Outra vez, a vida real finge ser romance.
O episódio vivido pelo adolescente que usou fantasia de ninja na internet para fazer ameaças aos colegas tanto poderia estar nas páginas de Raul Pompéia em O Ateneu quanto nos capítulos de Robert Musil em As desventuras do jovem Torless.
Nunca saberemos o seu nome. Melhor assim. Guarde as suas magoas no anonimato, embora sejam estas de domínio publico. E estão longe de ser desgostos de ficção. Esse menino sofria de verdade. E agora deve estar sofrendo ainda mais.
Nunca conseguiu entender essa com`pulsão instintiva, aparentemente congênita dos mais jovens pelo sofrimento do outro. Os apelidos que flagelam, as referencias que humilham, as alusões que degradam para mim sempre foram, desde os tempos de escola, um grande mistério na trama biográfica de personagens que jamais foram ficção.
O prazer em testemunhar essas flagelações publicas muitas vezes não se inibe em realçar um preconceito, em expor um defeito físico ou uma amargura sepultada de família que a crueldade dos demais faz de tudo para exumar.
No final quanto mais triste, mais divertido.
E quanto mais resistência esboçar o ofendido, mais sucesso terá o escárnio.
Alvo fácil da chacota e do desapreço, tudo quanto esses meninos queriam na vida era passar despercebidos. Numa idade em que todos querem ser notados, admirados, idolatrados. Todos, menos os ultrajados. Os psicólogos, naturalmente, sabem disso. E, por certo, não abandonarão o moço nesta hora. Mas como será a convivência deles todos doravante? Terá servido de lição o triste evento?
Penso que é hora dos colégios começarem a planejar mais atividades de relacionamento verdadeiro. Algo que pretenda festejar mais do que um simples golo numa partida de futebol e que seja mais efusivo do que as imagens gravadas no orkut.
Aristóteles ensinava aos seus alunos caminhando pelas alamedas ensolaradas do seu tempo. A escola moderna vê-se cada vez mais emparedada pelos recursos tecnológicos, pelo confinamento dos muros altos, apartada como nunca do mundo da natureza. O universo virtual da internet é a única natureza que esses jovens conhecem.
Tanto é verdade que foi nesse mesmo lugar que o menino triste vestindo de ninja ganhou coragem de contar as suas magoas paradas no único mundo que ele conhece. E de pedir, à maneira dos meninos tristes, que os seus colegas não o magoassem mais.
“Luiz Augusto Crispim”
sexta-feira, 18 de janeiro de 2008
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