terça-feira, 10 de junho de 2008

ROSA: A MEMÓRIA EM CARTAS

O corrente ano de 2008 é rico, em prosa e verso, com datas e efemérides que fizeram e/ou fazem a história, aqui e alhures.
Assim, por exemplo, há duzentos anos, fugindo das botas do poder de Napoleão Bonaparte, a família real deixa Portugal, optando por viver no Brasil.
Depois, há exatos cem anos, morria Joaquim Maria Machado de Assis, a pena mágica do romance brasileiro.
Igualmente, em 1908, isto é, há um século, nascia em Minas Gerais, Brasil, o diplomata e escritor João Guimarães da Rosa, o revolucionário e moderníssimo autor de “Grande Sertão e Veredas”, marco de um novo tempo na lingüística nacional brasileira.
Por outro lado, no Velho Mundo, em 1968, quarenta anos atrás, a rança tremia ante o movimento estudantil, que pregava, entre valores, o respeito à legenda de que “é proibido proibir”.
Ainda no tumultuado ano de 1968, tropas russas invadiram Praga, e, no Brasil, o AI-5 podava o Judiciário, fechava o legislativo e amordaçava a democracia.
Hoje, porém, cicatrizadas as feridas institucionais, as letras brasileiras registram cartas inéditas de Guimarães Rosa, dirigidas a Mário Calábria, igualmente diplomata, e colega de oficio no Itamaraty.
Os textos – é obvio – espelham o talento, a imaginação criadora e o processo de antenada identificação de Guimarães com a sociedade a cultura, os costumes e a vida do Brasil.
As cartas, hoje, nas mãos do poeta Alexei Bueno, são testemunhos que precisam de uma mais rápida divulgação.
Conforme redenhou respeitável órgão de mídia nacional brasileira, em uma das suas missivas, o autor de “Sagarana” observa: “Com a idade, meu caro, a gente vê que esta vida é vertiginosa. Como abarcá-la, de forma disciplinada, ou mesmo apenas plausível? Recorro a Platão, a Plotino. Você ainda não me compreendeu”.
Para concluir: “O importante não é o além, intrínseco (...) mas para fins de permitir à gente acentuar um pouco isto aqui. E você mesmo, prepare-se. Ao beirar os 50, você está seguramente sacudido”.
Aliás, pela boca de Riobaldo Tartarana, o caboclo-narrador de “Grande Sertão e Veredas”, ele filosofava: “Eu de quase nada sei,mas desconfio de muita coisa”.

‘Paulo Gadelha’

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