segunda-feira, 24 de março de 2008

ONDAS MEDIAS

Sergio Caladas foi radialista de muito prestigio e audiência no Sertão dos anos 60 e 70. teria mais sucesso ainda se o ganho pouco lhe fosse bastante para botar comida em casa sem passar pela feira de trocas das criticas virulentas por elogios fáceis.
Não vou lhes revelar as cidades e emissoras em que o nosso comunicador atuou. Mas, se quiserem uma pista, sigam alguma que leve do Sabugi ao Rio do Peixe. Nessa amplidão, ele dominou os melhores horários em ondas médias, naqueles tempos.
Segundo os amigos Ruy Dantas e Heron Cid, Sergio foi um dos pioneiros dos chamados programas políticos, estilo que se instalou feito posseiro no radio paraibano no horário de meio dia às três da tarde.
Ruy e Heron, estrelas do radiojornalismo do Sistema Correio, sabem historias ótimas de Sergio, de quem conhecem mais a fama do que conhecem a voz, líder de Patos a Cajaceiras quando os meninos do Sertão ainda estavam nos cueiros.
O programa consagrado do jeito Sergio Cabral de fazer rádio foi o “Pegando Fogo”, da Sonora AM, onde o glorioso comunicador inventou de bater no mais que temido Levi Olímpio, na época prefeito de Pombal.
Motivo: o alcaide pombalense era o único do raio de alcance da Sonora que não havia ainda se entendido com Sergio, que não entendia a relutância do homem em vir se acertar. Não entendia porque não conhecia direito com quem estava mexendo.
Levi, por sua vez, estava esperando só uma oportunidade de “endireitar o espinhaço” do sujeito que andava falando mal no radio da “administração fraquinha” que penalizava “o povo sofrido” da cidade de pombal.
Sergio soube dos propósitos do prefeito. Mas, ancorado na certeza de que ao político é mais vantajoso cooptar do que confrontar, resolveu subir uma oitava na contundência. Era pra ver se o homem chegava junto, enfim.

ESTICANDO A CORDA

Foi no dia em que Sergio Caldas abriu o “Pegando Fogo” com o anuncio de que haviam lhe repassado um alentado dossiê contendo revelações bombásticas sobre a Prefeitura de Pombal.
“Aguardem, minhas senhoras, meus senhores, porque daqui a pouco o negocio vai ficar Pegando Fogo”, era o bordão de Sergio, ao qual o pessoal da técnica colava a Quinta de Beethoven bem na parte do tan-tan-tan-tan-tan-tan...
Naquele dia, Levi ainda estava almoçando quando um chaleiro veio lhe dizer para ligar o radio na Sonora que Sergio Cabral estava ameaçando soltar uma “bomba” contra o prefeito.
O prefeito não ligou o radio nem contou conversa. Levantou-se da mesa na mesma hora, botou o chapéu e já ia pegando a chave do carro quando a mulher interveio: “Pelo amor de Deus, homem, não faça besteira. Chame Seu Chiquinho”.
Seu Chiquinho era o secretario da Prefeitura, assessor e motorista do prefeito, sujeito sabido que só ele e que já se oferecera para “dar um jeito” em Sergio Caldas. Um jeito bem diferente daquele que Levi poderia dar.

EXPLOSIVO

Quem lembra sabe que Levi Olímpio carregava dois metros de altura por 140 quilos de massa bruta. Tudo isso sob o talante de uma cabeça quente que volta e meia acendia ligeirinho o pavio mais curto de todo o Sertão paraibano.
Pois bem, acionado, Seu Chiquinho reuniu o numerário que julgava bastante para a empreitada, pegou o jipe e foi a mais de mil bater na Sonora. Chegou bem no intervalo comercial que antecederia a explosão da “bomba”.
Sergio reconheceu Seu Chiquinho no ato, quando o homem entrou no estúdio. Era o mesmo cidadão que dias atrás lhe abordara na entrada da radio e aconselhara a parar com esse negocio de meter o pau no Doutor Levi.
Mas aquela aparição ali, naquele momento, não foi suficiente para arrefecer o ímpeto do radialista. Muito pelo contrario. Sergio mandou o sonoplasta subir o tan-tan-tan-tan-tan-tan…
- Minhas senhoras, meus senhores, é agora. É agora que vocês vão saber de toda a verdade sobre o que se passa na Prefeitura de Pombal.

A “BOMBA”

Enquanto escalava o suspense, Sergio esfregava um papel qualquer entre indicadores e polegares, bem pertinho do microfone, sugerindo que aquele seria um documento revelador, a prova de todas as denuncias.
Nesse momento, Seu Chiquinho aproximou-se calma e silenciosamente da bancada do radialista e sobre ela depositou um envelope branco, de conteúdo bem presumível e visível. As pontas de algumas notas se expunham estrategicamente.
Sergio olhou o envelope com o rabo do olho, com os dedos da mão esquerda apalpou discretamente o material, sentiu-lhe o volume, avaliou a espessura, especulou mentalmente a importância e em seguida mandou altear novamente o bege.
Foram intermináveis 15 segundos antes de o contra-regra abrir o microfone do apresentador, que respirou fundo e soltou no ar uma bolha radicalmente oposta àquela que havia prometido desde o inicio do programa:
- Minhas senhoras, meus senhores, chegando agora mesmo em nossos estúdios informações que indicam uma espetacular reviravolta no caso de Pombal – disse para em seguida surpreender meio mundo de Pombal a Antenor, com a seguinte revelação:
- E pelo que estou vendo aqui minhas senhoras e meus senhores, é tudo mentira aquilo que andaram dizendo do prefeito Levi Olímpio...

‘Rubens Nobrega’

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