segunda-feira, 17 de março de 2008

BRASIL – 1808 – PARTE IV

Sobrevivência, estratégia, permanência de uma dinastia e de algumas riquezas. Tais objetivos só ficariam possíveis para Portugal em 1807 se o rei fugisse para a sua maior colônia. Assim começou a saga da Família Real em direção ao Atlântico Sul.

Um país pequeno, na esquina do Atlântico, com medo do domínio espanhol, com pavor das invasões francesas, dependente da política e da economia inglesa - Portugal não era mais uma potência dos mares. Para recuperar a autonomia e o trono, sob o domínio espanhol de 1580 a 1640, a nobreza lusitana casou a jovem Catarina de Bragança com o inglês Carlos II. O casamento foi um fracasso amoroso, mas selou uma forte aliança entre os dois países.

Pouco mais de cem anos depois, foi com outro casamento que Portugal tentaria acalmar seus medos em relação à Espanha. O do jovem príncipe português João, de 18 anos, com a infanta Carlota Joaquina, que na época tinha apenas 10. João não era o herdeiro do trono. Só assumiu quando o irmão mais velho, José, morreu e a Rainha Maria I perdeu completamente o juízo.

A corte dos Bragança, muitas vezes chamada de rude e grosseira, tinha muitas riquezas. O palácio de Queluz, onde vivia Dona Maria I, era a Versailles portuguesa, com salões inteiros decorados a ouro. A mesa e as festas eram o espetáculo da corte.

“A mesa era festiva, lúdica e aparatosa. A arte do barroco era essencialmente uma arte para provocar a emoção. A mesa tinha, de fato, esse objetivo festivo, lúdico, espetacular, polifônico. Era um acontecimento teatral”, conta o diretor do Museu de Arte Antiga, José Monterroso.

Mas esse esplendor estava com os dias contados. Em 1806, quando Napoleão decreta o bloqueio comercial contra a Inglaterra, Portugal, se viu em maus lençóis. Como fazer sem o principal parceiro comercial? Como fazer para evitar a invasão dos franceses?

É quando Dom João desenterra um velho plano português: a mudança para o Brasil, uma idéia cogitada há quase 200 anos por diversos monarcas e seus conselheiros, entre eles o Padre Antonio Vieira e o Marquês de Pombal. Em segredo, começa a tramar a escapada com os ingleses. Mais secretamente ainda embala as riquezas, para escapar da pilhagem das tropas de Napoleão.

No meio do turbilhão, Dom João preparou a partida. Aceitou a ajuda e a escolta dos ingleses, mas sempre prudente, decidiu viajar no próprio navio, para não deixar os domínios portugueses. Depois de tanto tempo de aparente indecisão, mandou buscar os filhos e a mãe, no palácio de Queluz.

A carruagem deixou o palácio de Queluz às pressas, em direção ao cais de Belém. Dentro, ia Dona Maria I, que há muito tinha perdido o juízo. Quando viu povo, que assistia à cena atônito, ela gritou com o cocheiro: “Devagar, homem, assim vão pensar que estamos a fugir”. Não havia mais o que esconder, nem qualquer razão para isto. Havia chegado a hora de toda a Corte deixar o reino.

Sandra Moreyra

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