“Todos vocês que amam os gatos lembrem que os milhões de gatos que mimam pelos quartos do mundo depositam toda sua esperança e confiança em vocês, da mesma maneira que a gatinha mãe da Casa de Pedra repousava a cabeça em minha mão, que Calico Jane botou os bebês em minha valise, que Fletch pulou nos braços de James e Ruski corria para mim arrepiado de alegria”.
Este é um trecho de “O gato por dentro”, pequeno livro do grande William Burroughs, que costumo reler quando algumas tonalidades cinzas invadem minha vida ou as de pessoas amigas. Friends: são pr’essas coisas.
Burroughs - que foi um dos expoentes da contracultura norteamericana - morreu em 1997, aos 83 anos, e amava gatos. Seus melhores amigos intelectuais, como Andy Warhol e Susan Sontag, disseram que a convivência de Burroughs com os gatos aumentaram o contato do escritor com seu próprio eu. Por isso, ele termina o livro que tanto releio com a seguinte frase: “Somos os gatos por dentro. Os gatos que não podem andar sozinhos, e para nós não há apenas um lugar”.
Quando eu morava na Bento da Gama, na zona de limite entre Torre e Jaguaribe, numa madrugada estava apenas com minha música e meu violão, no terraço, e explodiu de uma vez só a letra, a melodia, a harmonia e o ritmo de “Gato”: “Gato atravessando o coração, como se fosse uma pantera azul das neves do Kilimanjaro”... Fui por aí, até terminar com um “cá no no Nordeste se faz frio em sol, as mães e bestas são celestiais”... Cantei “Gato” no show “Conversas em torno do busto de Augusto”. Entre os que viramouviram, os pouquíssimos que não gostaram acharam que eu não estava fiel às minhas origens políticas e nordestinas. Besteira, eu nunca fiz folk-lore...
Quando fiz a música (lá pra março de 1985), Burroughs não tinha lançado ainda “O gato por dentro”. Estava, então, acontecendo aquelas antenas sutis, virtuais, etéreas, invisíveis, que ligam criadores que não se conhecem, mundo afora.
É sempre bom lembrar que um copo vazio está cheio de ar (Gil, cantado por Chico) e que Burroughs deixou no ar a conclusão de que, afora as particularidade físicas, poucas diferença há entre humanos e felinos.
Como ando promovendo muito neste espaço, o teste 22 da coluna, cujas resposas serão recebidas até o final da noite da próxima terça-feira, lembro que um dos brindes será justamente a última edição, em “pocket book”, de “O gato por dentro”.
Novamente uma citação de Burroughs: “Para aqueles entre vocês que nunca viveram no campo (estou falando de campo de verdade, não dos Hamptons), uma palavrinha sobre gatos de celeiro. A maioria das fazendas têm gatos de celeiro para combater os ratos e camundongos. Esses gatos são minimamente alimentados com leite desnatado e restos de comida. Do contrário, não caçam. Claro que freqüentemente um gato de celeiro vira gato de casa. E é isso que todo gato de cleiro, todo gato de rua, quer. Acho profundamente comovente essa tentativa desesperada de conquistar um protetor humano”.
- “Carlos Aranha” -
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