Há exatos 200 anos, Dom João e a corte portuguesa zarpavam rumo ao Brasil. O Bom Dia vira a página da história e conta como uma corte inteira passou três meses a bordo e deixou os franceses a ver navios.
A 29 de novembro de 1807, a frota real já tinha desatracado do porto e começava a viagem em direção ao Brasil. Mar perigoso e desconforto nas embarcações: os navios portugueses estavam preparados para essa aventura? Na reportagem especial de hoje, saiba como foi a travessia do Atlântico, os perigos e a incerteza do desconhecido.
Na manhã chuvosa do dia 27 de novembro, o embarque de toda uma corte aconteceu no meio da lama e do caos, no que hoje é um dos maiores pontos turísticos de Lisboa: o cais da Torre de Belém.
No caos e na lama, caixotes com a prataria das igrejas e os livros da Real Biblioteca foram deixados para trás. Os livros seriam recuperados e enviados mais tarde para o Brasil. A prataria voltou secretamente para esconderijos nas igrejas reais.
Quando o Exército bonapartista, comandado pelo general Junot, chegou a Lisboa não houve resistência. E não havia praticamente o que pilhar.
“Chegou e ficou a ver navios. Era a expressão da época”, conta o professor Nireu Cavancalti.
E o Brasil, cobiçado por tantos franceses há tantos séculos, era a jóia da coroa. Por isso, Dom João, com toda sua cautela, resolve enfrentar o maior dos perigos: a longa travessia de um oceano, que ainda era um mar tenebroso.
Atravessar o Atlântico em 1807 ainda era uma viagem de alto risco; viajar com toda a corte, uma ousadia; embarcar na mesma nau a rainha, o príncipe regente e o príncipe herdeiro, uma ameaça maior ainda. O trono dos Bragança poderia ficar vago.
“Se essa embarcação afundasse, ali se perderia toda a linha direta da sucessão do trono português. Realmente, não houve uma distribuição como deveria ter ocorrido. E essa embarcação esteve perdida durante um dia”, lembra a museóloga Vera Tostes.
Nas naus superlotadas, segurança já não havia. Conforto, então, menos ainda. Não havia cabines, camas, privacidade – apenas para a Família Real. A corte dormia no convés, como os marujos.
“Estamos a falar que as condições de alojamento na época não eram nada do que são hoje. Portanto, as pessoas tinham apenas o espaço para dormir e um espaço para estar, na maior parte das vezes, no convés e no exterior “, disse o almirante José rodrigues, diretor do Museu da Marinha de Portugal.
Por falta de água, da habitual falta de banhos dos europeus da época e das e das péssimas condições de higiene a bordo, as naus sofreram com percevejos e piolhos, especialmente a que levava as princesas e principais damas da corte.
“Houve um surto de piolhos durante a viagem. Eles catavam o piolho dos outros. Aí foram obrigados a raspar as cabeças. Foi um desembarque não exatamente muito bonito”, ressalta o historiador Notato Duque Estrada.
A cidade, que seria a sede do reino, podia ser tão bela quanto assustadora.
“Relatos mostram, não só de viajantes, mas de diversos tipos de fontes, como que as condições físicas da cidade eram muito contrárias ao bem-estar das pessoas, em geral. Condições de habitação, condições de insalubridade mesmo, de abastecimento de água, de recolhimento de dejetos. Era uma cidade ainda onde tudo estava por se fazer”, comenta O historiador Jurandir Malerba.
Sandra Moreyra
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