segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

APOSTANDO NAS ENERGIAS RENOVÁVEIS

Soube-se agora que a União Europeia levantou os obstáculos à construção eventual de uma barragem no rio Sabor, que os ambientalistas consideram como o último dos rios selvagens da Europa. Devido a essa fama, inscrevi-me há anos numa visita de estudo a essa zona. O rio foi subido a pé, a partir da sua foz no Douro, e a excursão prolongou-se por vários quilómetros.

O que vi foi, de facto, muito belo, e pena será que algum dia uma barragem venha destruir essa paisagem. Todavia, os termos que são postas pelas União, para autorizar a construção, podem reduzir muito os impactos negativos sobre o ambiente, em que a principal preocupação se centra na preservação dos lobos e das águias-reais.

Se a barragem for adequadamente localizada, as escarpas de nidificação das águias ficarão bem acima dos níveis da água retida; e a criação de caminhos especiais e de pontes de trânsito permitirão a circulação dos lobos.

É evidente que nada será como dantes, isso é certo, mas também não o será menos que os portugueses precisam de apostar, a muito curto prazo, nas energias renováveis, para que o país reduza a sua factura energética e a sua feroz dependência do exterior e dos combustíveis fósseis, que são, afinal, muito mais agressivas que a perda de certas paisagens. De maneiras diferentes, tudo tem os seus custos.

Tradicionalmente, considera-se que Portugal é um país pobre, porque não tem minérios ricos, nem petróleo. Quanto a este último, ainda estamos para saber se é verdade que há haverá jazigos na nossa plataforma marítima, agora a ser pesquisada. Quanto a jazidas, as minas de Jales, que no tempo dos romanos já davam muito ouro, voltaram agora a ser objecto de atenção e parece que vão retomar o funcionamento. Mas as clássicas pirites alentejanas também tinham altas percentagens de ouro e de prata, como toda a gente sabia cá no Barreiro, onde muito anos se fez a metalurgia desses metais nobres, recuperados da cinzas da pirites, dentro de uma zona especial da antiga CUF, aliás com muito bons resultados.

Também as minas de Aljustrel, diga-se a propósito, voltaram ao trabalho, após anos de paragem, e as de Neves-Corvo continuam em boa produção. Tudo isto, como se sabe, está na faixa piritosa ibérica, uma das mais ricas do mundo em cobre, e que os romanos também já exploravam, no célebre couto mineiro de Vipasca. Portanto, talvez não nos devamos queixar tanto; e resta saber o que se passa com o volfrâmio ou o urânio, de que temos belas reservas, para não falar de estanho, de zinco, de chumbo, e por aí fora.

Em geral, não é muito falado de que dispomos de água doce em abundância, em especial no Tejo, no Douro, no Mondego, no Guadiana, no Sado. E quem tem água, já tem muita coisa, e que dá para fazer autênticos milagres, como o tem demonstrado Israel, que só dispõe do rio Jordão, que terá um caudal próximo do nosso rio Mira.

Em teoria, temos muito mais água que os espanhóis, que têm 5 vezes mais território para irrigar, e apenas dispõem dos caudais de cabeceira do Tejo, do Douro e do Guadiana, a que se adicionam os cursos integrais do Guadalquivir e do Ebro, este com pouco mais volume do que o Sado.

A enorme rede hidrográfica portuguesa, com muitas dezenas de afluentes importantes aos rios principais, constitui uma imensa reserva de água, mas também uma formidável fonte potencial de energia renovável, que hoje só está aproveitada a 46%, apesar de construirmos barragens desde há 50 anos. Mas existem agora projectos hidroeléctricos em carteira, que permitem chegar até perto dos 70%, a curtos anos de vista, quer pela construção de novas barragens, quer pela renovação e reinstalação de algumas antigas, estas devendo ser equipadas com novos e mais eficientes geradores. Também se conta com técnicas recentes de recuperação da água das turbinas, que pode regressar parcialmente às barragens.

A EDP e o Governo português são os principais motores destes projectos de energias renováveis, mas os sectores privados estão a desempenhar papel muito importante na aposta nos geradores eólicos, que estão a ser rapidamente semeados, por todo o país. No aproveitamento do vento, que em Portugal abunda, contamos com um homem altamente qualificado, o Eng. Carlos Pimenta, um barreirense que tem sido o maior impulsionador do aproveitamento da energia eólica entre nós, desde há bastantes anos.

Haverá ainda que contar com geradores solares, clássicos ou de novas gerações, em especial para uso doméstico. Todavia, a nova legislação portuguesa já permite que excedentes dessas fontes possam vir a ser injectados na rede eléctrica nacional, com lucros para os respectivos proprietários. Aguarda-se agora a entrada em funcionamento das centrais solares do Alentejo, para testar o seu rendimento real. Também o aproveitamento da força das marés está a ser alvo de novos estudos, e as centrais de biomassa estão já a ser instaladas.

Enfim, um futuro muito menos negro pode estar à vista em Portugal, graças a uma visão bastante mais científica do tema das energias renováveis, com consequente viragem da visão política destes problemas. Com isso, os nossos filhos e netos irão decerto beneficiar de forma sustentada, pagando facturas bastante menores, quer nos consumos, quer nos estragos ambientais.

E calculo que, tal como nós, eles continuarão a dizer:

“Nuclear, não, obrigado !!”

- “Miguel de Sousa” -

Nenhum comentário: