Dizer que não existe amizade entre homem e mulher já virou um chavão. Quem assistiu o filme “Harry e Sally” deve lembrar que logo no começo, quando ele se encontra com ela, diz que não acredita na amizade entre homem e mulher: rolou, vai rolar ou existe a intenção.
Segundo a psicanálise, nossos encontros amorosos e eróticos, na verdade, são desencontros existenciais. A amizade é uma forma de amor. Segundo o sociólogo italiano Francesco Alberoni, uma forte característica da amizade é não deixar espaço para o ódio. Se odeio um amigo já não sou seu amigo, a amizade terminou.
Quando duas pessoas do sexo oposto se conhecem, é natural que aconteça a atração sexual. No entanto, quando já no início um deles ou ambos percebem que a pessoa não se enquadra no perfil desejado para um relacionamento, instantaneamente acontece um esfriamento. Outra situação comum é quando não existe atração física, mas descobrem mil afinidades. Em ambos os casos, é possível surgir uma amizade sem “outros” interesses, sim!
As características mais marcantes da amizade são a cumplicidade, o sentir-se bem junto ao outro, saber que pode contar com ele nos momentos difíceis, inclusive dividir questões de intimidade, palavras de carinho e apoio quando se está emocionalmente abalado.
Muitos dos nossos amigos íntimos vem do tempo da adolescência. Colegas de escola ou amigos dos irmãos com os quais mantemos uma relação próxima, mesmo quando ficamos algum tempo sem nos ver.
Se todos conhecemos casos de amizade verdadeira entre homens e mulheres porque é que continuamos a duvidar que isso seja possível?
Sabemos que a sociedade mudou. O universo feminino abriu a discussão na área familiar e reivindica um tratamento igualitário na sociedade, enquanto os homens lidam melhor com as suas questões emocionais. Mas, ainda existe uma certa pressão para que constituam um casal, principalmente, quando estão sempre juntos e se dão bem.
Ocorre que, às vezes, o entendimento é tão maravilhoso e a pressão é tão intensa que, ambos ficam confusos com relação aos seus sentimentos e sentem a necessidade de justificar para si e para os outros que existe uma relação fraterna.
A sociedade é engraçada: quando um homem e uma mulher são vistos juntos com uma certa frequência, a tendência é tentar empurrar um para os braços do outro. Piadinhas, indiretas e diretas: “Vocês se entendem tão bem, por que não tentam um relacionamento?” - “Vocês são só amigos?”
Quando um homem é visto com frequência com outro homem, logo surgem comentários de que podem ter um caso. O mesmo acontece no caso de duas amigas que não se largam.
A cada dia que passa mais homens e mulheres experimentam a amizade em preto e branco. Saem para jantar e bater papo até altas horas. Vão ao cinema sem precisar ficar se agarrando no meio do filme. Dançam juntos a noite toda, sem pintar um clima.
Será que vale a pena ficar se importando com o que outros pensam?
Marlene Heuser
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