“Minha vontade é de não sair mais de casa e estou com dificuldades até para trabalhar. Por mais que os meus amigos me dêem força e me chamem para sair à noite eu não tenho vontade porque ainda penso muito nela. Somente a ajuda da minha família está fazendo com que eu fique melhor a cada dia”. O depoimento do médico Franklyn Germano, 33 anos, que há menos de duas semanas rompeu um namoro de quase dois meses, retrata uma realidade não comum no sexo masculino.
Por mais que estejam sofrendo com o fim de um relacionamento, muitos homens preferem “mascarar” os seus sentimentos, adotando uma postura de que não estão sofrendo ou sentindo falta da outra pessoa. O psicólogo Lúcio Coutinho diz que esse comportamento se baseia na necessidade de auto-afirmação, exigência “cultural” que se incorporou ao universo masculino ao longo dos tempos.
“A cultura machista deixou como legado para o homem a afirmação de que ele sempre tem que estar fugindo dos seus sentimentos pois não pode ter contato com eles. Por mais que esteja sofrendo, ele tem que fingir que está tudo bem e que a situação está sob controle. Este processo não é sadio pois todo ser humano precisa enfrentar os seus sentimentos e dores para que haja um crescimento e uma evolução do indivíduo como pessoa”, explicou.
As explicações dadas pelo psicólogo refletem bem a realidade do estudante Juliano Ferreira dos Santos, 25 anos, que rompeu o namoro há cerca de três meses. Depois de quase três anos de relacionamento com uma mulher mais velha, eles acabaram por causa de uma desconfiança da parte dela. Apesar de estar sofrendo, o rapaz diz preferir não demonstrar os seus sentimento para não se “sentir rebaixado”.
“A desconfiança partiu dela e, como eu não fiz nada, não quero que pense que eu estou morrendo por causa do fim da nossa história. Queria muito que nós voltássemos, mas estou seguindo a minha vida pois acho que não preciso me rebaixar numa situação como essas. Se ela me quiser de volta ela me procura e a gente conversa novamente”, declarou.
Juliano não considera a sua atitude um ato machista e diz que se trata de ter amor próprio. “Cada um sabe do seu limite e não combina comigo ficar chorando pelos cantos e falando sobre este assunto a todo instante. Ainda estou apaixonado, mas creio que ela tem maior parcela de contribuição pelo fim do relacionamento e, por isso, deve me procurar para resolvermos tudo”, disse.
O micro empresário Reginaldo dos Santos, 28 anos, diz não acreditar em homens que se dizem sofrendo por causa do fim de um relacionamento. Segundo o rapaz, eles e elas encaram os sentimentos de forma diferente e, por causa disso, não dá para dizer que os homens estão propensos este tipo de sofrimento. “Por mais apaixonados que estejam, eles não conseguem se ligar dessa forma. Quando vêem um relacionamento indo por água a baixo logo procuram outra para ‘se curar’”, declarou.
Ele conta que, há dois anos atrás, rompeu um relacionamento e, apesar de estar interessado, procurou não demonstrar o sentimento.
“Queria ficar com ela, mas como não tinha jeito, não vi motivo para ficar sofrendo. Além do mais, o homem é, por natureza, um ser que gosta de aventura e, por isso, não perde tempo. No meu caso, logo tratei de ligar para outras pretendentes e tudo se resolveu. Homem que diz que fica sempre sofrendo e fazendo de tudo para voltar, na verdade nem merece atenção dessa mulher”, afirmou.
“A ajuda dos amigos é importante”
A história do fim do relacionamento de Franklyn começou há pouco mais de um mês, quando a namorada, que mora em Natal (RN), recebeu a ligação de uma “amiga” do casal. “Ela ligou para a minha namorada dizendo que ficasse atenta pois tinha muita gente dando em cima de mim aqui em João Pessoa. Bastou isso para que o relacionamento entrasse em uma crise que acabou no nosso rompimento. Estou sofrendo muito”, contou.
O médico admite ter uma parcela de culpa no fim da história e se diz arrependido. “Deveria ter tido mais paciência ao falar com ela. Sei que as mulheres geralmente acreditam mais umas nas outras. Quando ela começou a insistir que eu estava com uma outra pessoa eu deveria ter negado com mais veemência e tentado convencê-la de que não passava de um mal-entendido. Na segunda vez que discutimos eu saí com raiva e não voltei mais porque fiquei indignado com tanta desconfiança”, afirmou.
Nem mesmo as ligações de outras pretendentes e a força dos amigos conseguiu fazer com que ele se animasse mais. “Duas meninas já me ligaram chamando para sair e eu não topei porque acho que esse não é o momento. Apesar de tudo, acredito que ainda poderemos ficar juntos e é isso que tem feito com que eu ainda me sinta muito ligado a ela. A ajuda dos meus amigos tem sido essencial e creio que sairei dessa situação tão desagradável”, disse. Para a “amiga” que semeou a discórdia sobrou o arrependimento. Franklyn diz que é sempre procurado por ela que pede desculpas e diz que está com a consciência pesada.
“Eles não devem mascarar a dor”
O psicólogo Lúcio Coutinho diz que os homens não devem “mascarar” os seus sentimentos quando terminam um relacionamento. Segundo ele, essa atitude revela imaturidade e reafirma a posição machista de necessidade de auto-afirmação. “Eles têm muita dificuldade de entrar em contato com os seus próprios sentimentos, com a dor que aquele rompimento causa na pessoa. Os homens acham que é necessário demonstrar, a todo custo, que está tudo bem e fazem isso através das saídas à noite e da bebida exagerada, por exemplo. É uma forma de extravasar sem, no entanto, revelar realmente o que estão sentindo”, disse.
De acordo com ele, o melhor mesmo procurar tirar boas experiências e lições do sofrimento e, caso não se esteja sabendo lidar com ele, procurar ajuda especializada. Um aspecto destacado pelo psicólogo é de que os dois (independente do motivo ou de quem partiu a decisão) têm uma parcela de contribuição para o fim do relacionamento. “Isso é importante deixar claro pois as pessoas sempre estão achando que a culpa é somente do outro. Como se trata de um relacionamento a dois, não dá para dizer que uma pessoa fez tudo certo e que somente a outra está errada”, explicou. Um outro ponto levantado por ele foi a necessidade de preservar os filhos para que eles sofram menos com o problema. “Eles estão na lista dos que mais sofrem com uma situação como essas. É preciso minimizar ao máximo o sofrimento que eles passam nesta fase e, por isso, preserva-los é uma grande idéia”, afirmou Lúcio Coutinho.
Fernando de Oliveira
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