segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Democratura

Uma palavrinha engraçada: democratura. Encerro o manifesto nº 1 do Poptrovadorismo com este novo termo. Por ser o autor do neologismo, explico: é a mistura de democracia com ditadura. Simples. É nisto que vivemos. Neste terrível regime. Nesta coisa amorfa. Nem lá, nem cá. Num clima de cuidado com “tapinhas nas costas”. Se falar o que pensa, será demitido, descartado, isolado, posto fora do baralho. Pensar pode. É direito adquirido. Pode até publicar num blog ou enviar por e-mail para um amigo sorrir da novidade. Só não é economicamente saudável organizar movimento, querer tumultuar com idéias. Pode-se perder o pouquinho - pouquinho mesmo - que se conquistou. Realmente, é preciso ser paciente para aprender a curtir essa tal liberdade verde e amarela. Afinal, democracia existe para que todos possam abrir conta em banco e ter cartão de crédito? É nisto que reside a igualdade de direitos?
Noite dessas, um rapaz apertou a campainha lá de casa. Desesperado, pedia ajuda. Sua mulher estava doente. Precisava de remédio. Remédio custa caro. O preço piora a doença. Consegui uma parte do dinheiro, e perguntei se ele não desejaria levá-la a um hospital para que ficasse internada. Respondeu-me que sua esposa já havia sido atendida. Era preciso, agora, comprar a cura.
Morto ficou, quem morreu. É o que costumo dizer quando alguma situação termina em tragédia para um cidadão, um simples trabalhador sem vínculos com o poder. Certa vez, ouvi dizer que existe o que é ilegal e o que é imoral. Infelizmente, algumas vezes, a imoralidade encontra subsídios legais para continuar existindo. Leis possuem brechas, e não existe nenhuma que impeça qualquer um de aproveitá-las. Está dentro da legalidade. Não existe ninguém diferente e todos somos inocentes, até que se prove o contrário.
Dizer e não provar, é não dizer. É aí que o homem humilde, que entende o mundo como tendo dois lados, como sendo uma estrutura claramente definida entre o que é certo e o que não é, prova o que é amargo, depara-se com situações inesperadas como ter que aceitar que o parente morreu por descuido da família, e não, pelo total descompromisso público com a Saúde, a Segurança e a Educação.
Na verdade, rasgaram a Constituição, faz algum tempo.
Gustavo Magno

Nenhum comentário: