Tens a cor mais límpida e real e a luminosidade calma das manhãs de primavera Eu carrego na alma a explosão boreal e a densidade rubra das tardes de inverno ens nos pés as estradas, os caminhos, o destino Tenho asas densas e mergulho cego num vôo sem rumo -caio, levanto, bato o pó e me aprumo- És música cristalina, o som puro, melodia solta ao vento Sou o tempo, semifusa, o contratempo Tu, a beleza límpida e afinadíssima da voz de soprano Sou Mozart ao piano. És da noite as estrelas iluminadas no céu enluarado Sou cometa incandescente e alucinado atravessando veloz, incendiando a paisagem És postal. Sou miragem. Tens a força da terra a suavidade da vinha, a tez da uva Sou vento que te remexe, vendaval, e, depois, o carinho precioso da abençoada chuva. És paisagem a céu aberto, montanhas, água, brisa, vela Sou Van Gogh escancarado na tela. És o riacho que mata a sede Sou a cascata incontrolável És descanso, a paz, o sono, a rede Sou o desejo inadiável És o calor que alenta os viajantes Sou a brasa que arde em seu fogo ruivo Encantas com a voz de mil pássaros cantantes Eu uivo. És, inteira, parte de mim que se perdeu. Sou, assim dividido, definitivamente inteiro teu.
Nilson José Ribeiro
segunda-feira, 24 de março de 2008
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