segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

ALTERAÇÕES LENTAS

Agência FAPESP - Não um único meteorito, mas vários. Um estudo divulgado na terça-feira (24/10), nos Estados Unidos, afirma ter encontrado fortes evidências de que a extinção dos dinossauros não se deveu apenas ao impacto que formou a famosa cratera de Chicxulub, no México.
A pesquisa, coordenada por Gerta Keller, da Universidade de Princeton, foi apresentada na reunião anual da Sociedade Geológica Norte-Americana, que ocorre até o dia 25, na Filadélfia.
Segundo a cientista, o choque em Chicxulub seria apenas um entre muitos, que teriam contribuído, junto com outros fatores – como erupções vulcânicas – para a extinção em massa no período Cretáceo, entre 144 milhões e 65 milhões de anos atrás.
Sedimentos marinhos colhidos na própria cratera de Chicxulub, comparados com os de outros locais no México e nos Estados Unidos, indicam que o impacto do meteorito teria ocorrido cerca de 300 mil anos antes da extinção.
“As análises que fizemos de microfósseis marinhos não apontaram efeito biótico significativo que possa ter sido causado pelo impacto. A conclusão é que simplesmente não podemos atribuir qualquer extinção significativa a esse acontecimento”, disse Keller.
“O impacto do Chicxulub, por ter ocorrido muito antes, não poderia ter causado a extinção em massa. Aparentemente, ele não provocou extinção alguma”, disse Keller. Os resultados do estudo serão discutidos nesta quarta-feira, em uma sessão técnica na reunião da Sociedade Geológica Norte-Americana.
Um choque muito maior, ainda não identificado, ocorrido há cerca de 65,5 milhões de anos, teria sido o derradeiro causador do extermínio de dois terços de todas as espécies no planeta. De acordo com a nova análise, seria esse outro meteoro o responsável pela formação da camada de irídio, encontrada em rochas por todo o mundo, que marca o fim da era dos répteis – irídio é um metal raro na Terra, mas freqüente em meteoros.
De acordo com Keller, o mais provável é que o impacto que formou a cratera Chicxulub tenha atuado em conjunto com outros meteoritos e com erupções prolongadas na bacia do Decca, na Índia. As erupções teriam lançado grandes quantidades de gases na atmosfera, num período de 1 milhão de anos.
O efeito estufa resultante teria aumentado a temperatura média na superfície em cerca de 8 graus. Com as espécies combalidas pelo conjunto de fatores destrutivos, o impacto do outro meteorito, há 65,5 milhões de anos, pode ter sido o golpe final para a extinção em massa.
Mas e quanto à cratera desse outro impacto? “Bem que eu gostaria de saber”, disse Keller. “Há alguma evidência de que possa ter ocorrido na Índia, onde haveria uma cratera com cerca de 500 quilômetros de diâmetro, mas não há nada conclusivo até o momento.”

RECURSOS NATURAIS PARA ENTENDER CIVILIZAÇÃO
Agência FAPESP - Compreender as primeiras civilizações da Amazônia a partir de dados históricos sobre os recursos naturais da jazida de minério de ferro da Serra de Carajás, no Estado do Pará. Esse é o objetivo do livro Carajás – Geologia e ocupação humana, que acaba de ser lançado pelo Museu Paraense Emílio Goeldi (Mpeg).
Organizada pelo professor do Instituto de Geologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA) João Batista Teixeira, a publicação é dividida em quatro partes. A primeira reúne informações sobre a geologia da Serra de Carajás, com detalhes técnicos sobre a formação das rochas e minérios da região.
“Carajás é formada exclusivamente por rochas pré-cambrianas onde, há mais de 2,6 bilhões de anos, se formou uma bacia sedimentar de minério de ferro”, disse Teixeira à Agência FAPESP. Segundo ele, há cerca de 1,8 bilhão de anos, a região sofreu intensa granitização, a transformação de rochas antigas em granitos, fazendo com que o minério disponível passasse por um processo de enriquecimento de ferro.
“Uma couraça laterítica se formou em cima de toda a serra há 70 milhões de anos, no período Cretáceo. Essa couraça protege o minério até os dias de hoje”, explica Teixeira, destacando que essas transformações naturais são responsáveis pela formação de um dos maiores depósitos de ferro de alto teor do mundo. “São mais de 18 bilhões de toneladas de minério que hoje são exploradas pela Companhia Vale do Rio Doce”, afirma.
Em seguida, a publicação mostra a história dos homens pré-históricos que ocuparam a região. “Os primeiros registros escritos com carvão de fogueira no interior de cavernas, com base no método de datação conhecido como carbono-14, são de 9 mil anos atrás”, calcula Teixeira. “Esses homens eram caçadores nômades que percorriam Carajás e dormiam em cavernas. Eles não têm relação alguma com os índios modernos”, explica.
A terceira parte da obra relata a história recente da mineração na região. “Essa é a parte principal do livro, pois aborda a ocupação da Amazônia pela Vale do Rio Doce e o advento da mineração comercial em Carajás”, conta. A descoberta da Serra de Carajás por um grupo de empresários americanos da United States Steel Corporation, liderado pelo geólogo brasileiro Breno Augusto dos Santos, em 1967, até a instalação da empresa mineira Vale do Rio Doce, em 1970, são descritas na obra.
“Inicialmente os americanos vieram em busca de manganês, mas por decisão da matriz da empresa em Saint Petersburg, na Pensilvânia, e forçados pelo governo brasileiro que não permitia que uma companhia estrangeira explorasse a região sozinha, eles saíram de Carajás para a Vale do Rio Doce ter exclusividade na exploração. Mas antes disso as duas empresas trabalharam juntas por cinco anos”, lembra Teixeira.
Por fim, o livro descreve os impactos ambientais da estrada de ferro do projeto de mineração no sudeste paraense. Nessa parte, fotos e ilustrações mostram o desmatamento que a região sofreu para a construção da estrada, que liga Carajás até o Maranhão, além de descrever o início da chegada dos madeireiros. “A idéia nessa parte é mostrar os prejuízos ambientais causados pelas pastagens e pela derrubada de árvores para produção de carvão e comercialização ilegal de madeira”, explica.
A organização do livro contou com a participação de Vanderlei de Rui Beisiegel, geólogo aposentado da Companhia Vale do Rio Doce que, em 1970, chefiava a equipe da empresa na época da sua instalação na Serra de Carajás.
Mais informações: mgdoc@museu-goeldi.br.

GOTICULAS QUE VIRAM GOTAS
Agência FAPESP - Como se formam as gotas de chuva? A pergunta é simples, mas a resposta não. A questão tem intrigado cientistas como Patrick Chuang, professor de Ciências Planetárias e da Terra da Universidade da Califórnia em Santa Cruz, nos Estados Unidos.
No dia 11, na reunião anual da União Geofísica Norte-Americana, Chuang propôs um modelo teórico para a formação em nuvens quentes, como as responsáveis pelas chuvas de verão – ou também na primavera, como atualmente no Brasil.
Segundo o pesquisador, trata-se de um processo muito complexo. A condensação de vapor de água nas nuvens cria gotículas de água, de 10 a 20 mícrons de diâmetro – menores do que a espessura de um fio de cabelo. Essas gotas minúsculas são pequenas demais para cair como chuva, cujas gotas têm cerca de 1 milímetro (mil mícrons) de diâmetro e são 1 milhão de vezes mais pesadas.
Para que as gotículas se transformem em gotas, elas colidem e se agrupam umas com as outras. Quando os cientistas simularam o processo em computadores, gotas de chuva foram criadas entre uma e duas horas depois do início das colisões. No mundo real, o resultado ocorre muito mais rapidamente, em menos de 15 minutos.
Segundo Chuang, gotículas com mais de 55 mícrons são grandes e pesadas o suficiente para caírem pela nuvem, fundindo-se com outras em alta velocidade. Mas o enigma é como gotículas de 10 a 20 mícrons se transformam em outras com mais de 55 mícrons.
A explicação proposta pela equipe de Chuang é uma mistura de dois fatores: aumento da turbulência e um processo promovido quando o ar quente se mistura com a umidade nas extremidades das nuvens. A conclusão foi possível depois de análises feitas a partir de instrumentos instalados em asas de aviões, em vôos realizados sobre ilhas do Caribe, no início de 2005.
De acordo com Chuang, o estudo pode ajudar na formação de modelos climáticos mais eficientes. A pesquisa foi financiada pela National Science Foundation e pela National Oceanic and Atmospheric Administration.

NOVO MANUAL DE OSLO

Agência FAPESP - A Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) lançou nova edição em português do Manual de Oslo, uma das principais fontes bibliográficas mundiais no campo da inovação tecnológica, produzida pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Trata-se de publicação com o objetivo de orientar e padronizar conceitos, metodologias e construção de estatísticas e indicadores de pesquisa de pesquisa e desenvolvimento de países industrializados.
Seu antecessor, o Manual Frascati, editado em 1962, originou a série de publicações da OCDE que ficou conhecida como Família Frascati. Cada conferência de seus países membros para a atualização de dados toma o nome da cidade em que se realiza.
A primeira edição do Manual de Oslo data de 1990. Segundo a Finep, a nova edição agrega as atualizações apresentadas na terceira edição, de 2005.
“Em que pese o fato de se ter como fonte padrões de países desenvolvidos, o Manual de Oslo é bastante abrangente e flexível quanto a suas definições e metodologias de inovação tecnológica e, por isso mesmo, tem sido uma das principais referências para as atividades de inovação na indústria brasileira, que quer ser cada vez mais competitiva”, disse Odilon Marcuzzo do Canto, presidente da Finep.
A grande maioria dos 30 países membros da OCDE é da Europa. Os únicos países americanos participantes são Canadá, Estados Unidos e México.
O Manual de Oslo - Diretrizes para coleta e interpretação de dados sobre inovação pode ser baixado gratuitamente no site da Finep, em www.finep.gov.br.

PLANETAS PRECOCES

Agência FAPESP – Os planetas gigantes gasosos – como Júpiter e Saturno no Sistema Solar – ou são formados durante os primeiros 10 milhões de anos de suas estrelas ou não se formarão mais, de acordo com estudo feito a partir de observações realizadas com o telescópio espacial Spitzer, da Nasa, a agência espacial norte-americana.
A pesquisa foi publicada no The Astrophysical Journal e terá seus resultados divulgados nesta segunda-feira (8/01) durante o 209º Encontro da Sociedade Norte-Americana de Astronomia, em Seattle, nos Estados Unidos.
O trabalho apresenta novas evidências de que os gigantes gasosos podem se formar bastante cedo em relação à história de suas respectivas estrelas. A vida de uma estrela como o Sol dura cerca de 10 bilhões de anos.
Ilaria Pascucci, do Observatório Steward da Universidade do Arizona, coordenou a equipe de astrônomos que conduziu a busca em torno de 15 jovens estrelas, na maior parte com idades entre 3 milhões e 30 milhões de anos.
Os cientistas utilizaram os sensores infra vermelhos do Spitzer para buscar gás aquecido nas partes internas de sistemas estelares, em áreas comparáveis, no Sistema Solar, à região entre a Terra e Júpiter.
A equipe, em seguida, procurou gás frio nas regiões externas desses sistemas solares com o telescópio de um observatório localizado no monte Graham, no Arizona. As zonas externas são análogas à região do Sistema Solar localizada além da órbita de Saturno.
Todas as estrelas no estudo – incluindo as mais jovens, com poucos milhões de anos – têm em torno delas uma quantidade de gás equivalente a menos de 10% da massa de Júpiter. Segundo os pesquisadores, isso indica que os gigantes gasosos já se formaram nesses novos sistemas solares análogos – ou não se formarão mais.
Os astrônomos suspeitam que o gás em torno das estrelas possa também ser importante para imprimir aos planetas rochosos, como a Terra, órbitas relativamente circulares. Se a órbita terrestre fosse altamente elíptica em vez de relativamente circular, as variações de temperatura no planeta seriam tão altas que impediriam o desenvolvimento de organismos complexos.
O artigo Formation and evolution of planetary systems: Upper limits to the gas mass in disks around sun-like stars, de Ilaria Pascucci e outros, pode ser lido por assinantes do The Astrophysical Journal em www.journals.uchicago.edu/ApJ. Agência

DESCOBERTO PRIMEIRO TRIO DE SEQUASES
FAPESP - Para os astrônomos envolvidos no estudo, a imagem a princípio pareceu uma miragem. Mas os três pontos luminosos reunidos representam algo inédito: o primeiro trio de quasares identificado até o momento.
Os objetos estão a cerca de 10,5 bilhões de anos-luz da Terra, na constelação de Virgem. Ou seja, são sinais da infância do Universo – que tem idade estimada em 13,7 bilhões de anos
A descoberta foi possível graças à combinação de imagens obtidas em dois dos maiores telescópios do mundo, um com espelho de 10 metros, no Observatório W.M.Keck, no Havaí, e outro com 8,2 metros, o Very Large Telescope do European Southern Observatory, localizado no Chile. Os pesquisadores são do Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech), nos Estados Unidos, e da Escola Politécnica Federal de Lausanne, na Suíça.
“Quasares são objetos extremamente raros. Encontrar dois próximos é algo muito pouco provável. Achar três, simplesmente, não tem precedente”, disse George Djorgovski, da Caltech, líder do estudo. A descoberta foi anunciada na segunda-feira (8/1), na reunião de inverno da Sociedade Norte-Americana de Astronomia, em Seattle. Segundo o cientista, a probabilidade de três quasares se formarem próximos um do outro é de 1 em 20 quatrilhões.
De acordo com a teoria da relatividade geral proposta por Albert Einstein (1879-1955), se uma grande massa (como um agrupamento de galáxias) estiver alinhada com um quasar distante, os raios luminosos se curvarão, de modo que um observador na Terra veria dois ou mais quasares na região em que, na realidade, só existe um. Ou seja, ele veria uma miragem cósmica. O primeiro exemplo do gênero foi identificado em 1979 e diversos outros se seguiram. Não é o caso do trio inédito agora descoberto.
Quasares são objetos extremamente luminosos no Universo distante. Acredita-se que sejam alimentados por buracos negros supermassivos nos centros de galáxias. Um único quasar pode ser milhares de vezes mais brilhante do que uma galáxia de centenas de bilhões de estrelas, como a Via Láctea, ainda que a fonte de energia tenha um volume menor do que o Sistema Solar.
Até hoje foram encontrados cerca de 100 mil quasares, dos quais apenas cerca de 100 duplas. O primeiro quasar (acrônimo de QUAsi StellAR Source, ou “fontes quase estelares”) foi descoberto em 1963, pelo astrônomo holandês Maarten Schmidt, no Observatório Palomar, na Califórnia.

Enigma desvendado

29/01/2007

Por Fábio de Castro
Agência FAPESP – Por solucionar um problema da matemática avançada que persistia desde 1972, Ivan Shestakov, professor titular do Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo (IME-USP), recebeu este mês o prêmio E.H. Moore de Pesquisa da Sociedade Norte-Americana de Matemática (AMS, na sigla em inglês).
Dois artigos publicados na revista da AMS e diversos outros em periódicos científicos desde 2004 resultaram no prêmio dado a Shestakov e a seu ex-orientando Ualbai Umirbaev, da Universidade Nacional Eurasiana de Astana, no Cazaquistão. É a segunda edição do prêmio E.H. Moore, oferecido a cada três anos ao autor do artigo mais importante publicado nos últimos seis anos.
Os estudos de Shestakov e Umoirbaev foram considerados inovadores por desenvolverem uma poderosa técnica de avaliação do automorfismo na álgebra polinomial.
“Seus resultados incluem a prova da conjectura de Nagata, que persistia em aberto desde 1972. Eles estabeleceram a existência de um automorfismo selvagem de polinômios com três variáveis. A inovação já está se desdobrando em importantes aplicações”, declarou a AMS em comunicado.
Em 1972, o japonês Masayoshi Nagata propôs que um determinado automorfismo (a correspondência entre dois sistemas algébricos) de polinômios com três variáveis era “selvagem”, isso é, não poderia ser decomposto num produto de automorfismos elementares. Shestakov e Umirbaev conseguiram demonstrar a conjectura e criar um algoritmo para determinar se qualquer automorfismo é selvagem ou não.
“Os polinômios são a parte mais antiga da álgebra. Mas sua análise ainda guarda muitos mistérios. Esse era um problema muito interessante e ficamos contentes com a contribuição. O mais importante é que o trabalho não se limitou a provar a conjectura de Nagata, mas resultou em uma ferramenta que pode abrir muitas linhas de pesquisa”, disse Shestakov à Agência FAPESP.


Pesquisa no Brasil
Nascido em Zaval, uma aldeia siberiana na então União Soviética, Ivan Shestakov tomou contato com a pesquisa matemática no início da década de 1960, aos 16 anos. “Como eu gostava de resolver problemas matemáticos, a escola me indicou para participar de uma olimpíada. Fui sem muita pretensão e ganhei o primeiro lugar. Com isso, tive contato pela primeira vez com os profissionais da área”, contou.
Em 1970, formou-se na Universidade de Novosibirsk, na maior cidade da Sibéria. Em 1972, enquanto Nagata desenvolvia a famosa conjectura, Shestakov ganhava um prêmio que marcou o início de sua carreira científica: a medalha da Acadêmia de Ciências da URSS. Em 1974, começou sua carreira como professor da universidade.
Em 1998, Shestakov veio para o Brasil, a convite do IME-USP, para passar um ano como professor convidado. "Gostei muito do ambiente na USP, do país e da amabilidade do povo brasileiro. Decidi me estabelecer aqui e, em 1999, tornei-me professor titular”, disse.
Em 2001, Shestakov convidou seu ex-aluno Umirbaev para vir ao Brasil e participar da pesquisa, que teve apoio da FAPESP e que resultaria no prêmio concedido pela AMS.

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