. Só há lugar, na insana racionalidade do poder, para a próxima pesquisa do ibope, as subidas e descidas de pontos, quantas possibilidades se anunciam para um determinado grupo dirigente lá permanecer.
Tão clara quanto o clarão aberto pela explosão do Airbus A320, é a constatação de que nenhum deles, embevecidos que estão no poder, aprendeu as lições de Cristo, Gandhi, Betinho... As palavras bonitas que ensinaram em seus textos, que representam na televisão, são formas de nos convencer, num marketing estrategicamente estudado, de que suas vidas são dedicadas aos caminhos que nos levam a um futuro de paz. Quem dera!
Gente de verdade, de carne e osso e sentimentos é Edinanci que comemorou o ouro dedicando a sua medalha, entre uma e outra lagrima. Valeu Edinanci, você, campeã vinda do Povo, deu um “hippon” na insensibilidade de todos eles!
Estamos no meio de um jogo em que vale tudo, exceto o mínimo respeito ao grande patrimônio humanístico-afectivo da humanidade que, com raro denodo, é jogado todo o dia entre os destroços de uma sociedade tosca e individualista.
A pessoa, o Ser humano de nada valem para o Poder cujo sentido encerra-se em si mesmo e cujo projeto se resume a quanto tempo pode gozar sobre nossos escombros queimados.
Saudade da minha antiga idade.
Saudade dos meus vinte anos, quando não via esses “groovings”, essas rugas de pedra escorando ternura dos corações humanos.
- “Givaldo Medeiros” -
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