sexta-feira, 25 de abril de 2008

O MITO E A OBRA

Li, na juventude; com sofreguidão e admiração todas as obras do sempre atual escritor russo Dostoievsky, embriagando-me na sua sabedoria, porém depreendendo do autor o turbilhão de sua vida perturbada. É notório, que dificilmente o autor consegue se divorciar de suas agruras, conflitos e angústias ao produzir uma obra. Quando muito, disfarça os contornos, menos profundos, porém deixa sempre pegadas da sua alma impregnada nos “pensamentos” dos seus personagens.
Dostoievsky, num raro momento de quietude e equilíbrio, escreveu “Crime e Castigo”, a sua obra-prima, fruto da sua inefável, criatividade, aguçada por indisfarçável, porém momentânea, paz de espírito, tão rarefeita em sua atribulada existência.
Como firmam os seus biógrafos, o inimitável mestre das letras, viveu em constantes aperturas financeiras e, fustigado pelos seus impiedosos credores. Chegou a culminância de ser processado pelas muitas dividas contraídas o que, inclusive, lhe custou amargos embora criativo, dias no cárcere.
O isolamento, renderam-lhe meditação, menos dispersão, mais equilíbrio, além de avivar-lhe, a um só tempo, a perseguição e a criatividade num mundo até então desconhecido por ele: a prisão, o crime...
Crime e Castigo, tema criminal abordado com argúcia por Dostoievsky, centraliza a narrativa do homicídio praticado por um estudante contra uma anciã usurária.
O curioso é que o escritor, para não se limitar a insípida narrativa, mergulhou nos meandros dos cartórios criminais, estudou profundamente o código penal russo, analisou a psicologia dos criminosos e das penas a eles impostas conforme a prática delituosa, inteirou-se da instrução do processo crime, dedicando-se integralmente à criminologia e a criminalística da Rússia do seu tempo. Daí a riqueza do seu livro “Crime e Castigo”, uma atraente obra literária e, pela abordagem técnica, um abalizado trabalho de ciência criminal.
Toque de humanidade existe em profusão em toda a obra de Dostoievskiana, nimbada de dor e compreensão, através das suas personagens angustiadas, irrequietas e sofredoras.
Há nos seus escritos aspetos interessantes de criminologia, a partir do juiz preparador Porfírio, em “Crime e Castigo” e luzes na senda do cristianismo, como se vislumbra nos personagens Myschkine do “Idiota”, Aliocha dos “Irmãos Karamazov” e Sônia de “Crime e Castigo”.

‘Adalberto Targino’

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