sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

"Entre o ser e as coisas”

Onda e amor, onde amor, ando indagando
Ao largo vento e à rocha imperativa,
E a tudo me arremesso, nesse quando
Amanhece frescor de coisa viva.

As almas, não, as almas vão pairando,
E, esquecendo a lição que já se esquiva,
Tornam amor humor, e vago e brando
O que é de natureza corrosiva.

Na água e na pedra amor deixa gravados
Seus hieróglifos e mensagens suas
Verdades mais secretas e mais nuas.

E nem os elementos encantados
Sabem do amor que os punge e que é, pungindo,
Uma fogueira a arder no dia findo."

Carlos Drummond de Andrade

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