Um forte sentimento de impotência, permeado de desespero e de vazio existencial, tem sido cada vez mais presente na vida dos homens e mulheres. É grande a sensação de que influenciamos muito pouco nas grandes decisões que nos dizem respeito.
O estresse, a depressão e os transtornos do pânico, que antes se manifestavam de modo isolado, se configuram cada vez mais como um fenômeno coletivo do nosso tempo e parecem estar associados ao sentimento de impotência.
A impotência é a ausência de poder. Poder para gerir a própria vida. Poder para mudar o contexto opressivo que nos circunda. Poder para ser e vir a ser.
Por outro lado, nestes últimos anos a onda de violência que permeia os nossos espaços sociais, parece gerar em muitos de nós uma couraça protetora que nos impede de chegar até o outro de um modo mais aberto e afetivo. O encontro real e profundo passou a ser visto como uma ameaça.
Não obstante, ao longo da minha experiência pessoal e profissional, tenho confirmado, e reafirmado em mim, a tendência atualizante. Essa tendência construtiva presente nos seres vivos; entre eles, o ser humano. Sei que para muitos é difícil aceitá-la como realidade, ou mesmo possibilidade, sobretudo, quando consideram a onda de violência presente em quase todos os espaços.
Contudo, não podemos analisar a violência isoladamente; pois, se assim o fizermos, os fatos violentos deixarão em nós a convicção de que somente a repressão policial será capaz de controlá-los.
E nesse momento, teremos nos esquecido de que a violência é fruto, justamente, da repressão e de outras formas de violência, como a fome, o desamor e o desrespeito, entre outros.
Diante disso, tentar perceber as oportunidades que os momentos de crise podem trazer no sentido da transformação pessoal e social pode ser, realmente, muito difícil. Mas, transitar pela crise nos torna prenhe de possibilidades. E aquele que ousar pelos seus caminhos tortuosos, com garra e determinação, se transformará.
O grande mérito talvez esteja em transitar pela crise sem se fixar nela buscando saídas e contextualizando-a como um momento de grande aprendizagem e transformação.
É importante, nesses momentos, constatar o nosso potencial. E acima de tudo, acreditar no aspecto construtivo e saudável desse potencial que existe em cada um de nós e que nos faz transcender a nós mesmos, as nossas dificuldades pessoais, e aquelas que nos são impostas, permitindo-nos sair do fundo do poço psicológico em que nos encontramos.
E, assim, passarmos a ver o mundo, a nós mesmos e ao outro de um modo mais positivo e construtivo.
Abandonar as certezas duvidosas e ousar por caminhos desconhecidos é uma travessia angustiante, mas necessária.
Quando não somos capazes de nos encantar e de empatizar com a dor do outro, quando deixamos de nos espantar com as coisas desumanas que estão a nossa volta, renunciamos, de algum modo, á própria vida, haja vista que a característica mais forte que ela nos apresenta é a fluidez, feita de riscos e de incertezas.
Manter acesa a chama do espanto e d indignação dentro de si, mais que um desafio, é um ato de coragem. Fechar-se ao espanto, ante a consciência aguda dos fatos, é uma medida paliativa que se nos desprepara para o enfrentamento das coisas que a vida nos impõe.
‘Sonia Maria Lima de Gusmão’
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