segunda-feira, 24 de março de 2008

ESCULTURA DE AMANHÃ

Dentro de um secular sossego, nós somos a escultura de amanhã. (trilhos de formiga descem no cabelo patinado de pó o coração) Tu e eu só estátuas de amanhã. Não temos na mão a flor um livro uma espingarda uma cadeira gasta onde morrer. E sem o monstro gótico apunhalado aos pés. (Todos os sonhos são de pedra ou bronze não os meus de palha ou de papel) Tu e eu baixo-relevo vendidos tocados expostos em vida perseguidos pelos milionários e pelos mortos talvez que invadiram já o pedestal das estátuas. Tu e eu elípticos de sexo ontem gritada no teu peito hoje secreto no meu ventre deserdados da sombra já sem gesto, escultura de amanhã.

Luiza Neto Jorge

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