quarta-feira, 28 de maio de 2008

NÓS E OS CRÍTICOS

Os críticos.
Por que um assunto tabu? Porque cabe aos escritores escreverem, aos leitores lerem, e aos críticos criticarem. Inverter esta esta escala seria, no mínimo, desaconselhável. Entretanto, praticamente todos os dias, recebo alguma correspondência eletrônica de gente que se sente pessoalmente atacada quando vê alguma coisa negativa sobre mim na imprensa.
Eu agradeço a solidariedade, mas explico que isso faz parte do jogo. Sou criticado desde que escrevi “O Alquimista” (o “Diário de um Mago” passou relativamente desapercebido da imprensa, exceto por reportagens que falavam do escritor, mas quase nunca se referiam ao conteúdo do livro).
Já vi muitos escritores terem sucesso gigantesco de público, mas ao receberem a inevitável lapidação da crítica, partem em duas direções. A primeira é não conseguir publicar mais nenhum livro: este foi o caso de “O Perfume”, de Patrick Suskind. Na época, o seu editor (que também é o meu editor na Alemanha) publicou duas páginas inteiras nos jornais locais – uma com a critica detestando o livro, e a outra com os livreiros dizendo que adoraram. O “O Perfume” se transformou em um dos maiores êxitos de livraria de todos os tempos. Em seguida, Suskind publicou uma coletânea, dois livros que tinha escrito antes do seu grande sucesso, e saiu de cena.
No segundo caso, os escritores ficam intimidados e tentam agradar á critica no próximo lançamento. Susanna Tamaro vinha de um gigantesco aplauso de público (e uma avalanche de ataques da critica) com “Vá aonde seu coração mandar”. Seu próximo livro, “Anima Mundi”, muito aguardado pelos leitores, trocou a poesia simples e maravilhosa do titulo anterior por uma complexidade que a fez perder os leitores fieis, e terminou sem agradar aos críticos.
O outro exemplo é Jostein Gaarder. “O Mundo de Sofia” conheceu um êxito planetário, porque era capaz de lidar com a história da filosofia de uma maneira direta e agradável. Mas nem os críticos, nem os filósofos gostaram disso. Gaarder começou a complicar a linguagem, e terminou sendo abandonado pelos leitores, embora continuasse sendo detestado pelos críticos.
Pelos vistos, nos parágrafos anteriores comecei a julgar também. Por que? Criticar é algo facílimo – difícil mesmo é escrever livros.
Em “O Zahir”, o personagem principal (um escritor brasileiro famoso) diz que é capaz de adivinhar exatamente o que será dito a respeito do seu novo livro, quase ainda está para sair:
“Mais uma vez, nos tempos tumultuados em que vivemos, o autor nos faz fugir da realidade”. “Frases curtas, estilo superficial”. “O autor descobriu o segredo do sucesso – marketing”.
Da mesma maneira que o personagem principal de “O Zahir”, eu não erro nunca. Fiz uma aposta com um jornalista, e acertei em cheio.
Termino esta coluna com uma frase do dramaturgo irlandês Brendan Behan:
“Críticos são como eunucos em um harém. Teoricamente eles sabem qual a melhor maneira de fazer, mas não conseguem ir além disso”.
Por favor, senhores críticos, façam como eu; não tomem a frase acima como uma ofensa pessoal.

‘Paulo Coelho’

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