terça-feira, 8 de abril de 2008

EU QUERO MUDAR O MUNDO

É um tique mental da nossa época. Todas as vezes que critico algo de errado, alguém diz. “Que é isso rapaz! Você é um daqueles ingênuos que querem mudar o mundo?!” Claro que quero, sim, mudar o mundo, e não acho que seja ingênuo por querer isso. (Sou ingênuo noutras coisas; não nessa). Querer mudar o mundo nunca foi ingenuidade, nunca foi utopia. Mudar o mundo não apenas é possível. É inevitável. Mudamos o mundo o tempo inteiro enquanto estamos vivos, enquanto estamos andando, agindo, falando, fazendo coisas. Optando, influenciando, interferindo.
Quando eu tinha dezesseis anos, a palavra de ordem era “mudar o mundo”. O cinema daquela época, a musica popular, a literatura, o teatro, tudo que se fazia naquela época tinha como objetivo mudar o mundo. Ok, nem tudo era assim, mas a parte mais significativa, mais inovadora, mais criativa e mais inteligente era assim. Todo o mundo queria mudar o mundo. A expressão hoje na moda, “fazer sucesso”, já existia, mas era condicionada ao sucesso de cada um nessa tarefa, ou seja, à qualidade e quantidade de mudanças que cada um conseguia produzir.
Porque na verdade ninguém muda o mundo inteiro, instantaneamente, com um estalar dos dedos, uma batida da varinha de condão, não é mesmo? Os rapazes espertos de hoje, que só pensam em sucesso, leia-se ganhar muito dinheiro, parecem supor que os projetos antigos de “mudar o mundo” buscavam isso, uma mudança tipo conto de fadas, um clique, um enter, um play. Pois olhe, naquele tempo não havia mudança que não exigisse esforço, trabalho, sacrifício; que não exigisse estudo ou preparação. O ideal de “mudar o mundo” não tinha a visão de hoje, quando tudo parece ser acessível e acessável, quando ninguém precisa nem saber ler para poder navegar, quando nem é preciso saber escrever para escolher o produto, basta levar até ele o dedinho do cursor e apertar o botão.
Estou sendo irônico com a cultura digital? É meu direito, porque foi minha geração, a dos cinquentões, que a inventou. Tim Berners-Lee, que inventou a WorldWideWeb, é mais novo do que eu; Bill Gates e Steve Jobs também. Não digo isso para me gabar, porque além desse dado numérico não tenho muito a ver com esse pessoal. Foram necessárias muitas milhões de noites em claro, simultaneamente, para criar os programas e protocolos que possibilitam á galera de hoje estar a um clique de distancia do produto que querem comprar ou da foto da mulher pelada que eles querem procurar. E mais um vez, no quero ser melhor do que ninguém, também como compro produtos e olho foto de mulher pelada. A poesia e o cinema talvez não mudem o mundo. O mundo muda como o vento se move. Só o vento porque se está movendo, e só é mundo porque está mudando. Cabe à gente embarcar na mudança, que ocorrerá, queiramos ou não, e dizer: “Já que vai mudar, é pra mudar assim”. E mostrar como.

‘Braulio Tavares’

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