segunda-feira, 2 de junho de 2008

DERRADEIROS SINAIS DE VIDA

O homem está se submetendo, cada vez mais, à tentação da serpente, não expressando qualquer sinal de resistência. Cai nesse apetite violento e comprazer. O planeta Terra está sendo comido como a maça nas mãos de Eva. Consumido pelas entranhas por uma insaciável fome. Não, não é fome. É um processo irreversível de destruição.
O Ártico está degelando, desfazendo-se como um enfermo, em estado grave, na UTI. A ganância humana conta os seus dias. Nenhuma iniciativa dos países mais ricos para se conseguir reverter esse degelo. O que há é um conjunto de ações para dividir o espólio daquela parte do mundo que, em breve, desaparecerá. Na Groenlândia, representantes dos Estados Unidos, Canadá, Rússia, Dinamarca e Noruega discutem como dividir aquele continente de água e gelo. Traçam fronteiras, definindo a quem vai pertencer a riqueza existente no ventre da terra, a mais de quatro mil metros de profundidade.
Nessa ganância desenfreada, dois países já fincaram as suas bandeiras de titânio, como fazem na lua, marte ou por aqui mesmo, em algum país em que haja petróleo. Os Estados Unidos, pesar de terem enviado representantes à reunião, discordam da realização desse encontro. Segundo a Deutsche Welle, alegam que o aquecimento global permitiria uma prospecção mais fácil das jazidas minerais da região polar, onde se encontra um quarto das reservas mundiais de petróleo e gás natural. Porém, pesquisadores russos, bons conhecedores do Ártico, estimam que, somente na chamada Cordilheira de Lomonossov, estão disponíveis para o consumo mais de dez bilhões de toneladas de petróleo e gás natural.
Outros países, de olhos abertos, permanecem atentos à questão. Porém, os cinco países que se reuniram na Groenlândia argumentaram que, devido à profundidade das jazidas, pouquíssimos serão capazes de fazer a prospecção. Segundo acrescentaram, só os países mais ricos e vizinhos daquela região teriam essa capacidade técnica. Em se tratando de um continente constituído apenas por montanhas e imensos blocos de gelo, pode-se prever o início de outra “guerra fria”.
O homem é assim. Explorado esse petróleo, existirão mais máquinas, com os seus escapes poluindo o planeta. Não se observa algum esforço coletivo para o uso de energia alternativa condizente com o ecossistema. O homem é assim, mata a natureza, que lhe é mãe e moradia. No seu irracional egoísmo, amealha os bens que devem ser preservados para as futuras gerações. Bem cabível é a lembrança de um trecho da obra “O Judeu” de Camilo Castelo Branco:
“À volta daquele cadáver travou-se uma briga de peito a peito, um cortar de ferros e ressaltar de sangue que espirrava a face do morto: eram os três assassinos a defenderem o espólio das presas duns que subiam e doutros que desciam acossados pelas chamas”.
A que acrescento: de petróleo. Sim, chamas de petróleo. Esses acontecimentos são profecia dos derradeiros dias de vida.

‘ Damião Ramos Cavalcanti’

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