segunda-feira, 14 de abril de 2008

UMA DOENÇA CHAMADA AMOR

“Especialistas ensinam que insegurança, baixa auto-estima e ciúme são alguns dos sintomas apresentados pelos ‘doentes’”

O amor não se pode tornar uma doença? Parece incrível, mas o amor pode se transformar em um sentimento ruim para algumas pessoas e, quando isso acontece, ele causará dor e sofrimento e passará a ser uma doença. Emm pleno século XXI, onde os relcionamentos são cada vez mais abertos e “descart´veis”, tem sido cada vez mais comum jovens e adultos recorrerem aos consultórios psicológicos em busca de ‘cura’ para uma ‘doença’ chamada amor. Segundo especialistas e estudiosos do assunto, o chamado “Amor Patológico” seria uma doença que causa dependência tanto quanto o álcool e outras drogas e o ‘doente’ precisa de tratamento.
A psicóloga clinica Maria Celene Almeida Leal, que também é terapeuta de casais e família, revela que; tem atendido um número cada vez maior de pessoas que estão sofrendo de amor e o mais impressionante é que a maioria dos ‘doentes’ que procuram o seu consultório são homens acima dos 30 anos.
“Quando o amor é patológico” foi um dos temas discutidos durante um importante Encontro de Relacionamentos Amorosos, com o apoio de um curso de Psicologia.
“O amor é considerado saudável quando existe um sentimento e um comportamento recíproco de prestar atenção e cuidados ao companheiro. Mas quando ocorre falta de controle nesse sentimento ou comportamento e uma pessoa passa a ser prioridade para a outra, em detrimento de outras atividades e pessoas anteriormente valorizadas, está caracterizado o amor patológico. Neste caso, o amor definido em dicionário como sentimento que impulsiona o individuo para o belo, digno ou grandioso, passa a significar sofrimento e dor capaz de levar à destruição de si próprio e de quem se ama”, explicou Celene Leal.

Desencontros nas relações

A psicóloga Celene Leal, que também é mestra em Educação, explicou que o ‘amor patológico’ pode estar presente nas mais variadas formas de relacionamento, como por exemplo, entre casais, amigos, irmãos ou na relação de uma mãe com o filho. “A pré-disposição para desenvolver este tipo de amor varia de pessoa para pessoa”, complementou.
Celene Leal disse que a idéia deste encontro sobre Relacionamentos Amorosos foi justamente pela percepção de que os casamentos considerados sólidos repentinamente são desfeitos. “Isso nos levou a analise de quais os motivos que estriam causando desencontros nos relacionamentos amorosos na atualidade. Um dos problemas seria justamente o amor patológico. Este assunto, inclusive, tem sido motivo de estudos e discussões no âmbito; cientifico mundial”, observou a especialista.

Pessoas que se mostram carentes

Segundo a psicóloga Celene Leal, as pessoas que estão ‘doentes de amor’ apresentam geralmente uma serie de sintomas, entre eles, insegurança, baixa-estima, medo e até ciúme.
“A pessoa que sofre de amor patológico está mergulhada num misto de sentimentos devastadores de baixa auto-estima, rejeição, insegurança, medo do abandono, posse, carência, ciúme, vingança e desespero, o que pode culminar em atitudes inadequadas como perseguições, suicídios e até assassinatos. Esse tipo de amor é próprio de pessoas que não suportam ver o amado viver a sua própria vida de forma livre”, alertou Celene Leal.
Ela explicou, ainda, que num casamento no qual um dos cônjuges sofre de amor patológico, é comum perceber que este sinta a necessidade descontrolada de cuidar do outro, enquanto este sente a necessidade de ser cuidado, ou seja, de se mostrar fraco ou carente.

Mulheres são mais afetadas

A especialista Celene Leal disse que ainda não foram realizados estudos epidemiológicos sobre a manifestação do amor patológico entre homens e mulheres, mas existem indícios de que esse problema parece ser mais freqüente entre as mulheres.
“Entretanto, esta constatação pode estar relacionada ao fato de que os homens são mais resistentes em buscar ajuda,mesmo de profissionais, quando o assunto é relacionamento amoroso. Na minha prática clinica de terapia de casais e família, o maior percentual tem sido em homens acima dos 30 anos de idade”, enfatizou Celene Leal.
Ela explicou que atualmente, o amor patológico já é visto e tratado como um transtorno psiquiátrico e não apenas como um problema de relacionamento, já que alguns comportamentos apresentados estão presentes em outros, tais como o transtorno ansioso e depressivo e o transtorno obsessivo-compulsivo.
“Em termos psicológicos, então, a essência dessa patologia parece não ser amor,mas o medo de estar só, o sentimento de menos-valia, de não merecer amor, de vir a ser abandonado”, destacou a psicóloga.

Tratamento multiprofissional

De acordo com Celene Leal, alguns estudos apontam, ainda, que clinicamente, o “Amor Patológico” se assemelha os critérios de diagnósticos empregados n dependência de álcool ou outras drogas. “Para se vencer o amor patológico, é necessário uma intervenção conjunta de profissionais das áreas da psiquiatria e da psicologia com a família da pessoa portadora. Isto porque a atenção, a compreensão externa e o dialogo aberto e franco sobre o problema são medidas fundamentais para ajudar a aliviar a angustia de quem sofre com um amor que perdeu os limites”, orientou. A psicóloga informou que a psicoterapeuta Eglacy Sophia, pesquisadora do ‘Amore’ (Ambulatório do Amor em Excesso), da Universidade de São Paulo, disse que é possível encontrar semelhanças entre as características desse tipo de amor e da dependência de álcool e outras drogas.
“A doutora cita sintomas de bstinencia, como angustia, taquicardia e suor na ausência ou no distancimento (mesmo afetivo) do amado. O individuo se preocupa excessivamente com o outro, as atitudes para reduzir ou controlar o comportamento de cuidar do parceiro são mal-sucedidas, é despendido muito tempo para controlar as atividades antes valorizadas. Estas seriam algumas características apontadas pela pesquisadora Edglacy Sophia semelhantes aquelas percebidas nos dependentes de drogas”, apontou Celene.

Teste o seu amor

A doutora Eglacy criou um questionário para ajudar na avaliação da ‘dosagem’ do amor com relação ao parceiro. Teste o seu amor e procure questionar-se sobre:

1º Você costuma sentir-se satisfeito com a quantidade de atenção e tempo que despende ao seu parceiro ou percebe que fez mais do que gostaria?

2º Você acha que a quantidade de atenção que dirige ao seu parceiro está sob seu controle ou é comum tentar diminuir e não conseguir?

3º Você mantém outros interesses e relacionamentos ou abandonou pessoas e funções em decorrência da sua vida amorosa?

4º Você continua se desenvolvendo pessoal e profissionalmente após o inicio de seu relacionamento amoroso?

Resultado: Se a maioria das suas respostas foi não; então pode considerar-se um doente de amor.


‘Henriqueta Santiago’

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