Uma casa na terra. foi isso que criei,
sabendo como pode ser difícil encontrar,
muitas léguas em redor,
uma luz com esse benefício.
andar, andei. fazia como via,
os outros a fazer. invocava
as coisas da manhã e escrevia,
com elas, a nossa redenção.
o universo seria o que quiséssemos.
a nervura do mirto, a essência nítida.
a curva do arroio, a intensidade
com que o sol tocasse a pele.
mesmo de noite, a busca prosseguia.
ao subir ao abismo do teu corpo,
ao descer à densa irrupção do teu olhar,
procurava apartar a escuridão, e dissipá-la.
podia ser possível renascer.
podia ser possível antecipar
o fundo aterrador que há na mágoa
com que o meu no teu rosto se procura.
bastava, só, falar. dizer que ódio,
ou que cegueira, pesava sobre nós.
que impaciência gelava o nosso sono,
que pesadelo aniquilava o sonho.
bastava, só, dizer o que podia,
ou não, ser feito, usando a linguagem
das aves desabridas, as ondas
que há no mar, o vento sobre os campos.
agora, sobre a terra, há só desilusão.
cavalos sem forragem, colheitas por fazer.
e golpes desferidos nos sicômoros,
que, como chagas, sangram.
nada nos perdoará a atrocidade.
nada nos redimirá por termos ido
ao arrepio da afronta, da tristeza.
sempre que te chamo não respondes.
[in Negrume, & Etc, composto e paginado por Olímpio Ferreira, 2006]
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