A adolescente mira o espelho coma reprovação e rejeita o original que, por acaso, vem a ser ela mesma.
Agora, que está completando dezoito anos, vai fazer a sua primeira cirurgia plástica, na esperança de que o medico possa esculpir sobre a sua própria pele aquilo que a Criação lhe negou.
Assim é a criatura humana. Insatisfeita com a imagem que ganhou de graça, não vacila em pagar caro por uma reforma que lhe garanta uma bela aparência, ainda que não seja de origem verdadeira.
Mas quem se importa com a verdade?
Importante, mesmo, é a aparência, o que se vê na foto oficial pendurada na parede ou na imagem glamurosa enviada à coluna social. Não tem a menor importância que o fotografo seja um tirano da pior extração, nem muito menos que a socialite não passe de uma superprodução inverossímil do seu maquiador.
A bem da verdade, as pessoas valem pelo exterior que elas podem mandar pendurar na parede ou que conseguem sorrir diante de um flash disparado pela câmera da noite anterior. A vida é ribalta em que cada um interpreta a farsa que escolheu para si. Desde que salve a aparência do cartaz que o anuncia lá fora.
E como o visual já não se submete mais às leis do acaso, nem muito menos às combinações aleatórias do DNA, os incomodados mudam de cara, simplesmente.
Curioso, meu caro. Ou muito me engano, ou o espírito humano deve ser tomado como caso perdido.
De fato, nunca vi ninguém se sentir incomodado pelas deformidades do próprio caráter. A menos que você conheça alguém que entregou alma ao bisturi competente de um Pitanguy da decência, com talento suficiente par regenerar o tecido moral de um embusteiro ou corrigir o nariz pinoquiano de algum mentiroso deslavado.
O poeta Augusto continuará clamando no deserto do seu soneto.
Tome, doutor, a sua tesoura e corte.
A minha singularíssima pessoa.
Que me importa a mim que a bicharia roa todo o meu coração depois da morte?
O coração roído pela bicharia depois da morte não é nada, Poeta Maior. Horrendo é o destino dos que não podem dar jeito às almas condenadas a apodrecer em vida, sem direito sequer a uma lipoaspiração do caráter custeada pelo SUS da moral.
“Luiz Augusto Crispim”
sexta-feira, 18 de janeiro de 2008
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