segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Felicidade não tem fim

Quer saber de uma coisa? A tristeza é uma enorme chatice. O poetinha Vinicius que me desculpe, mas não concordo com aqueles seus versos famosos: Tristeza não tem fim, felicidade, sim...
Isso é coisa de poeta, que adora sofrer em praça pública, nos palcos, nos dramas lacrimosos da televisão, nos versos íntimos que ele manda imprimir para servir de libreto de sua tragédia em apoteóticas flagelações.
A infelicidade e a dor são invenções do homem. De Deus é que não pode ser. Se fosse, os céus estariam infestados de anjos se lamuriando pelos cantos, de querubins inconsoláveis refugiados nas cavernas celestiais e serafins se descabelando pelas campinas do Paraíso.
Desconfio muito de isso tudo ser obra de poetas mal-amados como de um certo Shakespeare apaixonado, que, eternamente rejeitado, resolve escolher as mulheres para fazê-las sofrer no palco: uma se suicida por sugestão do próprio namorado, a outra nem chega a trair o marido, mas morre pela desconfiança dele, uma terceira ama o pai de verdade e, por isso, é deserdada por ele, tudo para que o Autor faça pose de angustiado.
Nem precisa me olhar assim, minha senhora. Eu mesmo tenho cá os meus defeitos. Qual o poeta que não usou desse artifício? Mas, reparando bem, confesso que é muito chato fazer pose de tristeza!
Felicidade é que não devia ter fim. Tristeza, sim. É a gente que escolhe ser infeliz. Uns para fazer o gênero shakespeareano e impressionar incautas Julietas e Desdêmonas debulhadas em lágrimas que ainda se deixam iludir por essa lábia. Outros por incompetência mesmo.
Nasci feliz porque desconhecia a tristeza. Aliás, ninguém me avisou mesmo de que eu iria precisar dela...
Logo, felicidade é bagagem que eu já trouxe comigo, vindo que sou de lugares que não usam desses maus costumes.
Foram os outros que me disseram que, em certas ocasiões, era para eu ser infeliz. Tragicamente infeliz, para alegria de todos. Provavelmente quando não me deixaram tomar o meu primeiro banho de biqueira, quando me disseram que era pecado beijar na boca da minha primeira namorada e até quando ela própria, a namorada que eu não beijei, me sugeriu que morrêssemos juntos, infelizes para sempre, bebendo cicuta do mesmo frasco de veneno.
Como não levei a sério nada disso, acabei descobrindo que posso eternizar a minha felicidade sem precisar da autorização de mais ninguém. Combinei com a minha Julieta que a gente nunca mais morreria em público. E agora, já posso beijá-la diante de todo mundo, sem precisar morrer tragicamente.
E, de vez em quando, lá no Karawa-Tã, tomo banho de biqueira sem ninguém me molestar. Na pior das hipóteses, pego um resfriado e fico três de cama lendo Shakespeare e ouvindo Vinicius de Morais.
- “Luiz Augusto Crispim” -

Nenhum comentário: