Em uma das suas músicas, Milton Nascimento canta que amigo é coisa pra se guardar. De facto, nada mais marvilhoso que ser considerado como irmão de alguém. A força dos laços de afinidade costuma ser tão grande que só pode ser explicada pelo espiritual.
Existem, contudo, individuos que só se fazem acompanhar em momentos festivos, de banquetes, fanfarras, tapinhas nas costas e elogios falazes.
Esses travestis ousam invocar o nome da amizade, quando as suas atitudes mostram que são amigos de nada. Chegada a hora da necessidade, da dor e do sacrifício, simplesmente desaparecem, como almas sem corpo. Não são raras as pessoas a se queixarem desse invariável mal.
O consolo e a presença são as mais importantes formas de ajuda àquele que se encontra caído. A materialidade tem forte expressão nesses momentos, mas nada supera a intensão subjectiva de amparo psicológico. Aqueles que ignoram a força desses simples gestos não são amigos de pessoas, mas das coisas que podem usar de suporte na concretização dos seus interesses. São falsos de si mesmos, actores medíocres que vivem no palco da mentira.
Tudo na existência, porém, tem um lado positivo além do negativo que se pode mais facilmente enxergar. O infortúnio de cruzar com alguém tão pequeno nos serve de exemplo, para avaliar quando e o quanto devemos confiar e nos fazer confiar. Ter amigos é insuficiente; precisamos de nos sentir amigos - limpar a nossa consciência do papel que desempenhamos na vida do próximo.
Melhor um inimigo declarado que um disfarçado de amigo. É mais feliz quem anuncia que tem poucos, mas verdadeiros amigos presenteados pelo destino.
Não nos faltam conhecidos neste mundo. Fácil é contar quantas são as pessoas em que se pode deveras depositar confiança, para as quais não precisamos fingir, para as quais podemos ser nós mesmos. A transparência de um amigo é inconfundivel: sentimos no coração.
- “Mercês Camelo” –
segunda-feira, 21 de janeiro de 2008
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