Ouvi a frase, mas precisei ouvir de novo para compreendê-la. Era uma senhora que dizia para a outra:
- Então, está combinado. Vou visitá-la mais tarde...
Visitar? Terá mesmo dito isso?
Sim, porque ninguém se visita mais. Até nem existe mais essa anacrônica peça nas concepções arquitetônicas de hoje em dia. Você se lembra da última vez que mandou a sua empregada procurar alguma coisa lá fora?
- Vai, menina, vê se eu deixei na sala de visita...
Deixou nada. Hoje em dia só existe living, sala de estar, foyer, jardim de inverno. Coisas assim.
As pessoas perderam o encanto umas perante as outras. Como se nada mais lhes houvesse dito ou perguntado. E, assim, dão-se por encerradas as visitas. Cada qual envolvida pelo seu próprio mundo real ou virtual. Nada de intimidades com o outro, esse desconhecido temível, sempre na iminência de um ataque ou de um abuso qualquer.
Fique na sua, cara. Quanto mais longe, melhor.
Comodismo? Autodefesa? Respeito pela privacidade alheia?
Qual é a sua, cara?
O certo é que ninguém quer saber do outro, esse estorvo vagamente humano que está sempre com a mão estendida à nossa frente, assoando-se ruidosamente, obstruindo a calçada, buzinando às nossas costas, bocejando na primeira fila, falando alto, quase gritando na última, ouvindo Reginaldo Rossi nas alturas, palitando os dentes na mesa do lado, mascando chicletes em algum lugar do cinema, tocando a campainha com induvidosa intenção de visita.
Varreram as visitas de casa não somente por absoluta falta de assunto. Suponho que tenha sido pela mais definitiva e insubstituível falta do outro...
Responda depressa. A quem você visitaria obrigatoriamente nas próximas horas?
Demorou demais pra responder. É a falta que o outro faz.
Na dúvida, que tal uma visitinha rápida a você mesmo? Tem a vantagem de não precisar se anunciar.
- “Luiz Augusto Crispim” -
segunda-feira, 21 de janeiro de 2008
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