Não sei se a Igreja Católica está certa ao ampliar a relação dos pecados capitais. Essas coisas do pecado são como a Constituição de um país: quanto menos leis, melhor. Um bom exemplo disso é a dos Estados Unidos; sintética, essencial, e por isso muito respeitada.
A ampliação divulgada recentemente pela Santa Sé inclui a manipulação genética, o uso de drogas, a desigualdade social e a poluição do ambiente.
São itens muito abrangentes e que revelam certa confusão. A “manipulação genética” não pode ser condenada a priori; muito do que o homem obtém com as novas tecnologias do DNA redunda em beneficio para a espécie. Algumas levam ao aprimoramento de plantas, adubos, sementes, e concorrem para diminuir a fome no mundo. Deixar o semelhante morrer de fome não é, por acaso, falta maior do que pesquisar o código da vida?
Mais confusa é a idéia de um pecador como “desigualdade social”. Quem deve ser punido por este tipo de falta? Os governantes? Os ricos? Estes já são advertidos no Evangelho, mais precisamente na parábola que fala do camelo e da agulha. Quanto aos governantes, não vão sacrificar o seu pragmatismo, que muitas vezes lhes permite governar, em favor de preceitos religiosos. Seria submeter o Estado, que é leigo, às imponderáveis razoes da fé.
O pecado é uma transgressão individual. Tem a ver com a alma, não com as ações coletivas. Os chamados crimes sociais refletem a desobediência a prescrições que já existem. A principal delas é “Ama o próximo como a ti mesmo”, que Emmanuel Kant formulou em nível prático como “Não faças aos outros o que não queres que te façam a ti”. Se a igreja tem dificuldade para nos incutir essa norma fundamental, não vaio resolver o problema criando novas leis.
Mesmo porque há nisso um risco, como sabia o velho Machado de Assis. Segundo ele, o ser humano só deseja o proibido. Novos pecados criam a possibilidade de novas transgressões.
‘Chico Viana’
segunda-feira, 24 de março de 2008
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