segunda-feira, 17 de março de 2008

BRASIL – 1808 – PARTE V

Avenue de Wagram, Gare d 'Austerlitz: cada lugar conquistado por Napoleão na Europa faz parte da paisagem de Paris. Na Rue de Rivoli, nome de um local de batalha no norte da Itália, os marechais de Bonaparte foram eternizados, perto do Louvre, que Napoleão transformou em museu, com quadros e esculturas trazidos dos países em que seu exército venceu. O poder da França Napoleônica está consagrado ainda mais no Arco da Place de l'Étoile, no Obelisco trazido diretamente do Egito, no Arco do Carrossel, em frente ao Louvre.

Por toda a parte, Paris celebra conquistas, as glórias de Napoleão – a começar pela avenida que dá acesso ao Panteão onde Bonaparte está sepultado.

O túmulo foi construído de modo a que todos que vão conhecer mais sobre Bonaparte, tenham que fazer uma espécie reverência para ver Napoleão. Não à toa, o monumento ao estrategista que mudou a Europa no fim do século 18 e transformou para sempre a política é mais visitado do que a Torre Eiffel. Napoleão Bonaparte é o homem mais conhecido sobre a terra depois de Jesus Cristo.

Ele subiu de posição rapidamente no exército depois da Revolução Francesa, quando a maioria dos oficiais nobres havia fugido para outros países. Sua visão de estratégia e as conseqüentes vitórias militares o fizeram cada vez mais forte e poderoso. Quando se tornou imperador em 1804, foi ele mesmo quem pôs a coroa na própria cabeça, numa época em que era o Papa quem coroava os reis.

Muitos monarcas europeus fugiram de Napoleão. Só permaneceu quem negociou a paz, aceitou um governo bonapartista ou se casou com um parente dele.
O historiador Jacques Garnier, especialista na estratégia militar de Bonaparte, conta que ele era como um Zidane. Tinha uma visão de jogo de craque, por isso ficava difícil derrotá-lo em batalha. Sabia surpreender como poucos.
O país que já ditava moda no tempo dos Luízes, ia criar um novo modo de vestir, a moda Império. Catherine Join-Dieterle diretora do Museu Galiera, do vestuário francês, explica que o fim da monarquia francesa fez com que os homens de vestissem de um jeito mais austero e militar. “Mas foi a inspiração de Napoleão na República Romana que fez as mulheres usarem vestidos que lembravam antigas túnicas, com o corte logo abaixo do busto”, ela diz. Como as saias não eram mais fartas, não havia como fazer bolsos. Nascia aí a bolsinha, que até hoje é fiel companheira feminina.
Os xales, as pashminas orientais, vinham para dar alguma cor e bordados sobre a roupa. Catherine Dieterle revela que a imperatriz Josefina, primeira mulher de Napoleão, chegou a furar o bloqueio comercial que ele decretou contra a Inglaterra e contrabandeou baús repletos deles da Cachemira, que era uma possessão britânica. Quem ficou possesso foi Napoleão.
A Inglaterra, a outra grande potência da época, era adversária histórica da França. Se a Paris do século 18 era majestosa, Londres era moderna. A revolução ali era a industrial, das máquinas de tecidos.
Portugal oscilava entre as duas superpotências da época. Tinha tratados, alianças com a Inglaterra, temia os ventos republicanos da França bonapartista, mas copiava a França.
“A língua francesa vinha pela Península Ibérica e se falava em Portugal. Era uma língua bonita, agradável. E não era só a língua, a língua francesa harmoniosa, musical, bonita. Eram também as coisas que vinham de França. A França era muito forte no nosso país”, afirma o historiador Joaquim Veríssimo Serrão.
Dom João, o Príncipe Regente, preferiu pagar para se manter neutro, mas Napoleão domina a Espanha e faz um acordo para dividir Portugal em três partes.
Quando, em 1806, Bonaparte decretou o Bloqueio Continental, que proibia os navios ingleses de aportar e comercializar na Europa, não dava mais para Portugal se manter fora dessa briga. E a história do Brasil começaria a mudar.
Sandra Moreyra

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