Em 1948, aos 56 anos de idade, o escritor Graciliano Ramos compôs, com frases secas e diretas, o seu auto-retrato. O texto abre o site oficial sobre o “Velho Graça”, como era chamado. O curioso é que, falando dele mesmo, escreve na terceira pessoa como se estivesse fazendo anotações biográficas de um sujeito qualquer:
O Cem Réis de Prosa repassa esta preciosidade aos leitores. Vejam como Graciliano se auto - definia:
Nasceu em 1892, em Quebrangulo, Alagoas.
Casado duas vezes, tem sete filhos.
Altura 1,75.
Sapato nº 41.
Colarinho nº 39.
Prefere não andar.
Não gosta de vizinhos.
Detesta rádio, telefone e campainhas.
Tem horror às pessoas que falam alto.
Usa óculos.
Meio calvo.
Não tem preferências por nenhuma comida.
Não gosta de frutas nem de doces.
Indiferente à musica.
Sua leitura predileta: a Bíblia.
Escreveu “caetés” com 34 anos de idade.
Não dá preferência a nenhum dos seus livros publicados.
Gosta de beber aguardente.
É ateu.
Indiferente à Academia.
Odeia a burguesia.
Adora crianças.
Romancistas brasileiros que mais lhe agradam: Manoel António Almeida, Machado de Assis, Jorge Amado, José Lins do Rego, e Rachael de Queiroz.
Gosta de palavrões escritos e falados.
Deseja a morte do capitalismo.
Escreveu seus livros pela manha
Fuma cigarros “Selma” (três maços por dia)
É inspetor de ensino, trabalha no “Correio da Manhã”
Apesar de o acharem pessimista, discorda de tudo.
Só tem cinco ternos de roupa, estragados.
Refaz seus romances várias vezes.
Esteve preso duas vezes.
É-lhe indiferente estar preso ou solto.
Escreve á mão.
Seus maiores amigos: Capitão Lobo, Cubano, José Linz do Rego e José Olympio.
Tem poucas dividas.
Quando prefeito de uma cidade do interior, soltava os presos para construírem estradas.
Espera morrer aos 57 anos.
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