sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

“SERGIO, UM VOYEUR”

Sergio um voyeur, disso tudo fica a noção de que toda a obra é um imenso painel de flagrantes obtidos a partir de uma lógica linear de referencias polimorfas. Tem-se, por exemplo, no poema “A Coruja” a percepção de um mundo encerrado no próprio sujeito observado, mas que não se encerrado nele:

São todo ouvidos
Os teus olhos
De vigília.
Olhos acesos
Luzeiros
De sabedoria.
Olhos atentos
À geografia
Do dentro.
És uma concha.
Um encorujado
Caramujo

Monja em voto de silencio.
Essa dinâmica formal assente no meio das duas extremidades do universo poético de Castro Pinto, haverá de se estender por toda a sua obra numa espécie de movimento pendular testemunhado seja por olhos voltados para os segredos em concha, seja para trancafiar o cosmo que sorevive ao seu olhar:

Na verdade, nessa venturosa perseguição à palavra, são pouquíssimos os que conseguem tantos flagrantes...

Dou duas voltas
na chave
da porta
e trancafio
a paisagem
lá fora

Na verdade, nessa venturosa perseguição à palavra, são pouquíssimos os que conseguem armar tantos flagrantes, engastar tantas preciosidades em arremates tão perfeitos.
Nesta pequena primavera que acaba de desabrochar sobre a minha mesa de trabalho, estes cristais do verão, imprevisíveis e verdadeiros, sabem ao melhor dos sabores que qualquer estação teria a me oferecer neste momento da vida.
E Sergio sabia disso!

“Luiz Augusto Crispim”

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