Meu pai me contou que eu nasci por acaso. Do nada? Como assim? Minha mãe grávida de gêmeos (que me antecederam), lhe avisava com impetuosidade: “nunca mais me procure”.
A voz, o jeito autoritário feminino, o deixava sem graça. Todo homem gosta de afagos, beijos e... das preliminares. Imagine uma mulher fazendo greve de sexo? Bom, aí são outras marés. Minha mãe teve oito filhos, (comigo 9), e não agüentava mais o rojão. Menino ainda, ele me contava: quando os gêmeos nasceram, sua mãe foi dormir noutro quarto levando com ela o chamego do amor. Meu pai se encolhia de anseios e punha-se a desejá-la debaixo dos cobertores nas noites de calores intensos. Na escuridão do quarto, cirandavam perguntas sem respostas.
Tudo então se aquietava e o homem velho adormecia. Acordava cedo e tocava o trabalho para alimentar a família. Meu pai era um construtor de emoções e foi por aí caindo em si, sambando, olhando o tempo passar, fosse setembro ou inverno.
Certa madrugada, chegando de uma festa onde havia trabalhado e tomado alguns copos de Cinzano, minha mãe já está de pé. Ele inebriante chamava sua atenção e ela nem para conferir, apesar do poder do pênis.
Minutos depois, não sei se onze, fez-se o silêncio. No dia seguinte, certamente um sábado, nada de reclamações. No lugar de resmungos, o relaxamento de um gozo.
Estava eu dentro dela, aliás, estava ele dentro de minha mãe. Ali se formava “o fim de rama” disputando espaços fruto de uma história de um amor anunciado, assim como a morte, onde tudo começa.
Um dia tapei meus olhos para não vê-lo morto. Meu pai era tudo e eu nunca vi suas lagrimas, sequer de alegria. Eu compraria todas as brigas de amor para defender um filho e nem ligo se pensem que é caretice ou romantismo brega.
Essa é saudade de um filho caçula. E eu não sei parecer. Nunca.
Kubitschek Pinheiro
sábado, 19 de janeiro de 2008
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