quinta-feira, 10 de abril de 2008

RECEITAS DE IMPERADOR

Vejam como são atuais, guardadas as diferenças dos costumes daquela época com os de hoje, as instruções do Marques de Itanhaém, algumas das quais podem inclusivamente ser utilizadas por atuais e futuros governantes brasileiros, sejam eles prefeitos, governadores ou presidentes da Republica.

Eis alguns trechos desta receita formulada pelo tutor:

1 – Discernindo sempre do falso o verdadeiro, venha o imperador em último resultado a compreender bem o que é a dignidade da espécie humana, a qual o monarca é sempre o homem sem diferença natural de qualquer outro individuo humano, posto que sua categoria civil e eleve acima de todas as condições sociais.

2 – Para que o imperador, conhecendo perfeitamente a força da natureza social, venha a sentir, sem o querer, aquela necessidade absoluta de ser um monarca bem, sábio e justo.

3 – Em seguimento, ensinarão os Mestres ao Imperador que todos os deveres do Monarca se reduzem a sempre animar a Industria, a Agricultura, o Comercio e as Artes.

4 – E tudo isso só se pode conseguir estudando, o mesmo Imperador, de dia e de noite, as ciências todas, das quais o primeiro e principal abjeto é sempre o corpo e alma dos homens.

5 – Quero que meu Augusto Pupilo seja um sábio consumado e profundamente versado em todas as ciências e artes e até mesmo nos ofícios mecânicos, para que ele saiba amar o trabalho como principio de todas as virtudes. E saiba igualmente honrar os homens laboriosos e úteis ao Estado.

6 – Mas não quererei decerto que ele se faça um literato supersticioso, para não gastar o tempo em discussões teológicas como o imperador Justiniano.

7 – Nem que seja um político frenético para não prodigalizar o dinheiro e o sangue dos brasileiros em conquistas e guerras e construção de edifícios de luxo, como fazia Luiz XIV na França, todo absorvido nas idéias de grandeza.

8 – Finalmente, lhe ensinarão os mestres que um monarca, toda vez que não cuida seriamente dos seus deveres do trono, vem sempre a ser vitima dos erros, caprichos e iniqüidades dos seus ministros, cujos erros, caprichos e iniquidores são sempre a origem das revoluções e guerras civis. Cumpre ao monarca ler todos os jornais da Corte das Províncias e receber com atenção todas as queixas e representações que qualquer pessoa lhe fizer contra os ministros de Estado, pois só tenho conhecimento da vida pública e privada de cada um dos seus ministros é que poderá saber se os deve conservar ou demiti-los imediatamente. Nomeando outros que cumpriram seus deveres e que façam a felicidade da Nação.
Não seria de todo mal que os atuais governantes no Brasil contassem hoje com um Marques de Itanhaém. Assim, ninguém poderia se valer daquela velha e esfarrapada desculpa: “Eu não sabia”. Não é mesmo, Lula?

‘Agnaldo Almeida’

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